Cão Preto
DR | Cão Preto
DR

Os filmes em cartaz esta semana, de ‘Cão Preto’ a ‘Drop – Número Desconhecido’

As estreias de cinema, os filmes em exibição e os novos filmes para ver em streaming, incluindo ‘Flow – À Deriva’, ‘Ainda Estou Aqui’ ou ‘Anora’.

Publicidade

Tanto cinema, tão pouco tempo. Há filmes em cartaz para todos os gostos e de todos os feitios. Das estreias em cinema aos títulos que, semana após semana, continuam a fazer carreira nas salas. O que encontra abaixo é uma selecção dos filmes que pode ver no escurinho do cinema, que isto não dá para tudo. Há que fazer escolhas e assumi-las (coisa que fazemos, com mais profundidade nas críticas que pode ler mais abaixo nesta lista). Nas semanas em que há estreias importantes de longas-metragens no streaming, também é aqui que as encontra. Bons filmes.

Recomendado: As estreias de cinema a não perder nos próximos meses

Filmes em estreia esta semana

Cão Preto

Depois de dez anos na prisão, Lang regressa à sua cidade natal, no noroeste da China, agora quase abandonada e que vai ser demolida em grande parte para dar lugar a um complexo de fábricas. No esforço de limpar e começar a renovar a cidade antes dos Jogos Olímpicos de Pequim de 2008, Lang apenas arranja emprego a apanhar cães vadios e acaba por ficar com um cão preto que o mordeu, após ter estado isolado com o animal para evitar a eventual propagação do vírus da raiva. E desenvolve-se uma amizade entre estes dois seres solitários e individualistas. Este filme de Guang Hu ganhou o prémio da secção paralela Un Certain Regard em Cannes 2024.

Drop – Número Desconhecido

Thriller de Christopher Landon centrado numa mãe viúva (Meghann Fahy) cujo primeiro encontro em vários anos resulta numa aterradora vaga de mensagens anónimas ameaçadoras, o que a leva a desconfiar se o seu atraente par não estará por detrás deste assédio. Mas se sim, qual a razão para este comportamento?

Publicidade

O Amador

Rami Malek e Laurence Fishburne interpretam este thriller de acção realizado por James Hawes, sobre um introvertido criptógrafo da CIA que chantageia a agência para que o treinem e o deixem ir atrás dos terroristas que lhe assassinaram a mulher num atentado em Londres.

O Silêncio de Julie

Filme belga sobre Julie, a jogadora-estrela de uma academia de ténis de elite, que adora o jogo, em redor do qual a sua vida gira. Quando o seu treinador é alvo de uma investigação e subitamente suspenso, Julie é a única jogadora que fica calada, enquanto todos os outros são encorajados a falar aos investigadores.

Publicidade

Aprovado por Bob Trevino

Comédia dramática indie com Barbie Ferreira, John Leguizamo e French Stewart. Lily Trevino usa as redes sociais para tentar localizar o pai. Encontra outro homem, sem filhos mas com o mesmo nome deste, e começa a corresponder-se com ele.

À Chegada

Um urbanista venezuelano e a sua namorada, uma bailarina espanhola, vão instalar-se nos EUA, mas na área de imigração do aeroporto de Nova Iorque são conduzidos para uma sala e submetidos a revistas e interrogatórios.

Publicidade

Estou Aqui

Documentário de Zsófia Paczolav e Dorian Rivière, filmado durante o primeiro confinamento da pandemia do Covid-19, naquele que foi o maior centro de emergência para sem-abrigo de Lisboa, situado no Casal Ventoso.

Sob a Chama da Candeia

Filme de André Gil Mata com Eva Ras e Márcia Breia. Uma mulher que vive no Norte de Portugal, na casa onde nasceu, com a empregada, cuja presença já não suporta. Libertada pela morte do marido, toma uma decisão.

Publicidade

O Rei dos Reis

Longa-metragem animada sobre a forma como o grande escritor inglês Charles Dickens conseguiu relacionar-se com o filho, Walter, contando-lhe a história da vida de Jesus Cristo.

Kaiju N.º8: Missão de Reconhecimento

Animação passada num Japão repleto de monstros Kaijus. O jovem Hibino sonha em pertencer à Força de Defesa Anti-Kaiju, da qual faz parte Mina, uma amiga de infância.

