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Criptoarte e NFTs parecem conceitos para iniciados – e são. Por isso, vamos começar pelo início para perceber o que são, como estão a mexer com o mercado da arte e porque estão algumas peças a atingir valores fenomenais. No final, quem sabe, ainda acaba a trocar a pintura que tem lá em casa por um ecrã com uma peça de arte digital.
Os números impressionam. Estima-se que o mercado de NFTs tenha registado um crescimento de 705% em 2020, passando a valer 338 milhões de dólares (cerca de 280 milhões de euros), de acordo com um relatório da NonFungible, uma empresa especializada na análise de dados de NFTs. Estes NFTs, ou tokens não fungíveis, são nada mais nada menos do que conteúdos digitais – 2D ou 3D de qualquer extensão, JPG, PNG, OBJ, etc. – acompanhados por um certificado de autenticidade que não pode ser modificado.
Ou seja, tal como as obras de arte tradicionais têm a assinatura do artista e outras características que podem comprovar a sua autenticidade, agora também as obras digitais têm um registo que lhes dá um carácter único. Isto significa que, mesmo que esteja a circular na internet um milhão de cópias de uma obra de arte digital, é possível saber exactamente qual é a original e quem a detém. E quem é que não gosta de ter o produto genuíno?
Os NFTs vão, no entanto, muito além das obras de arte digitais. Podem ser acessórios utilizados em videojogos, tweets ou até memes. O GIF do Nyan Cat, de Chris Torres, publicado no YouTube há uma década, foi vendido em Fevereiro por 590 mil dólares (cerca de meio milhão de euros). Mas então, se o pesquisarmos no Google, não o encontramos? Sim. Tal como encontramos um sem-número de cópias da “Mona Lisa”. Nenhuma é a original que está exposta no Museu do Louvre, em Paris. Controverso? É.
“Empoderar os artistas” O certificado de autenticidade dos NFTs não é a única coisa que ajuda a proteger a propriedade intelectual do autor. Estas obras digitais incluem também um contrato “inteligente” feito pelo artista que define a quem é vendido o NFT, ou qual o valor dos royalties (o valor que o artista recebe sempre que a peça for vendida). “Acho que os NFTs vêm empoderar os artistas porque lhes dão o poder de escolher como vender a sua arte e lhes permite receber royalties sempre que a peça for vendida”, explica Steven Mackay, presidente da Arroz Estúdios, no Beato, onde decorreu o primeiro festival de criptoarte da Europa, o Rare Effect Vol2, em Maio. “E dá mais segurança aos artistas, já que todas as transações podem ser rastreadas e é possível consultar a quem foi vendido o NFT e por quanto, o que torna mais difícil o roubo e a falsificação de arte.”
A criptoarte é um mundo que está a atrair cada vez mais artistas, muitos dos quais ligados à arte convencional (ou palpável). É o caso do escultor Miguel Rodrigues. “Interessei-me pela arte digital pensando que podia vir a ser mais um meio para trabalhar e mais uma forma de explorar as minhas ideias”, diz. Com a ajuda do Grandpa’s Lab, um estúdio de criação digital no Porto, uma das suas esculturas foi transformada num NFT e exibida no Rare Effect Vol2. “Havia a peça física, que era a escultura, e depois tínhamos agregado uma representação digital da escultura, mas com movimento, sem nenhuma tirar importância à outra”, lembra Pedro de Castro, manager e produtor na Grandpa’s Lab
Foi esta mistura entre o físico e o digital que juntou no Beato um público heterogéneo, interessado tanto pela criptoarte como pela arte convencional. “A criptoarte trouxe uma coisa muito interessante: um novo cliente que não existia para as obras de arte. Pelo que tenho visto, muitos coleccionadores de criptoarte não eram coleccionadores de obras de arte tradicional. Houve isso na Arroz [Estúdios], coleccionadores que iam pelas obras de arte digitais e depois ficavam também muito interessados nas físicas e vice-versa”, observa Miguel Rodrigues.
Outra das vantagens dos NFTs? A portabilidade. Uma escultura, por exemplo, é difícil de transportar. O NFT dessa escultura, não. Pode até ser vendido a um comprador no outro lado do planeta e enviado em segundos.
Nova realidade ou bolha especulativa? Aqui é que a porca torce o rabo. Há quem ache que a criptoarte vem abrir um novo capítulo na história da arte, e quem olhe para ela como um conceito especulativo e de nicho. Mas há um ponto em que todos concordam: ainda é cedo para tirar conclusões.
