Ainda Estou Aqui
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Os filmes em cartaz esta semana, de ‘Maria’ a ‘Ainda Estou Aqui’

As estreias de cinema, os filmes em exibição e os novos filmes para ver em streaming, incluindo ‘Nosferatu’, ‘O Barco do Amor’ ou ‘Vaiana 2’.

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Tanto cinema, tão pouco tempo. Há filmes em cartaz para todos os gostos e de todos os feitios. Das estreias em cinema aos títulos que, semana após semana, continuam a fazer carreira nas salas. O que encontra abaixo é uma selecção dos filmes que pode ver no escurinho do cinema, que isto não dá para tudo. Há que fazer escolhas e assumi-las (coisa que fazemos, com mais profundidade nas críticas que pode ler mais abaixo nesta lista). Nas semanas em que há estreias importantes de longas-metragens no streaming, também é aqui que as encontra. Bons filmes.

Recomendado: As estreias de cinema a não perder nos próximos meses

Filmes em estreia esta semana

Maria

Mais um filme biográfico sobre Maria Callas, agora interpretada por Angelina Jolie e assinado pelo chileno Pablo Larraín, que abre em Paris, em 1977. A Callas deixou de cantar e vive ali em reclusão, com os seus fiéis mordomo e empregada, e dois caniches. Recebe então um pedido para voltar a fazer uma digressão. Será que ela vai aceitar e regressar aos palcos em que se transformou na maior diva da ópera mundial? Também com Pierfrancesco Favino, Alba Rohrwacher, Valeria Golino e Kodi Smit-McPhee.

+ Maria: Angelina Jolie traz a Callas de volta ao cinema

Ainda Estou Aqui

Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Montenegro lideram o elenco deste filme de Walter Salles sobre o engenheiro civil e político brasileiro Rubens Paiva, que em 1971 foi preso e assassinado pelo regime militar então vigente. O seu corpo nunca foi encontrado. Ainda Estou Aqui inspira-se no livro com o mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, filho daquele, e adopta o ponto de vista de Eunice Paiva, a mulher do desaparecido. Fernanda Torres ganhou o Globo de Ouro de Melhor Actriz num Filme Dramático pela sua interpretação.

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A Verdadeira Dor

Jesse Eisenberg escreve, realiza e interpreta um dos papéis de A Verdadeira Dor, sobre dois primos completamente diferentes em tudo e com vidas muito díspares (o outro é personificado por Kieran Culkin), que vão à Polónia numa viagem de homenagem à avó, recentemente falecida, que nasceu naquele país, sobreviveu aos campos da morte nazis e depois emigrou para os EUA.

Robot Dreams – Amigos Improváveis

Produção franco-espanhola passada na Nova Iorque dos anos 80. Um cão chamado Dog que vive sozinho decide construir um companheiro, um robô a que dá o nome de… Robô. Tornam-se grandes amigos e vivem várias peripécias na grande metrópole. Mas certa noite de Verão, Dog é obrigado a abandonar Robô numa praia.

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Lobisomem

Filme de terror assinado pelo actor e realizador Leigh Whannell, em que uma família que vive numa quinta remota é, uma noite, ameaçada por um animal que não se mostra. A certa altura, o pai começa a sofrer uma horrível transformação.

Filmes em cartaz esta semana

  • Filmes
  • Terror
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Rober Eggers (A Bruxa, O Homem do Norte) é o autor desta nova versão do clássico mudo de terror que F.W. Murnau realizaou em 1922, e que teve já um remake, em 1979, da autoria de Werner Herzog. Bill Skarsgard interpreta o conde Orlok, o vampiro do título, acompanhado por Nicholas Hoult, Lily Rose-Depp, Willem Dafoe e Aaron Taylor-Johnson. Eggers modifica alguns aspectos da história original, ao mesmo tempo que mantém referências várias ao original de Murnau, bem como algumas à versão de Herzog, e ainda, sobretudo na concepção dos ambientes, aos filmes de vampiros da Hammer. A história deste novo remake, muito plúmbeo mas não excessivamente sangrento, que continua a passar-se na Alemanha do século XIX, centra-se na atormentada personagem de Ellen (Rose-Depp) e na sua ligação involuntária e sobrenatural (e com sugestões sexuais) ao ancestral vampiro, que por sua vez é caracterizado como os das velhas lendas e histórias do folclore do Leste e do Báltico, e cujo aspecto repugnante o realizador só revela mesmo no clímax. Willem Dafoe quase que “rouba” o filme no papel do excêntrico erudito e ocultista que lidera a caça ao monstro. Eurico de Barros      