Filmes em cartaz esta semana

  • Filmes
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

John Lithgow e Geoffrey Rush desempenham os principais papéis de A Regra de Jenny Penn, um filme de terror psicológico do realizador e actor neozelandês James Ashcroft. Um juiz reformado, Stefan Mortensen (Rush), está internado numa casa de repouso isolada após ter sofrido um AVC que o deixou sem mobilidade e dependente de outros. Na mesma instituição, encontra-se também há muito um idoso psicopata, Dave Crealy (Lithgow), que se serve de um fantoche de criança, a quem chama Jenny Pen, para tiranizar e atormentar cruelmente os outros residentes, por vezes com consequências mortais. Os veteranos Lithgow, no sádico e sarcástico Crealy, e Rush, no indignado e desafiador Mortensen, brilham e fazem a festa, deitam os foguetes e recolhem as canas deste tenso e sólido thriller da terceira idade, salpicado de humor negro, que James Ashcroft mantém verosímil e “realista” do princípio ao fim, sem sucumbir à tentação de pôr as duas personagens a fazer coisas que os anos e as maleitas não lhes permitem, ou de enveredar pelo sobrenatural, e onde o horror pode ser também a velhice solitária e desamparada. Uma boa série B do género, como já se fazem poucas, e resolvida como deve ser, em pouco mais de hora e meia.

Maria Schneider

Uma jovem actriz francesa. Um realizador italiano prestigiado que a escolhe para protagonizar o seu novo filme ao lado de um “monstro sagrado” do cinema americano. Os sonhos de Maria, a actriz, tornam-se realidade. Mas o que parecia ser um enorme avanço na carreira acaba por se transformar no início de um longo inferno. O filme é O Último Tango em Paris. Anamaria Vartolomei é Maria Schneider e Matt Dillon personifica Marlon Brando nesta fita de Jessica Palud sobre o impacto dramático daquela controversa obra dos anos 70 na vida e no percurso profissional da actriz.

Publicidade
  • Filmes
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Drama romântico assinado por Bille August, passado na Dinamarca, poucos meses antes do início da I Guerra Mundial. Anton, um jovem pobre e consciencioso que tem como principal prioridade acabar a instrução como oficial de Cavalaria, auxilia um rico barão local que teve um problema com o carro, durante um treino com o seu pelotão. Este convida-o para um baile no seu castelo e aí Anton conhece Edith, a bela filha do aristocrata, que está confinada a uma cadeira de rodas após ter sofrido um acidente de equitação quando era pequena. Adaptando um romance de Stefan Zweig, e apoiando-se em excelentes interpretações de Esben Smed (Anton) e Clara Rosager (Edith), August, o realizador de Pelle, o Conquistador, A Casa dos Espíritos e As Melhores Intenções, dá-nos um filme reconfortantemente anacrónico, cujo recorte romanesco, dilemas íntimos e convulsões sentimentais, aliadas à recriação de uma época e do seu quadro mental, vivências próprias e preconceitos específicos, e que o realizador mostra sem nunca os ajuizar, são as suas melhores recomendações.

O Milagre do Whisky

Diane Keaton, Lulu e Patricia Clarkson interpretam O Milagre do Whisky, uma comédia fantástica sobre um trio de amigas de uma certa idade. Uma delas, cujo marido, Arthur, morreu recentemente, descobre que o whisky que ele destilava em casa tem propriedades mágicas. Depois de bebido, faz o tempo voltar para trás durante algumas horas e quem o ingeriu fica muito mais jovem. As amigas aproveitam para se divertir como quando eram novas, mas quanto tempo irá durar o whisky deixado por Arthur?

+ ‘Arthur’s Whisky’: um triplo regresso à juventude

Publicidade

On Falling

Primeira longa-metragem da portuguesa Laura Carreira, On Falling foi rodada na Escócia, onde vive há bastantes anos, e ganhou a Concha de Ouro de Melhor Realização no Festival de San Sebastian e o Prémio de Melhor Primeira Obra no Festival de Londres. Aurora (Joana Santos) é uma jovem portuguesa que trabalha num grande armazém de vendas online na Escócia, e procura resistir à crescente solidão e alienação que sente.

