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Os poetas que escreveram sobre Lisboa

Para assinalar o Dia Mundial da Poesia, relembramos alguns dos poetas que escreveram sobre a cidade de Lisboa

Raquel Dias da Silva
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Lisboa é berço e casa de muitos dos poetas que agora dão nome a praças, ruas e travessas. No Chiado, há uma estátua de Fernando Pessoa, ao pé d'A Brasileira, onde o poeta gostava de ir beber a sua bica; e outra ainda de Luís Vaz de Camões, esta na praça que lhe dá memória. Já o Miradouro da Graça transformou-se no de Sophia de Mello Breyner Andresen, em homenagem à poetisa. Depois há o estudo obrigatório dos seus hábitos citadinos e das suas antigas moradas, as transformadas em museus e as que continuam a ser habitadas por gente de carne e osso. Por isso, no Dia Mundial da Poesia, recordamos alguns dos poetas que escreveram sobre esta cidade à beira-Tejo plantada.

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Os poetas que escreveram sobre Lisboa

Sophia de Mello Breyner Andresen

Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999, o mesmo ano em que foi promulgado o Dia Mundial da Poesia. Cinco anos depois, Sophia deixou este mundo, mas o seu corpo repousa no Panteão Nacional, desde 2014, ano em que o Oceanário de Lisboa também colocou alguns dos seus poemas para leitura nas zonas de descanso da exposição permanente. É que o berço de Sophia pode ter sido o Porto, mas foi em Lisboa que viveu a maior parte da sua vida. O primeiro andar do número 57 da Travessa das Mónicas, entre a Rua de São Vicente e o Largo da Graça, reclamará para sempre a sua presença, entre um café e um cigarro, companhias imortalizadas na fotografia de Eduardo Gageiro. Na Graça, deu ainda nome ao miradouro. Era aí que escrevia muitos dos seus poemas sobre a capital. “Ao virar da esquina de súbito avistamos/ Irisado o Tejo:/ Então se tornam/ Leve o nosso corpo e a alma alada”.

Fernando Pessoa

O mais universal dos poetas portugueses foi sobretudo um homem de muitos ofícios. Desdobrando-se em inúmeras vidas, conheceu muito mais que um endereço alfacinha, saltitando de tecto em tecto. Em 1925, não resistiu aliás a escrever um roteiro turístico por Lisboa, com a intenção de divulgar ao mundo o que de mais interessante a capital portuguesa tem para oferecer. “Para o viajante que chega por mar, Lisboa, vista assim de longe, ergue-se como uma bela visão de sonho, sobressaindo contra o azul vivo do céu, que o sol anima. E as cúpulas, os monumentos, o velho castelo elevam-se acima das casas, como arautos distantes deste delicioso lugar, desta abençoada região”, diz logo nos primeiros parágrafos. E descreveu-a ainda, muitas vezes, nos seus poemas, de olhos postos sobretudo no Tejo: “Pelo Tejo vai-se para o Mundo/ Para além do Tejo há a América/ E a fortuna daqueles que a encontram./ Ninguém nunca pensou no que há para além/ Do rio da minha aldeia.”

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Luís de Camões

O português é conhecido como “a língua de Camões”, mas pouco se sabe sobre a sua vida. Aparentemente nasceu em Lisboa, frequentou a corte de D. João III, iniciou a sua carreira como poeta lírico e diz-se que, por conta de um amor frustrado, autoexilou-se em África, onde perdeu um olho em batalha. Voltando a Portugal, feriu um servo do Paço e foi preso. Viajou ainda para o Oriente e colecionou muitas outras aventuras antes da publicação da sua obra mais conhecida, a epopeia nacionalista Os Lusíadas, onde se pode ler: “Ulisses é, o que faz a santa casa/ À deusa que lhe dá língua facunda;/ Que se lá na Ásia Troia insigne brasa,/ Cá na Europa Lisboa ingente funda” (Canto VIII, estância 5). Em 1580, despediu-se da vida no número 139 da Calçada de Santana, quase 20 minutos a pé da praça e do largo que lhe herdaram o nome, no Chiado. Em sua homenagem, há ainda uma escola e um teatro, agora apelidado carinhosamente de LU.CA, que não é diminutivo de Luís de Camões, mas podia ser.

Ary dos Santos

“Poeta de Abril”, deu voz a muitas canções que o povo sabia de cor. No poema A cidade, para além da forte componente revolucionária, nota-se o amor de Ary pela cidade que o viu crescer: “A cidade tem praças de palavras abertas/ como estátuas mandadas apear./ A cidade tem ruas de palavras desertas/ como jardins mandados arrancar./ A palavra sarcasmo é uma rosa rubra./ A palavra silêncio é uma rosa chá./ Não há céu de palavras que a cidade não cubra/ não há rua de sons que a palavra não corra/ à procura da sombra de uma luz que não há.” Alfacinha de gema, o seu nome foi dado a um largo do Bairro de Alfama, descerrando-se uma lápide evocativa na fachada da sua casa, o número 23 da Rua da Saudade, onde viveu praticamente toda a sua vida. Depois de morrer, em 1984, a sua irreverência foi homenageada em canção por uma banda tributo, que actuou nos coliseus em 2010.

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Cesário Verde

Natural de Loures, evitou o lirismo tradicional e usou técnicas impressionistas para retratar a cidade e o campo. O pai era lavrador (tinha uma quinta em Linda-a-Pastora) e comerciante (estabelecido com uma loja de ferragens na baixa lisboeta). Foi por essas duas actividades práticas que repartiu a vida, ao mesmo tempo que ia alimentando o seu gosto pela leitura e pela criação literária, embora longe dos meios oficiais, com que nunca se deu bem, o que o levou, por exemplo, a abandonar o Curso Superior de Letras, que frequentou entre 1873 e 1874. Faleceu precocemente, vítima de tuberculose, em 1886; e a Câmara Municipal de Lisboa homenageou-o, em 1933, dando o seu nome a uma rua na Penha de França. Sobre a cidade, escreveu, por exemplo, O Sentimento dum Ocidental: “Nas nossas ruas, ao anoitecer,/ Há tal soturnidade, há tal melancolia,/ Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia/ Despertam-me um desejo absurdo de sofrer”.

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