  • Filmes
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Esta longa-metragem animada de ficção científica (FC) e acção realizada pelo francês Jérémie Périn passa-se no futuro, primeiro na Terra e depois em Marte, quando este planeta está terraformado e colonizado, e os robôs e andróides estão perfeitamente integrados na sociedade. E a tecnologia permite não só “ressuscitar” os mortos e dar-lhes um corpo parte electrónico, parte virtual, como também fazer “duplos” cibernéticos das pessoas. Influenciado pela banda desenhada francófona de FC, pela animação japonesa (caso de Ghost in the Shell), pelos jogos de vídeo e por filmes como Robocop – Polícia do Futuro ou Blade Runner – Perigo Iminente, Jérémie Périn realiza um filme adulto, inventivo e complexo, que é uma boa alternativa, quer estética e formalmente, quer na concepção da história, às animações que nos chegam dos EUA e da Europa. E que reflecte sobre temas como as aplicações úteis e duvidosas da Inteligência Artificial, as interacções high tech entre homens, computadores, robôs e andróides, ou as implicações sociais e morais da criação de sósias artificiais dos humanos e de versões ciberneticamente “ressuscitadas” destes.

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Joan Baez: A Cantiga é uma Arma

Recusando o formato convencional do documentário biográfico, este filme de Miri Navasky, Maeve O’Boyle e Karen O’Connor  sobre a lendária cantora norte-americana Joan Baez acompanha-a na sua última digressão, ao mesmo tempo que anda entre o passado e o presente e explora o arquivo visual e fotográfico de Baez, recordando a sua vida nos palcos e fora deles, e destacando em especial os problemas psicológicos e as depressões de que a artista sempre sofreu.

Encontro com Pol Pot

Em 1978, três jornalistas franceses são convidados para visitar o Cambodja de Pol Pot, o ditador comunista genocida. Por essa altura, já dois milhões de cambodjanos foram assassinados pelo regime dos Khmer Vermelhos. Durante a estadia, a máscara da propaganda cai e a viagem torna-se num pesadelo. Rithy Pan continua a denunciar o horror totalitário que atingiu o seu país.

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  • Filmes
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Justine (Sandrine Kiberlain) trabalha, o marido, Albin (Denis Podalydès), não. Franck (Daniel Auteuil), o patrão de Justine, um empresário abastado e divorciado, pede-lhe para que organize um fim-de-semana romântico para ele e para uma mulher que admira e que quer conquistar. E passa-lhe para as mãos, assim sem mais nem menos, 14 mil euros para que ela trate de tudo. Justine e o marido têm então uma ideia. Convocam um pequeno grupo de amigos, todos sem cheta como eles, mas com talentos vários, da culinária à música. Mais importante, um deles, Jocelyn (Bruno Podalydès), está encarregue da entrega de um pequeno veleiro a motor no fim-de-semana. Planeiam então proporcionar ao patrão de Justine e à sua conquista um idílico fim-de-semana rio abaixo, e abotoarem-se com os 14 mil euros (que Justine e Franck disseram aos amigos serem sete mil…).