+ ‘On Falling’. A premiada estreia de Laura Carreira chega a Portugal

Monsieur Aznavour

Filme biográfico sobre Charles Aznavour, que conta a vida e a carreira deste gigante da canção francesa e da música mundial, oriundo de uma família de refugiados arménios, desde a infância pobre em Paris até aos píncaros da fama, e se centra especialmente na sua inabalável vontade de triunfar e na sua enorme capacidade de trabalho e produtividade como compositor. O projecto desta fita teve a bênção do cantor quando ainda estava vivo. Tahar Rahim interpreta Aznavour, a realização é de Mehdi Idir e Grand Corps Malade.

+ ‘Monsieur Aznavour’: a história de um monumento da canção francesa

Publicidade

Coro

Depois de dois documentários dedicados ao maestro Michel Corboz e à Orquestra Gulbenkian, é agora a vez do realizador Edgar Ferreira assinar um filme sobre o Coro Gulbenkian, através dos depoimentos de vários dos membros desta prestigiadíssima instituição semi-profissional.

  • Filmes
  • Suspense
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Ainda A Presença está nos cinemas portugueses e já há mais um filme de Steven Soderbergh a estrear. Escrito por David Koepp, que também assinou o argumento daquele, Black Bag é um thriller de espiões interpretado por Michael Fassbender, Cate Blanchett, Pierce Brosnan, Tom Burke e Naomie Harris. Kathryn Woodhouse, uma agente secreta inglesa, é suspeita de traição. O seu marido, George, também ele agente, enfrenta o derradeiro teste: ser leal ao casamento ou ao país que jurou servir. Mas será que ela é culpada, ou estarão ambos a ser enganados pelo verdadeiro traidor? É que há mais quatro suspeitos, todos eles colegas de serviço de George e Kathryn, e visitas de casa. Soderbergh pega no formato tradicional do spy movie e em todos os seus componentes e roda uma fita de grande entretenimento, um superior divertissement de espionagem, com 80% de John Le Carré e 20% de James Bond, seguindo à risca o caderno de encargos do género, mas com a indispensável voltinha na ponta no final. Ao mesmo tempo, faz o elogio do casamento perfeito, através do casal protagonista e da sua relação doméstico-profissional. E tudo sem conversa fiada nem tempos mortos, sem palha nem teorias geopolíticas, e em civilizada hora e meia. Fassbender e Blanchett são um regalo a interpretar o casal de espiões que se entendem em tudo, seja em casa, seja no trabalho, e Pierce Brosnan diverte-se a fazer uma personagem nos antípodas de 007. A não perder.

Publicidade

Branca de Neve

Realizada por Marc Webb, esta adaptação para imagem real do clássico animado de Walt Disney Branca de Neve e os Sete Anões é interpretada por Rachel Zegler e Gal Gadot, e anuncia-se como o filme mais controverso e contestado de todas estas novas versões, devido a todas as alterações radicais e muito contestadas pelos fãs da animação original, que a Disney introduziu na história.

  • Filmes
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Esta comédia dramática de Emmanuel Courcol foi um dos grandes sucessos populares em França em 2024, tendo também, coisa rara, sido plebiscitada por toda a crítica. É a história de um famoso maestro, Thibaut Desormeaux (Benjamin Lavernhe) que foi diagnosticado com leucemia e descobre que é adoptado e tem um irmão mais velho, Jimmy (Pierre Lotin), na vila mineira do Norte de França onde ambos nasceram. Jimmy trabalha na cantina da escola, tem também o dom da música, toca trombone na banda local e foi adoptado por um casal de lá.

Thibaut precisa de um transplante de medula e Jimmy é compatível com ele, e a operação faz-se com sucesso. Agradecido, e sentindo um complexo de culpa pelo facto de os seus pais adoptivos não terem levado também Jimmy para Paris, privando-o assim de uma carreira musical tão brilhante como a dele, Thibaut propõe-se ajudá-lo, e à banda da terra, a ganhar o concurso de bandas da região.

História de um encontro de irmãos que desconheciam a existência um do outro, e de um reconhecimento familiar tardio, ao som de música, Siga a Banda! é também a história do encontro entre dois mundos musicais muito diferentes, mas que têm afinidades naturais, a exemplo de Thibaut e Jimmy, daí que ouçamos Mozart, Verdi, Beethoven ou Ravel, mas também Benny Golson, Lee Morgan, Charles Aznavour e Dalida. E é igualmente a prova de que o cinema francês ainda consegue fazer filmes populares de qualidade, bem acolhidos por público e crítica.

