escultura no campo pequeno
©Lalupa/Wikipédia
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Roteiro pelas estátuas de mulheres em Lisboa

Apesar de estarem em minoria, há estátuas em Lisboa que celebram mulheres portuguesas. Descubra onde estão.

Renata Lima Lobo
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Por todo o lado, são os homens que se vêem mais representados na arte pública, entre estátuas, monumentos ou memoriais, um reflexo dos principais livros de história. No entanto, a história portuguesa também está representada no feminino, embora em menor número, graças a mulheres que acabaram por marcar o seu tempo. Das artes à política, todas estas mulheres, das mais diversas classes sociais, mereceram homenagem nas ruas da cidade de Lisboa. E muitas mais o merecerão, mas isso já é outra história. Para já, fique com algumas das estátuas de Lisboa que celebram mulheres portuguesas.

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1. Madre Teresa Saldanha

Nasceu nas Portas de Santo Antão, no Palácio da Anunciada, hoje convertido em hotel de luxo. A homenagem a esta religiosa mulher nobre está noutra freguesia, em Arroios, junto ao 147 da Rua Gomes Freire (Arroios), junto à casa onde morreu, em 1916, com 78 anos. Inaugurada em 2016, esta escultura assinada por Rui Pereira presta homenagem a Maria Teresa de Saldanha que foi a fundadora da primeira congregação religiosa feminina em Portugal, a Congregação das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena. Além disso, dedicou a sua vida à educação de crianças pobres e alfabetização de raparigas operárias e fundou escolas, pensionatos e dispensários por todo o país e também no estrangeiro. A sua história dava um livro e em 2015 o próprio Papa Francisco reconheceu as suas "virtudes heróicas", o primeiro passo para a beatificação.

2. Sophia de Mello Breyner Andresen

Nasceu no Porto, mas viveu grande parte da sua vida na Travessa das Mónicas, na Graça, para onde se mudou com a família em 1951. Sophia de Mello Breyner foi a primeira mulher portuguesa a receber o Prémio Camões (1999), o mais importante galardão literário da língua portuguesa, e a segunda mulher a ser transladada para o Panteão Nacional, em 2014, apenas precedida por Amália Rodrigues, em 2001. Este busto em bronze pode ser visto no Miradouro da Graça, oficialmente Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen desde 2008. O busto, aqui chegado um ano após o baptismo do miradouro com o nome da poeta, é uma réplica de um busto em pedra feito nos anos 50 do século passado pelo escultor António Duarte. Mais recentemente, foi inaugurado em Belém um memorial em azulejo em homenagem a Sophia de Mello Breyner, a partir de um projecto da artista plástica Menez. Conheça-o melhor aqui.

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3. Catarina de Bragança

É difícil não olhar para a estátua de D. Catarina de Bragança (1638-1705), erguida no Parque Tejo do Parque das Nações. Talvez culpa dos seus 10 metros de altura, uma obra da artista norte-americana Audrey Flack, que a construiu do outro lado do Atlântico. A história desta mega escultura está envolta em polémica: foi oferecida a Lisboa pela Associação Friends of Queen Catherine, que primeiro a queria ver instalada no seu bairro de Queens em Nova Iorque, para celebrar o facto do bairro dever o seu nome à princesa portuguesa. Isto em finais dos anos 80, mas nos anos que se seguiram o projecto foi alvo de crítica pelos que acusavam a portuguesa, que se tornou monarca britânica, de ter ligações ao tráfico de escravos. O projecto perdeu financiamento municipal, a estátua de bronze acabou derretida sem nunca ter chegado ao destino, mas uma réplica oferecida pela associação a Lisboa atravessou o oceano em 1998. Filha do rei português D. João IV, D. Catarina de Bragança foi também rainha de Inglaterra após o seu casamento com o rei Carlos II. E dizem ter sido esta princesa portuguesa a responsável pela tradição inglesa do chá das cinco.

4. Amália Rodrigues

Amália Rodrigues está eternizada em frente à Cordoaria Nacional, na Avenida Brasília, numa escultura em bronze, assente num pedestal de pedra. A obra, inaugurada a 14 de Abril de 2000, é da autoria de Domingos de Oliveira e foi financiada pela Administração do Porto de Lisboa, pela Câmara Municipal e pelo Governo. Mas a fadista portuguesa vive na memória dos portugueses em mais locais da cidade, por isso espreite este roteiro e parta à descoberta de Amália Rodrigues por Lisboa.