Esta é a premissa de O Barco do Amor, que Bruno Podalydès escreveu e realiza, além de interpretar o “comandante” Jocelyn. E é caso para dizer que foi preciso chegarmos ao fim do ano para vermos finalmente uma comédia ligeira francesa na melhor, mais digna e mais genuína linha do género. E ninguém mais indicado para o fazer do que Podalydès, que como realizador se tem revelado estar tão à vontade na comédia como no drama ou mesmo no policial. Regressados a bordo do barco do título, a identidade da mulher que o patrão de Justine revela-se uma surpresa: a própria Justine, que nunca lhe disse que era casada. Entre revelar-lhe a verdade e perder 14 mil euros, ou ir em frente com o fim-de-semana romântico, a trupe não hesita (tirando, obviamente, Albin). E o barco zarpa rumo à foz.

O tempo está bom, a nave atravessa calmamente os canais e as comportas, a paisagem é bucólica e Franck está bem-disposto e muito longe de adivinhar a vigarice, muito embora não goste nada de ter de desembolsar mais uns euros de portagem sempre que se passa uma comporta, entregues ao respectivo encarregado (um dos membros do grupo, que vai mudando de aspecto e de roupa a cada comporta). Mas nem sequer repara que as várias pessoas encarregues do programa da viagem, da condutora do camião de comida para o piquenique à beira-rio, até ao guitarrista que toca no jantar romântico a dois e à sua acompanhante vocal, são sempre os mesmos, que vão trocando de roupa, de penteado e maquilhagem, e acumulando as várias funções. Entretanto, Justine vai conseguindo esquivar os avanços do patrão. Até ao momento em que, farta das intromissões do ciumento Albin, que ameaçam que a vigarice seja exposta, tem uma birra, salta do barco para terra e deixa toda a gente – menos o incauto Franck – em pânico.

Com um título original (La Petite Vadrouille) que pisca o olho à célebre comédia de culto de Gérard Oury feita em 1966, A Grande Paródia (La Grande Vadrouille), com Louis de Funès, Bourvil e Terry-Thomas, O Barco do Amor é, e felizmente, uma comédia fora de moda. Bruno Podalydès remete, por um lado, às que se faziam em França nos anos 30, com os seus vigaristas pobres diabos e simpáticos, o seu subenredo romântico bem-comportado, a completa falta de vulgaridade e um toquezinho poético; e pelo outro, para as dos anos 70 e 80, com a sua galeria de personagens patuscas, um humor feito à base de piadas verbais, quiproquós em sucessão e gags visuais; e uma realização discreta, que deixa correr o enredo e dá espaço aos actores, permitindo que todos eles, principais e secundários, tenham os seus momentos de destaque no meio de um trabalho colectivo de grande harmonia.  

No final desta comédia que diz o que tem a dizer em hora e meia, flui tão bem como o barco do título (mesmo quando este fica brevemente encalhado a meio da história) e se resolve sem amargos de boca nem figuras ridículas para ninguém, é a personagem que menos se espera que encontra o amor, e se faz ao largo em maré alta de felicidade. O Barco do Amor garante que fechemos o ano com os olhos lavados pelas suas paisagens e um franco sorriso nos lábios posto pelos seus tripulantes.

Aqui

Tom Hanks, Kelly Reilly, Paul Bettany, Robin Wright e Michelle Dockery lideram o elenco de Aqui, a adaptação da banda desenhada com o mesmo título, da autoria de Richard McGuire, e com argumento de Robert Zemeckis (que também realiza) e Eric Roth. É a história de um punhado de famílias da Nova Inglaterra e do lugar especial onde habitam, ao longo de várias gerações, do século XIX até agora, uma viagem pelo tempo e pela memória, capturando a experiência humana na sua forma mais pura.

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Babygirl

A actriz e realizadora holandesa Halina Reijn (Corpos, Corpos, Corpos) conta com Nicole Kidman, Harris Dickinson e Antonio Banderas como principais intérpretes de Babygirl, um thriller de recorte erótico. Kidman dá corpo à poderosa e influente presidente do conselho de administração de uma importante empresa de robótica, que se envolve num romance tórrido com um estagiário bastante mais novo que ela, pondo em perigo a sua carreira e a sua vida familiar.

