Pode um restaurante ser sustentável quando na cozinha não se dá vazão ao plástico, aos sacos de vácuo ou à película aderente? Quando grande parte do seu produto vem de uma grande superfície ou de países longínquos? Quando se desconhece a origem e a forma de produção? Ou quando se paga miseravelmente a quem ali trabalha, forçando a uma sobrecarga horária? A resposta é fácil: não. Mais difícil é combater a desinformação, deslindar as boas práticas, desmascarar o marketing e não ceder ao greenwashing.
A Primavera chegou com temperaturas de Verão. O calor faz-se sentir desde finais de Março e nos próximos meses deve intensificar-se. Na memória está ainda o Verão do ano passado, que segundo o Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas do Copernicus foi o mais quente de sempre na Europa. Este ano ainda não sabemos como será, mas o que é certo é que o planeta está a aquecer e que estes fenómenos extremos e fora de época são cada vez mais comuns em cidades por todo o mundo. Lisboa, com o seu clima mediterrâneo e com temperaturas cada vez mais altas, não é excepção. Mas e se existissem locais na cidade onde nos pudéssemos abrigar – “refúgios climáticos”?
“Um refúgio climático é um sítio onde as pessoas podem estar durante as vagas de calor. Podem ter árvores ou arbustos para criar sombras e podem ter elementos de água que permitam às pessoas refrescarem-se”, explica o analista de dados Manuel Banza. O jovem lisboeta acredita que estes refúgios podem ser uma boa forma para mitigar os efeitos urbanos das alterações climáticas. Isso motivou-o a fazer um estado da arte no que diz respeito a estes refúgios em Lisboa, onde as temperaturas já ultrapassam os 30 graus Celsius e aumenta a preocupação com a falta de opções de alívio do calor durante o dia.
Foi em Abril que publicou o artigo “Identificação e Priorização de Locais para Refúgios Climáticos em Lisboa”, no qual nomeia os locais específicos que mais necessitam da criação deste abrigos, numa altura em que as ondas de calor se estão a tornar cada vez mais frequentes e a precipitação mais irregular. O trabalho foi inspirado, por um lado, por uma proposta do partido Livre, aprovada em Julho de 2022 na Assembleia Municipal de Lisboa, que incluía a criação de uma rede de refúgios climáticos na cidade para serem identificados nesse mesmo ano – o que acabou por não acontecer, mas já lá vamos. Por outro, pelo que está a ser feito em Barcelona, visto que a cidade catalã está na vanguarda deste processo, ao criar uma rede de refúgios climáticos em escolas, pátios e bibliotecas.
Para identificar os locais que mais precisam de refúgios climáticos na cidade, Manuel Banza começou por visualizar o efeito da ilha de calor ao entardecer. Este fenómeno refere-se ao aumento da temperatura em áreas urbanas, onde o calor é sentido com mais intensidade, em comparação com as áreas rurais circundantes (no caso de Lisboa é usada como referência a estação meteorológica do aeroporto, devido à escassa edificação da zona). Depois, analisou a distribuição espacial de espaços verdes e elementos de água pela cidade, verificando a relação com as zonas de maior exposição e incidência solar.
Identificando a localização de pontos de interesse, como bibliotecas e piscinas municipais, bebedouros, espaços verdes, lagos e fontes, registadas num mapa interactivo, e características importantes nos refúgios climáticos, utilizou critérios como proximidade a jardins, parques e bibliotecas, distribuição de árvores e número de habitantes por quarteirão (BGRI, segundo dados do Censos 2021) para identificar as zonas mais críticas da cidade em relação à mitigação dos efeitos de calor das alterações climáticas. Analisados esses factores, foi possível identificar as seis zonas que estão mais expostas ao sol e precisam de abrigos com maior urgência: Ajuda, Alto de São João – Morais Soares, Chelas, Bairro do Rego, Baixa e Parque das Nações. A conclusão para estas duas últimas é consistente com os resultados dos estudos que têm sido realizados pela Universidade de Lisboa (UL) nos últimos 40 anos. Segundo Cláudia Reis, investigadora do Grupo de Investigação em Alterações Climáticas e Sistemas Ambientais da UL (ZEPHYRUS), a frente ribeirinha está sempre mais quente, mesmo com a influência do vento e a proximidade da água.
