Benfica tem uma escola única em Lisboa, onde coabitam miúdos que mal deixaram as fraldas e jovens a braços com o primeiro bigode: a Pedro Santarém. Não é por falta de espaço. É uma experiência de integração, em que os mais velhos “apadrinham” os mais novos, que fomenta a convivência e está a ter bons resultados. Do outro lado do muro, outro caso de sucesso: a EB 2/3 Quinta de Marrocos, que é uma escola de referência para surdos, que conseguem comunicar com os colegas não-surdos porque todos aprendem linguagem gestual portuguesa. Ficam ambas no quarteirão escolar, de onde as crianças do bairro não precisam de sair para ir da creche ao ensino superior. É tudo paredes-meias.
E tudo a um passo do coração do bairro, onde vai nascer a nova FÁBRICA 1921.
“Benfica é uma freguesia ímpar”, diz Ricardo Marques, vogal da junta com o pelouro da Educação e da Formação. “Temos todos os níveis de ensino”, num total que, incluindo as privadas, chega às 32 escolas. Cinco são jardins-de-infância públicos (ou seja, gratuitos). Em breve serão seis. O Instituto Politécnico de Lisboa tem aqui as escolas de educação, comunicação e música. O ISCAL, de contabilidade e administração, está “em vias de começar a construção”, e ainda há uma quinta já prometida: a Escola Superior de Dança. O ensino secundário é garantido pela José Gomes Ferreira (sim, a escola da série 1986), com uma forte ligação às áreas da ciência e “de onde saem grandes médicos e enfermeiros”.
Engenheiros, também. “Um dia apareceu-me aí o João, que foi para o Técnico e que neste momento está na Noruega”, recorda Teresa Lamego. Quis ver a creche onde fez os primeiros desenhos. “Foi uma sensação boa”, suspira a educadora, que trabalha na Pedrita quase desde o início e que foi ela própria aluna neste quarteirão escolar (licenciou-se na Escola Superior de Educação). Teresa, 63 anos, chegou à Pedrita em Novembro de 1977, dois meses depois de esta creche ter aberto por iniciativa de “um grupo de professores muito dinâmico” da vizinha Pedro Santarém. Inicialmente era só para os filhos dos funcionários da escola, agora recebe crianças que idades entre um e seis anos de toda a freguesia. “Isto começou do nada. Estava completamente abandonado”, conta. “A casa foi crescendo, crescendo”, sofreu depois obras de monta e chegou a ter 100 crianças. Agora são 80. Um número muito diferente do que Teresa encontrou de início: “uns cinco ou seis”. Hoje, os miúdos de então confiam-lhes os seus filhos. É a segunda geração da Pedrita.
Jovem, palpitante e a crescer
Apesar do estigma de ser um bairro envelhecido, Benfica “está 2% abaixo da média da cidade ao nível do envelhecimento”, nota Ricardo Marques. “Temos tido muitas entradas de jovens casais”, o que este executivo da junta acredita que continuará devido aos projectos de habitação previstos para diversos locais da freguesia, incluindo a FÁBRICA 1921, a nascer no local da antiga Fábrica Simões. Simultaneamente, o bairro recusa transformar-se num dormitório de Lisboa. “Uma das estratégias tem sido criar eventos de referência, que tragam as pessoa à rua, para fruir do espaço público e conviver” com os outros habitantes, sublinha Ricardo Marques. Outra estratégia está a ser feita através das crianças, mobilizando-os para as artes e o desporto.
“Uma vez por semana, os miúdos são resgatados do espaço escolar, com transportes assegurados pela junta, e vão praticar desporto, vão fazer teatro ao Auditório Carlos Paredes ou vão ao Palácio Baldaya fazer yôga”, enumera Ricardo. Os pais vão buscá-los e convivem com os técnicos, com os clubes, com as associações, e isto tem trazido muita vida à freguesia.” As modalidades são as mais diversas: futebol no Clube de Futebol de Benfica, râguebi no Grupo Desportivo Direito, padel na Mata de Benfica, onde também se pode fazer rapel, slide, escalada ou tiro com arco no Bx Adventure Park, ou natação na piscina do complexo desportivo que chegou a albergar a sede do Sport Lisboa e Benfica até aos anos 1980 e onde também há um rinque à disposição e um ginásio.
Quando o ano lectivo acaba, entram em acção dois programas de férias muito populares. Joana Nena, coordenadora do ginásio, explica: “Nas férias activas, as crianças têm várias experiências durante uma semana, desde idas à praia, actividades desportivas, piqueniques e uma dormida fora de casa; depois temos as férias desportivas, em que vamos para o Malhadal, um parque desportivo em Proença-a-Nova, onde fazemos imensas actividades e muitas coisas ligadas às parte aquática, desde caiaques a descidas de rio”. “Eles adoram”, diz a professora. “Assim que acabam as aulas já estão ansiosos: ‘Quando é que chega Agosto, para eu ir de férias?...’ É muito giro.”