Pierre Aderne – Músico
Corria o ano de 2011 quando Pierre aterrou em Lisboa. Queria filmar um documentário sobre reunir Brasil, Portugal e África Lusófona ao som do violão. Então, arrendou uma casa no Poço dos Negros na qual, a cada domingo, se juntaram artistas, para cantar, beber, conversar. Tito Paris, Jorge Palma, Luísa Sobral e Fernanda Abreu são apenas alguns dos nomes que passaram por aquelas tertúlias musicais que, mais do que isso, foram laboratórios criativos, um local de construção de um novo sotaque.
Um ano depois, o documentário chegou ao fim. Só que a vontade de ficar em Lisboa não. “Estava completamente apaixonado por Portugal, toda a vez que voltava para o Rio de Janeiro sentia uma saudade imensa”, confessa – “E nessa altura, depois de gravar um disco e de correr o país com concertos, estava um pouco cansado da distância que havia com o público. Percebi que me divertia muito mais fazendo música lá em casa.” A solução só podia ser uma: abrir as portas à gente de Lisboa. Hoje, a cada sábado, num palacete no Príncipe Real, Pierre recebe sete dezenas de melómanos – ou apenas curiosos – para uma tertúlia que nunca é igual.
Para Pierre, que se autointitula de um “apaixonado pelas sete colinas”, só falta mesmo uma coisa para Lisboa ser perfeita – “Faltam os brasileiros”, ri-se. “O brasileiro tem uma dádiva que é não ter medo de errar. As duas primeiras frases que ouvi quando vim para cá foram ‘Isto cá não é bem assim’ e ‘Isto não é suposto’. No Brasil, tudo é bem assim e tudo é suposto. E há uma alegria complexa, fascinante, no povo brasileiro. Quando vim para cá viver, os portugueses diziam que estavam em crise. Eu entrava num táxi, o português reclamava e reclamava e, na hora do almoço, comia um bacalhau à lagareiro e bebia um copo de vinho. O brasileiro sem um dente na boca, pobre, ainda vai para a praia, ri. Esse descompromisso, essa liberdade, é aquilo de que sinto mais falta.”
Remédio santo quando bate a saudade do Brasil: Comer um acarajé no Acarajé da Carol, no Bairro Alto, e dançar até cair na roda de samba do Titanic Sur Mer, no Cais do Sodré.