  • Filmes
  • Terror
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Filme de terror assinado pelos australianos Cameron e Colin Cairnes, passado em 1977, em Nova Iorque. Jack Delroy (David Dastmalchian), apresentador de um outrora popular talk show televisivo, perdeu a mulher, morta de cancro, e boa parte da sua audiência. Planeia então uma emissão especial de Halloween em directo, com um vidente, um céptico, uma parapsicóloga e uma jovem que é a única sobrevivente de um suicído em massa de um culto satânico e está alegadamente possuída por um demónio. Além de fazerem um pastiche impecável da televisão americana dos anos 70, os irmãos Cairns cruzam elementos de Escândalo na TV, de O Exorcista e do célebre falso documentário da BBC Ghostwatch, emitido no Halloween de 1992 e que milhares e milhares de pessoas tomaram por verdadeiro, e constroem um dos melhores filmes de terror sobrenatural deste ano, em que um talk show em crise de espectadores e que recorre ao sensacionalismo para se manter à tona e não ser cancelado, vai-se gradualmente transformando no cenário de uma manifestação demoníaca. David Dastmalchian é excelente no desesperado Jack Delroy, um misto de Johnny Carson e de Jerry Springer, e a personagem de Carmichael Hunt (Ian Bliss), o ilusionista céptico e desmistificador de impostores do paranormal e do sobrenatural, é obviamente inspirada no grande James Randi. Absolutamente a não perder pelos apreciadores do género.

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Mufasa: O Rei Leão

Depois da animação de longa-metragem de 1994 e do recente remake em imagem real gerada por computador, em 2019, a Disney continua a apostar nas personagens de O Rei Leão com este Mufasa: O Rei Leão, também feito em imagem real de síntese, realizado por Barry Jenkins, e com o qual o estúdio comemora ainda o 30.º aniversário da animação original. A fita conta a história de Mufasa, o futuro Rei Leão e pai de Simba, desde o tempo em que era uma cria órfã, perdida e sozinha.

+ Tudo o que precisa de saber sobre Mufasa: O Rei Leão

+ “Chorei mais com a morte do Mufasa do que com familiares meus”

Tudo o que Imaginamos como Luz

Este filme da cineasta indiana Payal Kapadia, uma história de amor, amizade e auto-descoberta, ganhou o Grande Prémio do Festival de Cannes este ano. Em Mumbai, a rotina da enfermeira Prabha é perturbada quando recebe um presente. Entretanto, a sua colega de quarto, Anu, mais jovem do que ela, procura em vão um sítio na cidade onde possa ter intimidade com o namorado.

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  • Filmes
  • Romance
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Mahin é uma mulher de 70 anos que vive sozinha em Teerão, após a morte do marido, há três décadas, e a ida das filhas para o estrangeiro. Após uma conversa com um grupo de amigas durante um almoço que dá em casa, Mahin conhece Faramarz, um taxista solitário e insatisfeito com a vida como ela, convida-o para sua casa. O governo do Irão tentou apreender a fita e Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha, o casal de realizadores de O Meu Bolo Favorito, foram impedidos de sair do Irão para a acompanhar ao Festival de Berlim, estão proibidos de filmar e enfrentam agora a justiça. Através da história de Mahin, que ousa violar vários preceitos da lei islâmica para vencer a sua profunda solidão e poder ter alguns momentos de convívio e alegria em sua casa com o homem que acaba de conhecer e com o qual simpatizou, Moghaddam e Sanaeeha falam, além da solidão dos velhos, sobre a situação e os direitos de todas as mulheres iranianas, face a um regime teocrata, intolerante e hipocritamente puritano. Sem forçar a menor emoção nem recorrer à lamechice, e imitando nisso os realizadores, Lili Farhadpour é formidável e comovente no papel de Mahin.

Wicked

Primeira parte da adaptação ao cinema do musical da Broadway, e estrondoso sucesso comercial e crítico, que se baseia no livro homónimo de Gregory Maguire publicado nos anos 90, uma visão revisionista e azeda (demais, segundo alguns) da história de O Feiticeiro de Oz, mais precisamente das origens da Bruxa Má do Oeste, Elphaba (Cynthia Erivo), e da Bruxa Boa do Oeste, Glinda (Ariana Grande), e que inclui mais três continuações. A história de Wicked começa quando elas se conhecem na Universidade de Shiz, na Terra de Oz. Jon M. Chu realiza.

