Paris, o Parc de La Vilette e o Centquatre


Nestas coisas de transformar espaços vagos em cultura forte, ainda por cima com investimento público, França está no topo. Não vale a pena contestar. O Parc de La Villete, no Nordeste de Paris, tornou-se um exemplo para muitas outras cidades europeias de como pegar em património pesado e submetê-lo à delicadeza das artes. Entre 1867 e 1974, ali funcionou a “cidade do sangue”, concentrando os matadouros e mercados de gado da cidade. Seguiram-se quase dez anos de estudos sobre o que fazer a toda aquela área, até que se decidiu construir uma cidade das ciências, da indústria e da cultura (coisa pouca), além de um grande parque urbano. Em 81, ali actuaram os Rolling Stones, mais tarde criaram-se a Cité de la Musique e Philippe Starck criou o mobiliário urbano para um exterior centrado no verde. Em 87, Miterrand foi lá cortar a fita e, desde sempre, La Villette tem sido palco de dezenas de festivais, instalações 'tecnoartísticas' avant-garde, casa do conservatório de música e de dança, da filarmónica ou até de parte dos Jogos Olímpicos de 2024.
Menos grandioso em tamanho, mas talvez mais potente no campo da experimentação, é o Centquatre. O complexo de tijolo e aço da Rue d’Aubervillieres, que foi um conglomerado de agências e cerimónias funerárias até 1997, assistiu, nos anos 2000, à sua própria revolução. O então presidente da Câmara de Paris, Bertrand Delanoë, decidiu transformar o local num conjunto de 18 oficinas, das artes plásticas à dança, que se ultrapassou a si próprio. Centro de artes e de comunidade, aqui o breakdance convive sem freios com as artes visuais, o circo com a fotografia, os bailes populares com o teatro experimental ou a música com a literatura. De 2010 até Janeiro deste ano foi dirigido pelo português José-Manuel Gonçalves.