Publicidade
  • Filmes
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

H.P. Lovecraft e Fernando Pessoa estão entre os escritores mais importantes do século XX. Nunca se conheceram nem encontraram, mas há pontos de contacto entre as suas vidas e obras. Recorrendo a imagens geradas por Inteligência Artificial (aqui usada pela primeira vez no cinema português), Edgar Pêra, com arrojo e imaginação, põe aqui a dialogar as cartas, ensaios, poemas e ficções dos dois autores, e concebe paisagens visuais adequadas aos universos literários de cada um deles, com natural destaque para os heterónimos de Pessoa e para a mitologia de Chtulhu de Lovecraft. 

Mickey 17

O multipremiado realizador sul-coreano Bong Joon-ho (Memórias de um Assassino, The Host – A Criatura, Parasitas) assina aqui um filme de ficção científica rodado em Inglaterra, com a produção dividida entre a Coreia do Sul e os EUA e um orçamento de blockbuster: 150 milhões de dólares. A história passa-se numa nave espacial que vai colonizar um distante mundo gelado, e o elenco é composto por Robert Pattinson, Toni Collette, Mark Ruffalo e Steven Yeun.

Publicidade
  • Filmes
  • Animação
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Prémio do Júri e do Público no Festival de Annecy, Globo de Ouro de Melhor Filme de Animação e candidato ao Óscar de Melhor Longa-Metragem de Animação, Flow – À Deriva é realizado pelo letão Gints Zilbalodis, e um dos melhores filmes do género dos últimos anos. Passa-se num mundo futuro decadente de onde os humanos desapareceram e só os animais sobreviveram, e que é assolado por gigantescas inundações. Um solitário gato que vive na casa que pertenceu ao dono, um artista (há desenhos e esculturas de felinos por toda a parte, até no jardim) encontra refúgio num barco onde se vão juntar uma capivara, um cão, um lémure e um pássaro secretário, que para sobreviver vão ter que juntar esforços e esquecer as suas divergências.

Tal como na sua longa-metragem anterior, Away – A Viagem (2019), Zilbalodis conta esta história de amizade e entreajuda por meios visuais e musicais, já que os animais protagonistas são escassamente antropomorfizados, não falam e os sons que emitem correspondem a equivalentes seus reais, que a equipa do filme gravou para o efeito (com excepção da capivara, que tem a “voz” de um camelo bebé), o que os torna mais autênticos e menos “desenhos animados”. E logo mais próximos de nós em termos emocionais, de empatia e de envolvimento nas peripécias da aventura aquática do gato individualista e que odeia água, e dos seus companheiros.

O realizador cita influências tão díspares como os filmes do Senhor Hulot, de Jacques Tati, ou a série de animação japonesa Conan, o Rapaz do Futuro, de Hayao Miyazaki e Hajime Satô (1979), mas este filme profundamente deslumbrante, sereno e expressivo (apesar de “mudo”), uma fábula sem conclusão moral atrelada nem peso demonstrativo e que não dispensa o humor, passado num cenário pós-apocalíptico de devastação mas apresentando uma envolvência místico-onírica, aguenta-se por si – e como! – estética, formal e narrativamente, sem precisar que o refiramos a outras fitas, animadas ou não.

Gints Zilbalodis disse ainda que, em Flow – À Deriva, ele é como o gato da história, porque após ter feito Away – A Viagem totalmente sozinho, teve que trabalhar aqui com uma equipa. A experiência da personagem felina é, assim, associada à do seu criador. Que para completar o círculo, a baseou no seu gato de estimação.

Midas Man e os Quatro de Liverpool

Paul McCartney disse que se alguém foi “o quinto Beatle, esse alguém foi Brian Epstein”, o seu manager. Jacob Fortune-Lloyd interpreta, nesta fita de Joe Stephenson, o homem que trabalhava na loja de mobílias da família, adorava música, “descobriu” os Beatles no Cavern Club de Liverpool e acreditou neles, vestiu-os com fatos e gravatas, trocou o baterista Pete Best por Ringo Starr e conseguiu o primeiro contrato do grupo numa editora discográfica.