Sabe-se que devido à morfologia urbana e ao calor antrópico – que se refere ao aumento de temperatura causado por actividades humanas, seja o tráfego de veículos, a construção de edifícios com materiais de cores escuras que absorvem o calor, a impermeabilização dos solos, a densidade urbana e a falta de áreas verdes, como parques e árvores –, as cidades tendem a aquecer mais do que as áreas rurais e com vegetação. Em Lisboa, as diferenças de temperatura causadas pelo efeito de ilha de calor podem variar entre 2 e 3 graus Celsius. No entanto, em alguns locais, as diferenças podem ser ainda mais significativas, com uma variação de até 11 graus em relação aos valores registados no aeroporto, diz António Lopes, professor associado do Instituto Geografia e Ordenamento do Território (IGOT), investigador do Centro de Estudos Geográficos e coordenador do ZEPHYRUS.
Apesar de ter muitos jardins, árvores e sombra, o Parque das Nações é um dos bairros mais afectados pelo efeito de ilha de calor em Lisboa. Isso deve-se à construção realizada naquela zona, que deturpou os planos originais para a Expo 98 e não teve em consideração o impacto ambiental de todas aquelas edificações na circulação do ar, como comprovou o projecto Ondas de Calor Lisboa 2020, integrado no Plano de Acção Climática do município, no qual António Lopes e Cláudia Reis participaram. “A Expo foi planeada para o vento penetrar a cidade. Esperava-se um Verão muito quente e, portanto, todos os edifícios estavam planeados de modo a que a brisa entrasse, mas o que aconteceu é que, nos anos a seguir, começaram a construir edifícios muito altos, que começaram a bloquear o vento”, diz António Lopes. O Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas, para o qual o investigador também contribuiu, prevê que esta situação ainda se venha a agravar, devido ao ar quente proveniente do Norte de África ou do interior da Península Ibérica.
Na Baixa, o problema é diferente. No seu trabalho, Manuel Banza aponta como factores para a retenção do calor a concentração de pessoas (turistas, em particular), os edifícios altos e a presença de muito alcatrão nas ruas. Além de que não existem espaços abertos nem áreas verdes para absorver o calor. António Lopes explica que a vegetação é muito relevante na promoção da evapotranspiração, processo em que as folhas transpiram e extraem energia do ambiente, contribuindo para o seu resfriamento.
Brisas e sombras para arrefecer
Ao contrário do que possa parecer, nem a noite ajuda. Em áreas urbanas densas, com edifícios compactos e ruas pouco ventiladas, o refrescamento durante as horas nocturnas não ocorre e a energia é acumulada, resultando em zonas urbanas mais quentes. É o que acontece na frente ribeirinha, nomeadamente na zona oriental da cidade e na Baixa. Ou seja, os locais mais afectados pela ausência de vento são aqueles em que se presume que as brisas penetram, mas que estão bloqueados por construções.
Cláudia Reis tem se dedicado ao estudo do efeito da brisa no arrefecimento da cidade por meio de modelagens do vento. As brisas mais importantes são provenientes de Oeste, vindas do Tejo e do Oceano Atlântico, e ocorrem “normalmente em cerca de 30% dos dias de Verão”, conseguindo arrefecer, por exemplo, até 4 graus as zonas mais críticas de Lisboa. Porém, esta brisa não chega a toda a cidade. A construção de edifícios – que está a crescer em direção ao Norte – bloqueia “a nortada [o vento proveniente de Nordeste], que é muito importante para arrefecer a Baixa e remover os poluentes”.
Dentro de um conjunto de medidas eficazes na luta contra as alterações climáticas, Cláudia Reis destaca a substituição de pavimentos impermeáveis por pavimentos permeáveis como uma opção viável, visto que esses pavimentos retêm a água e não absorvem tanto calor. A redução do tráfego em algumas ruas da cidade é outra medida apontada, uma vez que a poluição produzida pelos automóveis agrava o efeito da ilha de calor e contribui para manter a “bolha” de calor na cidade. Como observado pela mesma investigadora numa conferência sobre o clima urbano realizada em Viena, a instalação de chuveiros pode ser outra opção para mitigar o efeito de calor em áreas urbanas.