“A criptoarte vai mudar o paradigma da arte e da nossa relação com ela, que era muito estática”, diz o artista plástico Miguel Rodrigues. Pedro de Castro acrescenta que a criptoarte até “pode ajudar a criar novos públicos”. “Há pessoas que não vão a museus, mas já consomem arte a partir dos ecrãs.” Steven Mackay vai ainda mais longe, falando num “novo conceito de propriedade, que veio para ficar e que ainda está só no início”. Isto explica a aposta da Arroz Estúdios nesta área, através do festival e de projectos para o futuro que pretendem fazer de Lisboa um pólo de artistas e curadores interessados em NFTs. “O nosso objectivo a longo prazo é criar uma galeria permanente de NFTs em Lisboa”, revela Mackay.
Nem todos estão assim optimistas. “Não me parece que haja, para já, uma proposta artística coerente [de criptoarte]”, avalia Emília Tavares, curadora de fotografia e novos media do Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado. “E até me parece paradoxal porque à partida tudo o que está na internet é para promover a democratização do acesso e a criptoarte vem fazer exactamente o contrário, sendo muito exclusivista, elitista e especulativa do ponto de vista financeiro.”
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Em murais, teatros, restaurantes e até em pedras é possível encontrar obras de Vhils. Agora, o artista chega ao mundo dos NFTs. “Rupture” é a mais recente peça leiloada como NFT através da plataforma MakersPlace. Trata-se de um vídeo que captura o momento exacto em que rebentam os explosivos que usa para fazer as suas obras. São 2000 frames por segundo que mostram, em câmara lenta, uma perspectiva única.
Para o 18.º aniversário da edição diária, o Jornal de Negócios transformou a primeira tira do cartoon SA num NFT. A tira, de Luís Afonso, e publicada a 2 de Junho de 2003, esteve exposta no Rare Effect Vol2. Depois, foi leiloada. O valor angariado foi doado às Aldeias de Crianças SOS Portugal. Esta aposta deu ao Negócios o título de primeiro jornal português a participar num leilão de NFTs.
O humorista lançou em Junho um emoji de máscara mal posta que foi a leilão na plataforma Rarible. A peça, com o nome “NFT do César Mourão”, inclui duas versões do emoji: uma com a máscara debaixo do queixo e outra com a máscara pendurada numa das orelhas. A inspiração, disse, veio do “nacional-porreirismo” e do também tão luso “logo se vê”.
Jorge Mendes
Depois de Éder ter leiloado uma versão digital da chuteira com que marcou o golo na final do Euro 2016, é a vez de Jorge Mendes apostar nos itens não fungíveis. A proposta é uma espécie de cartas tradicionais de futebol, mas digitais e com dados estatísticos dos atletas, imagens, gráficos e uma entrevista em vídeo. Entre os dez jogadores disponíveis, estão Pepe, João Félix ou Rúben Dias. O valor? 2900€ por um pacote de cartas de um jogador.
Edifícios relativamente novos, com linhas que são uma perdição para a fotografia, e clássicos da cidade que patrocinam autênticas viagens no tempo. Destacam-se ainda os inúmeros e regulares workshops e eventos que promovem para adultos e crianças, bem como as cafetarias e brunches que também são pequenas obras de arte. Deixamo-lo com uma visita guiada aos melhores museus da cidade, dando razões para redescobrir endereços obrigatórios e ideias para explorar colecções surpreendentes e que, por vezes, passam despercebidas.
Vhils, Bordalo II, Aka Corleone, Smile, ±MaisMenos±, Tamara Alves ou Mário Belém são alguns dos nomes mais sonantes neste roteiro de arte urbana em Lisboa. A eles juntam-se artistas de todo o mundo, que escolhem Lisboa para servir de tela aos mais variados estilos e mensagens. Se por um lado Lisboa está em guerra com taggers com pouco talento para a coisa – e que fazem questão de espalhar assinaturas por tudo quanto é sítio –, por outro a cidade é cada vez mais um museu a céu aberto de belíssimas obras de arte urbana.
Acha que não se passa nada em Lisboa este fim-de-semana? Qual quê. Há muitas exposições para provar que está bem enganado, até porque a cultura precisa de ser reanimada. Portanto, torne os próximos dias mais culturais, sozinho ou com a família toda atrelada (há exposições kids friendly). Com tantos museus e galerias na cidade, é impossível não ter o que ver. Mas não queremos que se perca e, por isso, dizemos-lhe quais as exposições a que deve prestar atenção em Lisboa. Não há desculpas, só precisa é de ter cuidados: leve o álcool-gel e a máscara e mantenha o distanciamento.
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