Publicidade

Parthenope

Nascida em Nápoles nos anos 50, Parthenope é uma mulher que tem o nome clássico da sua cidade, e da sereia da mitologia que o inspirou. O também napolitano Paolo Sorrentino, autor de A Grande Beleza e A Mão de Deus, dá-lhe aqui os traços de Celeste Dalla Porta na juventude, e de Stefania Sandrelli na idade adulta, acompanhando a sua busca pelo amor e pela felicidade nos longos verões de Nápoles, a cidade ancestral e inefável que enfeitiça, alegra e magoa. Também com Gary Oldman e Silvio Orlando.

Bridget Jones: Louca por Ele

Renée Zellweger está de regresso à personagem de Bridget Jones em mais um filme desta série. Viúva após a morte de Mark (Colin Firth) numa missão humanitária no Sudão, ela está agora sozinha com os filhos Billy, de nove anos, e Mabel, de quatro, que cria com a ajuda dos seus bons amigos e até de Daniel Cleaver (Hugh Grant), o seu antigo amante. Envolta num limbo emocional, Bridget é pressionada a abrir um novo caminho na sua vida. Volta a trabalhar e decide experimentar as aplicações de encontros, envolvendo-se então com um jovem sonhador e entusiasta.

+ Tudo sobre ‘Bridget Jones: Louca por Ele’, e sobre ela mesma

Publicidade
  • Filmes
  • Terror
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

O versatilíssimo e incansável Steven Soderbergh envereda agora pelo terror em A Presença, onde filma uma família de quatro pessoas que se instala na sua nova casa nos subúrbios de uma grande cidade, que tem cem anos mas foi renovada recentemente. A mãe, Rebekah, trabalha muito e adora o filho, Tyler, um nadador de competição, e o pai, Chris, tem que lembrar à mulher, que o domina, que não ela pode desprezar a filha adolescente, Chloe, deprimida após a morte da melhor amiga com uma overdose. Dos quatro, apenas Chloe sente, e logo desde que lá entra, uma presença sobrenatural na casa. O pai, a mãe e o irmão começam por pensar que a rapariga está psiquicamente perturbada com a morte da amiga, mas quando todos testemunham, certa noite, uma manifestação assustadora, convencem-se que existe mesmo um espectro na casa. Decidem então chamar uma vidente, que lhes dá a melhor, embora vaga, explicação sobre a assombração, mas o ambiente em casa, e entre os pais e os filhos, piora ainda mais desde aí.

Baseando-se em algo insólito que aconteceu na sua própria casa em Los Angeles, Steven Soderbergh entregou o argumento de A Presença ao prestigiado David Koepp com quem já tinha trabalhado antes, e rodou a fita no seu melhor estilo independente, poupadinho e “portátil”: em menos de um mês, quase toda no mesmo cenário, usando uma câmara Sony barata e equipada com uma lente adequada à ideia visual que orienta o filme (o realizador foi também o director de fotografia, operador de câmara e montador), sem efeitos especiais e um orçamento de apenas dois milhões de dólares. Dois detalhes importantes e originais: a história de A Presença é contada do ponto de vista do fantasma, e assim Soderbergh e Koepp dão uma grande volta ao cliché da família que se muda para uma velha casa que foi remodelada e é assombrada; e o espectro, ao contrário do habitual, é benigno e não maligno.

Steven Soderbergh despacha-se, e muito bem, em apenas 85 minutos, sem lançar mão de sustos ou de sobressaltos, confiando apenas na atmosfera de crescente tensão e incómodo que se vive na casa, a par do clima de gradual dissolução familiar, e convém ter tido atenção às palavras da vidente quando visitou a casa para entendermos a explicação final. Não há muitos ghost movies contados da perspectiva das entidades fantasmagóricas, e A Presença faria uma sessão dupla ideal com Os Outros, de Alejandro Amenábar, que apesar de ser um filme bastante diferente, tem este ponto em comum com o de Soderbergh.

  • Filmes
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Em Janeiro de 2020, um realizador chinês convence a equipa técnica e os actores a retomarem, em Wuhan, a rodagem de um filme interrompido uma década antes. Com as filmagens quase concluídas, começam a circular rumores sobre uma nova e estranha doença. Alguns elementos do elenco e da equipa conseguem sair do hotel em que estão alojados antes de este fechar. Os restantes são confinados aos quartos e o realizador vai ter que decidir se interrompe as filmagens mais uma vez, quando Wuhan é isolada e posta em confinamento por causa da pandemia de Covid-19.