+ ‘Wicked’: um olhar diferente sobre a Terra de Oz

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O Quarto ao Lado

Vencedor do Festival de Veneza deste ano, O Quarto ao Lado é a primeira longa-metragem em inglês realizada por Pedro Almodóvar, e rodada nos EUA. Julianne Moore e Tilda Swinton interpretam duas mulheres que foram muito amigas quando eram jovens e trabalhavam na mesma revista, mas que se separaram pelas circunstâncias do trabalho e da vida. Muitos anos após se terem separado, voltam a encontrar-se, embora devido a uma situação trágica: uma delas tem um cancro.

  • Filmes
  • Animação
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Tal como a Pixar recorreu a Divertida Mente 2, a continuação de um filme muito popular, para tentar contrariar a maré negativa dos últimos anos (e conseguiu), a Disney parece ter-lhe seguido o exemplo com a sua nova animação, Vaiana 2 (estreia-se esta semana) em que aposta num regresso à Polinésia em que foi tão feliz há quase 10 anos, em vez de procurar uma história original ou recorrer a uma adaptação de material alheio, caso dos contos tradicionais europeus, como era hábito do estúdio desde que Walt Disney começou a fazer longas-metragens animadas. É significativo que o projecto de dar continuidade a Vaiana através de uma série animada musical intitulada Moana: The Series, destinada à Disney+, tenha sido abandonado para fazer uma parte 2 para o cinema. Vaiana 2 já não tem ao leme os históricos John Musker e Ron Clements, realizadores do primeiro filme. Eles são substituídos por um trio de estreantes: David Derrick Jr., Jason Hand e Dana Ledoux Miller, esta também responsável pelo argumento, em parceria com Jared Bush, que escreveu o primeiro Vaiana. Auli’i Cravalho, a jovem havaiana de ascendência portuguesa, e Dwayne Johnson, voltam a ser as vozes de Vaiana e de Maui, e os autores da banda sonora e das canções de Vaiana também estão de regresso, embora Lin-Manuel Miranda não participe nelas desta vez. A história passa-se três anos após a da primeira fita, envolvendo Vaiana, Maui, o galo Hei Hei, o porquinho Pua e outros amigos da aldeia da princesa, navegadora e heroína polinésia, num enredo cheio de referências mitológicas locais, em os protagonistas que vão encontrar velhos e novos inimigos. E que os vai conduzir aos confins do oceano, para acabarem com uma maldição de um deus que impede os povos dos Mares do Sul de contactarem uns com os outros. Não estando à altura dos títulos clássicos da Disney dos anos 80 e 90, quando Jeffrey Katzenberg tutelava a animação dos estúdios, Vaiana 2 consegue manter o nível do original em termos de história e do ponto de vista da elaboração cinematográfica, sumptuosa e cuidadosamente detalhada, sendo claramente superior aos desastres recentes da casa, Raya e o Último Dragão (2021), Encanto (2021), Estranho Mundo (2022) e Wish: O Poder dos Desejos (2023), em que a mediocridade das histórias vinha acompanhada por uma profunda falta de inspiração em termos visuais e estéticos. Feito em computador, Vaiana 2 tem saborosos momentos e pormenores em animação tradicional, bem como muitos e bons gags em segundo plano envolvendo as personagens secundárias (ver o aguerrido coco-pirata dos Kakamura). As canções, insípidas e incapazes de se aconchegarem no ouvido do espectador, é que eram dispensáveis. E vêm aí mais continuações: Frozen – O Reino do Gelo 3 e 4, e Zootrópolis 2.

