A Brasileira
© Lydia Evans / Time Out
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Almada Negreiros. Roteiro para ser moderno em Lisboa

É difícil bater o espírito de vanguarda do mestre dos sete ofícios, mas pode admirar algumas das paragens essenciais na vida e na obra de José de Almada Negreiros. Venha daí, do Chiado à Gulbenkian, ao palco da exposição "Uma maneira de ser moderno".

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Desenhou, pintou, escreveu, declamou. Tanto e tão bem que é de fazer corar os pós-modernos. Até 5 de Junho, a Fundação Calouste Gulbenkian dedica a Almada uma mostra com cerca de 400 peças assinadas por um dos mais relevantes nomes do panorama cultural português. Regresse ao futurismo do século XX com uma paragem neste espaço expositivo e em sete outras moradas obrigatórias da cidade de Lisboa. 

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Almada expõe individualmente pela primeira vez em 1913, na Escola Internacional, apresentando 90 desenhos. É por esta altura que estabelece contacto com uma das figuras indissociáveis do seu trajecto, Fernando Pessoa, na sequência da crítica à exposição que este publica em A Águia. Nesse mesmo ano, o jovem artista participa na II Exposição dos Humoristas Portugueses, sendo apresentado o Grémio Literário, instituição fundada em 1846 e que resiste no coração do Chiado, como o cenário escolhido para o efeito. Almada Negreiros colabora como ilustrador em jornais, despacha a sua primeira obra poética, prepara o primeiro projecto de bailado (O Sonho da Rosa), desenha o primeiro cartaz ("Boxe"). Chegado à agitada Lisboa de 1914, colabora como director artístico no semanário monárquico Papagaio Real.

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É uma das criações de Almada que mais assoma à memória quando se fala de pintura. Auto-retrato num grupo evoca as tertúlias do café A Brasileira. E se hoje parece mais um pouso para turistas, com a indispensável fotografia ao lado de Pessoa, tempos houve em que a casa rivalizava com as melhores galerias, na época escassas ou praticamente inexistentes. Em 1925, à boleia de uma remodelação, o proprietário encomendou uma série de pinturas modernas para forrar as paredes. O óleo sobre tela As Banhistas foi outro dos contributos de Almada. Em 1971, as obras seriam rendidas por outros exemplares mais actuais. Antes, muitos anos antes, já a história se fazia escutar por aqui. Em 25 de Março de 1915, sob enorme polémica, chegava às bancas o primeiro número da revista Orpheu. Foi nas imediações d'A Brasileria, na noite da véspera, que se leram trechos de "Ode Triunfal".

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  • Chiado

Apostamos que não faz ideia da quantidade de nomes que este teatro já teve, até se fixar em São Luiz, já no decénio de 70 do século XX. Foi inaugurado em 22 de Maio de 1894, como Teatro Dona Amélia, à época rainha de Portugal, com um ar parisiense e cosmopolita, não fosse esse um projecto do arquitecto francês Louis Reynaud. Com a queda da monarquia e fuga da família real em 1910, foi rebaptizado como Teatro da República. Foi nesta casa, em 1917, que Almada Negreiros protagonizou a conferência "Ultimatum Futurista" às Gerações Portuguesas do Século XX. Precisamente um século volvido, as conferências continuam a fazer parte da ementa do teatro.

  • Museus
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Ainda em 1917, o nosso Narciso do Egipto, como ficou conhecido, colabora no único número da revista Portugal Futurista e publica a novela "K4 O Quadrado Azul". Mais curioso é o pacto que firma com os amigos e companheiros de estrada Amadeo e Santa-Rita Pintor. O trio compromete-se a estudar os "Painéis de São Vicente de Fora", de Nuno Gonçalves, mas apenas Almada Negreiros se revela empenhado nesta missão. A obsessão estende-se pelo menos até 1926, quando publica no Diário de Notícias "A Questão dos Painéis", a história de um acaso, de uma importante descoberta e do seu autor. Vale sempre a pena reproduzir a imagem associada a este texto. Passe pelo Museu Nacional de Arte Antiga e confira esta obra única.

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Estamos no decénio de 30 do século XX, quando Almada realiza os primeiros estudos para os vitrais da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, nas Avenidas Novas. Enceta, assim, a sua colaboração com o arquitecto Pardal Monteiro. Até à aurora dos anos 40 do mesmo século, faz o que melhor sabe: dedicar-se a uma multiplicidade de tarefas. Executa pinturas, publica desenhos, ilustrações, poesias, ensaios e romances, realiza conferências e palestras, colabora com frescos e vitrais em diversos edifícios, casos do pavilhão da Colonização da Exposição do Mundo Português e do edifício do Diário de Notícias, Lisboa, projectado por Pardal Monteiro.

  • Museus
  • São Sebastião

É já em 1952 que o artista expõe individualmente na Galeria de Março, assinalando a inauguração deste espaço. No mesmo ano, participa na Exposição de Arte Moderna, em Lisboa. E se em 1954 trata do primeiro esboço do Retrato de Fernando Pessoa para o restaurante Irmãos Unidos, três anos mais tarde alinha na Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, morada que agora lhe dedica a exposição que aqui nos traz. De visita, não se esqueça de conferir o famoso painel "Começar" (1968-69), com a sua pedra gravada, um emblema do átrio de entrada do edifício-sede da Fundação. Depois daquela mostra, Almada daria continuidade à sua parceria com Pardal Monteiro. Até 1961, realizou grandes painéis decorativos para as fachadas de vários edifícios da Cidade Universitária de Lisboa.

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  • Avenida da Liberdade/Príncipe Real

É uma das instituições mais antigas da cidade e podemos dizer que o sonho da geração de Malhoa, que em 1901 foi o seu primeiro presidente, tornou-se realidade. Por aqui passaram pintores, escultores, arquitectos, designers, historiadores e críticos de arte com uma palavra a dizer no panorama nacional. Razão para dizer que a história da arte contemporânea se cruza com o trajecto da própria Sociedade. Almada expôs aqui em 1963, ano em que é homenageado por ocasião do seu septuagésimo aniversário.

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  • preço 4 de 4

Encomendas e diferentes actividades marcam os últimos anos de produção de Almada Negreiros. Tapeçarias? Pois sim, quando falamos de diversidade não estamos aqui para enganá-lo. O artista elaborou-as para a Exposição de Lausana, para o Tribunal de Contas e para o Hotel Ritz, em Lisboa, que nasceu em 1959, com uma badalada festa de inauguração e 2000 convidados. O espaço replicava a decoração exuberante e o serviço exemplar dos congéneres franceses, com Pardal Monteiro a assinar o projecto do edíficio, mais um sobrevivente de luxo do século passado. Sem dinheiro para se instalar neste marco histórico da cidade? Fique-se pela visita aos salões com chão de mármore, candelabros imensos, mobília dourada, arranjos de flores que ocupam mesas inteiras e colecções de arte antiga e contemporânea cuja história pode conhecer mais detalhadamente através da app do hotel. No decénio de 60, Almada rubrica ainda as suas derradeiras participações no teatro, com cenários para o Auto da Alma, de Gil Vicente, no Teatro Nacional de São Carlos.

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Enamorar-se de uma peça de design nórdico e aproveitar para ver o que está exposto nas paredes de uma loja no Cais do Sodré. Ir fazer compras à Mouraria e encontrar ilustrações no lugar de um antigo minimercado. Passear por Santos e acabar entre arte contemporânea e tatuagens. Todos estes cenários são possíveis e há muitos mais a descobrir na Lisboa de todas as artes. Venha daí. 

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