Realizado por Lou Ye, Crónicas Chinesas é um documento dramatizado sobre o dia-a-dia, o tédio e as angústias do confinamento radical em Wuhan, através da situação dos actores e técnicos que não conseguiram deixar o hotel e a cidade e ficaram lá retidos durante longo tempo, sem poderem comunicar uns com os outros, e com o exterior, senão por telemóvel e computador. E que inclui, no final, imagens da violenta contestação popular naquela cidade às brutais medidas sanitárias e securitárias impostas pelo regime chinês, que envolveram confrontos com polícia e membros das equipas de saúde, e a destruição de instalações e equipamentos, imagens essas pouco ou mesmo não divulgadas fora do país.

Publicidade
  • Filmes
  • Drama
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

James Mangold, o realizador de A Complete Unknown, não gosta que digam que o seu filme é um “biopic” de Bob Dylan. Como declarou numa entrevista à revista Vogue: “É uma forma de deitar um filme abaixo, de o desmerecer. É um termo usado de forma pejorativa para indicar uma história que vai do berço até à sepultura do biografado, com muitas participações breves de pessoas famosas, que entram e saem rapidamente. Quando as pessoas usam esse termo, querem dizer que um filme não ganhou o direito à sua própria gravidade emocional – que está a viver à conta de aparências daquilo ‘que aconteceu na realidade’ para se atribuir uma integridade de obra de arte que poderá não ter.”

Escrito pelo próprio Mangold e por Jay Cocks, e baseado no livro de 2015 Dylan Goes Electric!, de Elijah Wald, A Complete Unknown abrange cinco anos da vida e da carreira de Bob Dylan (interpretado por Timothée Chalamet), entre 1961 e 1965. A história vai da sua chegada a Nova Iorque, onde se instalou em Greenwich Village, quando era um desconhecido, até chegar à fama, ser considerado o porta-voz de uma nova geração e fazer a lendária actuação “eléctrica” no Festival de Música Folk de Newport, em que incorreu na fúria de um público purista que esperava um concerto acústico e não de rock n’roll com um grupo, e que marcou um novo ciclo na carreira de Dylan, bem como uma nova etapa na música pop/rock.

Entre os vários nomes que se cruzam com ele ou o acompanham em A Complete Unknown, e que foram importantes, pessoal, artistica ou sentimentalmente para Dylan, estão Joan Baez, Pete Seeger, Woody Guthrie, Johnny Cash (que James Mangold já biografou em Walk the Line, de 2005), Bob Neuwirth, Paul Butterfield, Dave Van Ronk ou Al Kooper.

O filme faz, assim, uma síntese desses cinco importantíssimos anos, e muito mais do que tentar “explicar”, decifrar ou analisar Bob Dylan e a sua música, ou revelar as suas influências, mostra o efeito da sua presença e das suas canções sobre os que o rodeavam, e o seu impacto no conturbadíssimo contexto socio-político do tempo (luta pelos direitos civis dos negros, Guerra Fria a escaldar com a crise dos mísseis cubanos e a ameaça de uma guerra atómica, advento do movimento da contracultura), bem como o individualismo ferrenho do músico, que sempre se esquivou a ser porta-voz, representante ou militante de uma geração, um movimento ou uma escola. Dylan nunca quis estar onde os outros pretendiam que ele estivesse, ou julgavam que ele estava, e James Mangold ilustra-o no filme, não se negando também a destacar os aspectos menos simpáticos da sua personalidade.

A época está inatacavelmente recriada, da Greenwich Village boémia e artística ao ambiente de purismo musical e engajamento político do Festival de Folk de Newport, Timothée Chalamet tem o seu melhor papel até à data como Bob Dylan, mesmo que por vezes a sua interpretação seja mais imitação do que personificação, e Edward Norton é muito bom como Pete Seeger, tal como o Johnny Cash de Boyd Holbrook é “spot on”. A Joan Baez de Monica Barbaro é já menos conseguida e Elle Fanning não tem lá muito para fazer como Sylvie Russo, aliás Suze Rotolo, a pintora e activista que foi a primeira namorada de Dylan em Nova Iorque. O filme foi oficialmente autorizado por Bob Dylan, e James Mangold teve que se reunir primeiro com Jeff Rosen, representante de longa data do músico e que é um dos produtores da fita, e depois com o próprio Dylan. O encontro, discretíssimo, foi num café de Santa Monica. Dylan pediu então ao realizador que lhe descrevesse o filme sucintamente, após o que deu a sua anuência ao projecto, tendo no entanto pedido que Suze Rotolo não fosse referida pelo nome.