Outra medida tão simples quanto eficaz é a criação de sombras. Além de mitigarem o efeito de calor, proporcionam alívio em dias quentes e ensolarados, reduzindo também a necessidade de uso excessivo de ar-condicionado. De resto, alerta a Cláudia Reis, nem todos têm acesso a estes equipamentos. Sobretudo quando estão em casa e não têm alternativa para aplacar as altas temperaturas. “Durante a noite, a população mais vulnerável, como crianças e idosos, pode ser afectada pela falta de opções para se refrescar, já que muitos não têm acesso ao ar-condicionado em casa ou não podem ir a espaços mais frescos, como centros comerciais”, realça, em tom de preocupação.
Em relação à selecção de árvores para plantar em Lisboa, é recomendável optar por espécies de folha caduca, uma vez que bloqueiam a radiação solar durante o Verão e permitem a passagem no Inverno. Caso não seja possível plantar árvores nas zonas críticas, é possível instalar toldos removíveis depois do Verão, sustenta a especialista. No entanto, como sublinha António Lopes, “é preciso esverdear a cidade”. A vegetação e a presença de áreas verdes nas ruas de Lisboa exercem um papel crucial no processo de arrefecimento urbano.
Ilhas de frescura no coração da cidade
Um estudo realizado por Cláudia Reis, que tinha como objectivo analisar o impacto de dois jardins da cidade na temperatura das ruas em redor – no caso, o Jardim Gulbenkian, na Avenida de Berna, e o Jardim Fernando Pessa, na Avenida de Roma –, veio comprovar isso mesmo. Utilizando a estação meteorológica do IGOT como referência, instalou aparelhos de medição de temperatura em vários pontos do Jardim Gulbenkian e noutras áreas fora dele, incluindo a Avenida Miguel Bombarda. E o que descobriu foi que é necessária uma cobertura vegetal de 50 metros quadrados para reduzir a temperatura do ar em 1 grau, embora essa redução seja limitada a uma área específica.
“Com a Gulbenkian consegui identificar reduções de temperatura até 100, 150 metros, por exemplo, até à avenida Miguel Bombarda. Portanto, a influência daquele espaço, que tem cerca de três a quatro hectares, conseguia-se sentir nas ruas à volta.” O mesmo não se pode afirmar sobre outros espaços verdes, como o Parque Eduardo VII ou o Jardim Fernando Pessa. A observação deste último mostrou que a relva não possui praticamente nenhum efeito de arrefecimento. Aliás, produz o efeito contrário. “Conseguimos perceber que, na verdade, muitas vezes o jardim estava mais quente do que a rua”. E porquê? “Porque a maior parte é relvado”, que absorve mais energia em comparação à vegetação.
“Utilizo frequentemente o Jardim Gulbenkian como um refúgio climático. É um exemplo muito bom de como um espaço verde no centro da cidade pode ter um impacto significativo na redução da temperatura ambiente”, afirma Manuel Banza, enquanto aponta para o mapa em que se visualiza o efeito da ilha de calor ao entardecer. “Como podes ver, o jardim está colorido a azul, o que indica que a temperatura está abaixo da linha zero. Além de mitigar as ondas de calor, esses espaços verdes podem ser mais frescos do que o normal.”
O Jardim do Torel, na Rua Júlio Andrade, é outro exemplo de um bom refúgio climático. Contudo, é essencial considerar a composição desses espaços verdes, incluindo a presença de sombras e elementos de água, que são cruciais para criar um verdadeiro abrigo, nota o analista de dados. O jardim da Alameda D. Afonso Henriques “nunca poderá ser um refúgio”, exclama, “é preciso haver sombras e elementos de água”. A presença de espaços verdes nas ruas da cidade, com variedade de vegetação e árvores, como é o caso da Gulbenkian, tem um efeito positivo no conforto térmico daquela zona. Estas são as chamadas ilhas de frescura. Também é importante considerar a arborização das ruas, como nota, ao pensar na rua onde reside, que carece de árvores. A diferença de temperatura entre a Rua Pascoal de Melo e a Almirante Reis, que são perpendiculares, pode chegar a “4 ou 5 graus”, devido à falta de árvores nesta que é uma das artérias principais de Lisboa.