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  • Filmes
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Quando era miúdo, François Ozon teve um jantar de família feito por uma tia, em que um dos pratos servidos eram cogumelos, que tinham sido colhidos por aquela. Todos os participantes na refeição ficaram doentes por causa dos cogumelos nessa mesma noite, menos a tia, que foi a única que não os comeu. O pequeno Ozon, que já nessa altura tinha uma imaginação fértil e gostava de inventar histórias, pôs-se a pensar que a sua bondosa e atenciosa velha tia afinal era uma assassina, sabia que os cogumelos que tinha apanhado no campo eram perigosos, e tinha feito de propósito para se ver livre de toda a família.

Muitos anos depois, François Ozon usou esta memória de família como ponto de partida do seu novo filme, Quando Chega o Outono, passado na província francesa. Michelle (Hélène Vincent) é uma idosa reformada que trocou Paris por uma vilazinha na Borgonha, onde é vizinha da sua melhor amiga, Marie-Claude (Josiane Balasko). Michele adora o seu único neto, Lucas (Garlan Eros), mas não se dá bem com a sua filha divorciada, Valérie (Ludivine Sagnier). Aparentemente, porque esteve à morte após ter comido um prato de cogumelos colhidos e cozinhados pela mãe, que não lhes tocou. 

Valérie chega de Paris para deixar Lucas com a avó durante uma semana, mas as coisas acabam por não correr como Michelle previa, para seu grande desgosto. Entretanto, Vincent (Pierre Lottin), o único filho de Marie-Claude, sai da cadeia e diz à mãe que nunca mais vai consumir droga, que vai arranjar um emprego e deixar-se dos pequenos delitos com que sustentava o seu vício. Pouco a pouco François Ozon vai-nos revelando pormenores sobre o passado das personagens de Quando Chega o Outono, vamos percebendo a motivação por trás dos seus comportamentos, e que nada aqui é tão linear como parecia. E dizer mais sobre o enredo do filme e os seus desenvolvimentos é falar demais.

Esta nova realização de François Ozon remete-nos, por um lado, para os filmes de Claude Chabrol passados na França profunda, e pelo outro, para os livros de Georges Simenon, e não somente para os do Inspector Maigret. Só que a fita não tem nem o cinismo frio e a distância dos de Chabrol, nem a componente policial das obras de Simenon (embora haja uma sugestão que não encontra continuidade). Ozon opta por conservar os cenários campestres e, à primeira vista, pacatos, do primeiro; e as atmosferas narrativas, emocionais e morais em claro-escuro, com cambiantes fugidios e bifurcações inesperadas, do segundo. 

Quando Chega o Outono é todo ele feito em sugestão e insinuação, em não-dito e de elipses, sempre a pedir ao espectador que preencha os espaços em branco deixados pelo realizador. E de tal forma que, como notou um crítico francês, é como se houvesse não um mas dois filmes: aquele que Ozon rodou, e outro que se passa dentro da nossa cabeça, em que especulamos sobre tudo o que não está explícito naquele. O Outono na sua manifestação mais bucólica e melancólica é o pano de fundo contra o qual o realizador desfia a sua história de um Outono da vida muito pouco tranquilo, o de Michelle (a octogenária Hélène Vincent é notável no papel, veja-se como passa da ternura à inquietação, de um matiz emocional luminoso a um sombrio, num piscar de olhos) e põe em cena os conflitos em surdina, molda a tensão psicológica, e instala a inquietação e a dúvida. 

Os fãs de policiais decerto teriam preferido que François Ozon tivesse explorado até às últimas consequências os elementos próprios do thriller que a história contém, e que são contrariados pelo rumo que o realizador lhe dá. Já os apreciadores do cinema do versatilíssimo autor de filmes tão diferentes como 8 Mulheres, Swimming Pool, Dentro de Casa e Frantz perceberão o que ele quis fazer aqui. Quando Chega o Outono parece um policial, mas não o chega a ser. E não precisa.