Os dylanianos mais enciclopédicos notarão que A Complete Unknown toma – e necessariamente – algumas liberdades dramáticas e factuais. Mas quando James Mangold o comunicou a Bob Dylan, este disse-lhe apenas: “Who cares?”. Conhecendo Dylan, a resposta faz todo o sentido. 

  • Filmes
  • Drama
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Vencedor do Prémio Especial do Júri no Festival de Cannes e nomeado ao Óscar de Melhor Filme Internacional, o novo filme do iraniano Mohammad Rasoulof (O Mal Não Existe) foi rodado clandestinamente, e o cineasta está agora refugiado na Alemanha, após ter sido condenado a oito anos de cadeia e a ser chicoteado pelas autoridades do seu país (já tinha estado preso antes, mas a pena foi perdoada).

Iman, chefe de uma família da classe média de Teerão e jurista, é nomeado juiz de investigação, com poder para assinar sentenças de morte, durante os protestos de Setembro de 2022, desencadeados pela morte da jovem Mahsa Amini quando estava sob custódia policial. A arma que foi distribuída a Iman para protecção, e que guarda no quarto, desaparece, o que pode levar à sua demissão e queda em desgraça, e ele começa a suspeitar da mulher e das duas filhas, e torna-se cada vez mais desconfiado e paranóico, criando uma atmosfera insuportável em casa. Até que, por sugestão de um colega, obriga a mulher e as filhas a serem submetidas a um interrogatório, feito por um amigo do casal, militar e membro dos serviços secretos.

Por meio desta história, Rasoulof mostra os efeitos do regime teocrático repressivo sobre as famílias iranianas, e a forma como estas repercutem no seu interior o funcionamento dos mecanismos do poder político-religioso, e a submissão total e lealdade inquestionável que exigem. Mas também como estão a dividir as gerações e a causar atritos crescentes e rupturas violentas entre os seus membros, o que é ilustrado pela reacção das filhas de Iman, sobretudo a mais velha, aos acontecimentos nas ruas e ao comportamento do pai, ao mesmo tempo que a mãe tenta ser um elemento moderador entre o marido e aquelas.

As interpretações são todas excelentes e a tensão crescente é controlada com punho sempre firme pelo realizador, até o filme chegar a um clímax inesperado, e o único reparo que podemos fazer a A Semente do Figo Sagrado é o ser demasiada e desnecessariamente demonstrativo, sobretudo pelo repetido recurso a imagens dos tumultos feitas por participantes ou testemunhas nos seus telemóveis e depois divulgadas nas redes sociais.

Publicidade
  • Filmes
  • Drama
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Durante os Jogos Olímpicos de Munique de 1972, uma equipa de jornalistas de desporto e de técnicos da estação americana ABC, que está a seguir o evento, é obrigada a adaptar-se para cobrir o caso dos atletas israelitas que foram feitos reféns por um comando terrorista palestiniano, o Setembro Negro, e que resultaria num massacre que chocou o mundo inteiro.

Recriando factos reais, Atentado de 5 de Setembro é uma co-produção Alemanha/EUA realizado por Tim Fehlbaum e documenta como foi feita esta transição, destacando a intensa experiência profissional e emocional que constituiu a primeira cobertura em directo de uma tragédia global. Bem ritmado, tenso e eficazmente sintético (dura 95 minutos, uma raridade nestes tempos de fitas prolixas com duas e três horas), o filme recria o jornalismo tal como se fazia nesse ano de 1972, quando tudo era ainda analógico, em papel e manual, e nem sequer se sonhava com a Internet, as comunicações digitais, as redes sociais e a informação em contínuo e em directo.

Os jornalistas e técnicos da ABC, e a sua tradutora alemã, Marianne, que lhes vai servir também de precioso contacto e de “antena” com os media locais, têm que dar asas à imaginação, e improvisar a todo o pé de passada (um deles vai mesmo fingir ser um atleta dos EUA para levar bobinas de filme aos colegas que desobedeceram às ordens de evacuação da polícia alemã e ficaram escondidos num prédio da Aldeia Olímpica, a filmar com uma câmara portátil e a relatar o que se passava), para conseguirem manter a emissão no ar e ter exclusivos sobre o que está a acontecer na Aldeia Olímpica, e na zona desta onde estão alojados os atletas de Israel sequestrados pelos terroristas.