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5. Maria da Fonte

No Jardim da Parada, em Campo de Ourique, encontra uma velha estátua de Maria da Fonte, da autoria de Costa Motta (tio), aqui colocada em 1920. A obra simboliza a revolta popular que começou em 1846 quando um grupo de mulheres da aldeia minhota de Santo André dos Frades se insurgiu contra o Governo de Costa Cabral. Armadas de foices e gadanhas, protestavam contra a proibição dos enterros nas igrejas, uma das medidas do governo que, a par de novos impostos, geraram desconforto social. A revolta alastrou-se por todo o país e contou com uma grande participação das mulheres do povo, que acabaram por determinar o nome do levantamento popular. Costa Cabral acabou substituído. Esculpida em mármore branco e de tamanho natural, esta estátua foi então encomendada por ocasião do centenário da proclamação do regime liberal em Portugal.

6. Mulheres de Lisboa

O Metropolitano de Lisboa é também uma galeria de arte pública. A cada estação encontra obras de artistas plásticos, mas no Campo Pequeno o palco é das mulheres. A obra chama-se mesmo "Mulheres de Lisboa", um conjunto de dez esculturas da autoria de Francisco Simões esculpidas em mármore, calcário e granito e decoradas com pedras semi-preciosas como ágata ou ónix. O trabalho do escultor português, aqui instalado em 1994, presta homenagem às populações rurais que na primeira metade do século XX vinham a este local da cidade vender os seus produtos.

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7. Maria de Lurdes Pintasilgo

Foi a primeira e até agora a única mulher a chefiar um Governo em Portugal. Engenheira química, Maria de Lurdes Pintasilgo foi secretária de Estado da Segurança Social do Primeiro Governo Provisório após o 25 de Abril de 1974, Ministra dos Assuntos Sociais e também Embaixadora de Portugal na UNESCO. Mas foi em 1979 que fez história ao tornar-se Primeira-Ministra portuguesa, após ter sido indigitada por Ramalho Eanes, Presidente da República, para chefiar o V Governo Constitucional. Um governo de gestão que se iniciou após a dissolução da Assembleia da República e que se prolongou durante seis meses, em preparação para as legislativas intercalares desse ano. Este memorial foi inaugurado em 2017, no Jardim Maria de Lourdes Pintasilgo, na Alameda Santo António dos Capuchos. Da autoria do escultor Rui Pereira, chama-se "Eu e Nós", uma peça de granito preto e mármore branco com mais de dois metros de altura, feita a partir de uma fotografia da política portuguesa.

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  • Monumentos e memoriais

Cidadãos de todo o planeta têm-se insurgido contra representações em bronze e pedra de figuras pouco consensuais no que diz respeito à história dos direitos da humanidade. O rastilho é o conhecido movimento global Black Lives Matter, uma luta já longa demais que clama por soluções para um mundo mais justo entre todos, independentemente da cor da pele. No entanto, não estamos a começar do zero. Em Portugal, há um conjunto de obras públicas que prestam homenagem a vítimas de injustiças cometidas ao longo dos séculos, em território nacional e não só. Fomos visitá-las.

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Diz a sabedoria popular que só damos importância às coisas quando as perdemos. Felizmente estamos só temporariamente impedidos de visitar alguns dos maiores símbolos da história nacional, como a Torre de Belém, em Lisboa, ou a Torre dos Clérigos, no Porto. Enquanto não nos é possível passar pela porta de entrada pelo nosso próprio pé, podemos matar saudades de mais de 1700 panoramas nacionais na plataforma Portugal em 360º, entre vilas, cidades, castelos, palácios ou patrimómio natural, divididos por tema ou local. Nesta lista encontra monumentos das duas principais áreas metropolitanas do país.

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  • Arte
  • Arte pública

As estátuas são como aquele amigo que está sempre lá, mas com quem nunca conseguimos combinar um café. Estas são algumas das obrigatórias, para conhecer melhor e, de preferência, de bem perto. Há muitas coisas que os turistas fazem e todos os lisboetas devem experimentar, uma delas até passa por uma visita à Casa dos Gessos para ver o molde que deu origem à estátua de D. José I na Praça do Comércio. Mas desta vez queremos que preste mais atenção às obras finais, da mais antiga à mais polémica, ali no topo do Parque Eduardo VII.

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