  • Filmes
  • Terror
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Hugh Grant surge num muito raro papel de vilão nesta fita de terror psicológico realizada por Bryan Woods e Scott Beck. Grant interpreta o Sr. Reed, um homem aparentemente afável, encantador e inofensivo. Mas que fecha na sua vivenda isolada do Colorado duas jovens missionárias mórmones que lhe foram tocar à campainha, começando a jogar com elas um aterrorizador jogo do gato e do rato, ao mesmo tempo que debatem teologia, religião e fé e descrença. Woods e Beck acabam por esticar muito a corda da verosimilhança, mas Hugh Grant mantém-nos colados ao filme graças à sua interpretação, em que repete a persona muito british que o celebrizou numa série de comédias românticas, só que aqui aplicada a um monstro que nunca perde a sua cordialidade, quer esteja a discorrer com sobre história das religiões recorrendo a elementos da cultura pop, quer esteja a aterrorizar sadicamente as suas duas prisioneiras.

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  • Filmes
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

O novo documentário de Oliver Stone é uma defesa clara, muito bem explicada e solidamente apoiada em factos científicos e números, da energia nuclear como única alternativa viável para combater a actual crise energética global, bem como a única que poderá ser capaz de reduzir as emissões de dióxido de carbono até 2050, ao substituir-se ao carvão e ao petróleo, compensar as grandes limitações da energia eólica e da solar, e ser uma alternativa ao gás natural e aos seus perigos. Tudo isto mantendo-se mais económica, mais prática e mais segura do que qualquer outra. Stone percorre vários países, dos EUA à Rússia, passando pela França, para mostrar também os vários progressos que a indústria do nuclear tem vindo a conhecer, demole os argumentos dos diabolizadores do nuclear (muitos deles financiados pelos lóbis do petróleo e do carvão, como aconteceu com o Sierra Club nos EUA) e desmistifica as narrativas catastrófico-apocalípticas dos media sobre Three Mile Island, Chernobyl e Fukushima. Um dos melhores documentários do ano.

  • Filmes
  • Drama
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Sean Baker (Tangerine, The Florida Project, Red Rocket) ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes com esta comédia dramática sobre Ani/Anora, uma jovem dançarina erótica e prostituta de Brooklyn de ascendência uzbeque, que se envolve e depois casa precipitadamente em Las Vegas com o estouvado e irresponsável filho de um oligarca russo que está a estudar nos EUA, espalhando a confusão entre o padrinho deste e os seus capangas, que ficaram de cuidar do rapaz, e obrigando os pais a vir à pressa da Rússia para resolver a situação. Filmado em película de 35 mm e widescreen, e parecendo ter saído dos anos 70 pelo realismo directo, pela autenticidade geral e pelo pitoresco comunicativo das personagens, todas elas com origens ou ascendência de Leste (uzbeques, arménios, russos), Anora glosa o cliché da stripper/dançarina erótica/prostituta de coração de ouro, espírito prático e ingenuidade de sentimentos, para erguer um filme que é parte farsa acelerada ao melhor jeito screwball, parte história amarga de uma Gata Borralheira contemporânea frustrada, e parte retrato empático de personagens muito queridas ao realizador, aquelas que vivem, trabalham e sobrevivem, legal ou ilegalmente, nas franjas da sociedade americana, sobretudo ligadas ao mundo do sexo. No papel da profissionalmente pragmática e vivida, mas sentimentalmente ingénua e tenrinha Ani, a pequena e dinâmica Mikey Madison carrega o filme às costas e é o seu hiperactivo centro de gravidade, e nunca permite que a personagem venha mendigar a nossa pena, no que é imitada por Sean Baker. Eurico de Barros         

Filmes em estreia no streaming

Unstoppable

A história real de Anthony Robles, que apesar de ter nascido sem a perna direita, conseguiu tornar-se num atleta de luta greco-romana, e ser campeão, em 2011, da categoria máxima da modalidade a nível universitário, pela Universidade Estadual do Arizona.

Prime Video. Estreia a 16 de Janeiro

De Volta à Ação

Jamie Foxx e Cameron Diaz são os protagonistas de De Volta a Ação, interpretando dois ex-agentes da CIA que abandonaram a espionagem para formarem uma família, mas são obrigados a voltar à actividade quando as suas identidades secretas são reveladas. 

Netflix. Estreia a 17 de Janeiro

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