Interpretado por Peter Sarsgaard, Ben Chaplin, John Magaro e Leonie Benesch, entre outros, O Atentado de 5 de Setembro recorre a muitas imagens feitas na época, e também, para uma maior autenticidade, a material técnico de então ainda existente, e passa-se quase todo nos estúdios montados pela ABC em Munique. Tim Fehlbaum aproveita ainda para deixar subentendidos temas que mais tarde seriam muito discutidos, como a informação que arrisca ser transformada em espectáculo, a tentação do sensacionalismo, ou o que mostrar ou omitir em acontecimentos como este, captados em directo e contínuo (caso de mortes ou execuções, ou das movimentações de forças policiais e militares). Ou ainda questões como a confirmação e reconfirmação por fontes credíveis das informações, antes de irem para o ar ou serem publicadas, sob a pressão ou com a ânsia de as dar primeiro e ter a “cacha”.

Não é por se passar há mais de 50 anos que O Atentado de 5 de Setembro (a fita está candidata ao Óscar de Melhor Argumento Original) não deixa de ser relevante para os nossos tempos. Tudo pelo contrário, aliás.

Ainda Estou Aqui

Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Montenegro lideram o elenco deste filme de Walter Salles sobre o engenheiro civil e político brasileiro Rubens Paiva, que em 1971 foi preso e assassinado pelo regime militar então vigente. O seu corpo nunca foi encontrado. Ainda Estou Aqui inspira-se no livro com o mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, filho daquele, e adopta o ponto de vista de Eunice Paiva, a mulher do desaparecido. Fernanda Torres ganhou o Globo de Ouro de Melhor Actriz num Filme Dramático pela sua interpretação.

Publicidade
  • Filmes
  • Drama
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Sean Baker (Tangerine, The Florida Project, Red Rocket) ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes com esta comédia dramática sobre Ani/Anora, uma jovem dançarina erótica e prostituta de Brooklyn de ascendência uzbeque, que se envolve e depois casa precipitadamente em Las Vegas com o estouvado e irresponsável filho de um oligarca russo que está a estudar nos EUA, espalhando a confusão entre o padrinho deste e os seus capangas, que ficaram de cuidar do rapaz, e obrigando os pais a vir à pressa da Rússia para resolver a situação. Filmado em película de 35 mm e widescreen, e parecendo ter saído dos anos 70 pelo realismo directo, pela autenticidade geral e pelo pitoresco comunicativo das personagens, todas elas com origens ou ascendência de Leste (uzbeques, arménios, russos), Anora glosa o cliché da stripper/dançarina erótica/prostituta de coração de ouro, espírito prático e ingenuidade de sentimentos, para erguer um filme que é parte farsa acelerada ao melhor jeito screwball, parte história amarga de uma Gata Borralheira contemporânea frustrada, e parte retrato empático de personagens muito queridas ao realizador, aquelas que vivem, trabalham e sobrevivem, legal ou ilegalmente, nas franjas da sociedade americana, sobretudo ligadas ao mundo do sexo. No papel da profissionalmente pragmática e vivida, mas sentimentalmente ingénua e tenrinha Ani, a pequena e dinâmica Mikey Madison carrega o filme às costas e é o seu hiperactivo centro de gravidade, e nunca permite que a personagem venha mendigar a nossa pena, no que é imitada por Sean Baker. Eurico de Barros         

Filmes em estreia no streaming

O Melhor do Mundo

Comédia dramática mexicana sobre um produtor de televisão que sofre uma perda significativa na sua vida, e decide, para cumprir uma promessa que fez, embarcar numa emocionante e divertida viagem com o filho e uma velha amiga da família.

Netflix. Estreia a 9 de Abril

G20

Filme de acção sobre um ataque terrorista à cimeira dos G20, durante o qual a Presidente dos EUA (Viola Davis) vai ter que recorrer à sua experiência militar para defender a família, proteger o país e procurar ajudar os outros líderes mundiais.

Amazon Prime Video. Estreia a 10 de Abril

Mais cinema

Publicidade
Recomendado
    Também poderá gostar
    Também poderá gostar
    Publicidade