Refúgios climáticos como espaço de convívio
“Com o aumento da frequência de temperaturas extremas, é crucial que as cidades se preparem para mitigar esse problema”, alerta Manuel Banza, enfatizando que Lisboa enfrenta uma falta de espaços públicos de convivência e lazer, que não estejam inseridos em locais onde há grande fluxo de carros e onde exista ruas pedonais ou árvores. A criação desses espaços pode ajudar a resolver o problema das ilhas de calor e das altas temperaturas, além de melhorar o espaço público, permitindo que as pessoas desfrutem da cidade, em vez de usá-la apenas como um “meio de transporte do ponto A ao B”.
Ou seja, a ideia dos refúgios climáticos passa também pela criação de espaços de convívio que vão “fomentar o sentido de pertença daquele bairro e freguesia”. A construção de habitações sem a implementação de espaços verdes e de lazer não é uma solução viável, defende. Zonas como Chelas e o Bairro do Rego, que considera como “historicamente esquecidas”, foram construídos sem levar em consideração a importância desses espaços, resultando em “prédios enormes”, com pouco espaço verde e reduzido espaço público. Isto causa “um impacto negativo na saúde pública e na economia”, avisa.
Envolver a comunidade na identificação destes espaços é aquilo que Manuel Banza propõe através de um “processo bottom-up de co-criação e pesquisa etnográfica”. Isso garante que as soluções sejam adequadas e aceites pela comunidade, promovendo um sentido de propriedade compartilhada pelos moradores e utilizadores do local. O objectivo é incentivar a autonomia da população e o compromisso com o espaço.
Adicionalmente, a presença de elementos verdes é também crucial para a absorção de água durante as cheias. Este é um exemplo do conceito nature-based solutions, um conjunto de acções ou políticas que utilizam o poder da natureza para enfrentar desafios sociais urgentes, como ameaças à segurança hídrica, risco crescente de desastres naturais ou as mudanças climáticas. Essas soluções envolvem proteger, restaurar e gerir ecossistemas de forma sustentável, enquanto preservam a biodiversidade e melhoram o bem-estar humano.
As colocações de toldos horizontais nas janelas, por exemplo, ajudariam a reduzir o impacto directo do sol e a aumentar o conforto térmico nas casas, especialmente em áreas como Arroios, onde as temperaturas extremas são intensamente sentidas independentemente do clima, afirma ainda Manuel Banza. No entanto, os refúgios não devem ser só pensados para as vagas de calor. As alterações climáticas também potenciam fenómenos relacionados com o frio. Logo, observa António Lopes, estes abrigos têm igualmente de os ter em conta, abrigando quem que tem dificuldades em manter uma temperatura confortável.
O calor aperta e Lisboa responde
De acordo com o estudo Excess Heat Factor climatology, trends, and exposure across European Functional Urban Areas, publicado em 2022 na revista científica Weather and Climate Extremes, Lisboa é a sétima cidade europeia mais exposta às ondas de calor, tendo também em consideração a população idosa. O ano de 2022 foi o mais quente em Portugal continental desde 1931, com seis ondas de calor registadas, conforme o boletim anual do Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Tendo em conta estes dados, como é que Lisboa se está a preparar para enfrentar o verão deste ano?
Os refúgios podem ser criados em locais que sejam bem isolados, explica António Lopes. “Desde que seja possível controlar a humidade relativa, e não seja muito alta, é possível utilizar qualquer espaço.” Ainda em análise, mas apontado como uma das melhores opções, estão os interiores das igrejas.
Esta era precisamente uma das recomendações da proposta apresentada pelo Livre em Julho de 2022, que consistia na criação imediata de uma rede de refúgios climáticos para dar resposta às ondas de calor desse Verão. “A proposta que pensamos no ano passado, tinha no fundo duas partes: uma era que fosse imediatamente identificada uma estrutura para esse ano e a outra, uma rede de refúgios climáticos para o Verão de 2023, mas isso não foi feito de todo”, lamenta a deputada municipal do Livre, Isabel Mendes Lopes. “Era só usar espaços que já existem, como bibliotecas, igrejas, museus. Garantir que a cidade está coberta de locais onde as pessoas se podem salvaguardar de temperaturas elevadas, que garantam todas as condições de acessibilidade e estejam todas a menos de dez minutos a pé”, diz.
As recomendações do partido não foram implementadas de imediato. Contudo, segundo o último relatório “Informação Escrita do Presidente”, o Departamento de Ambiente, Energia e Alterações Climáticas da Câmara Municipal de Lisboa está a trabalhar numa “Rede de Refúgios Climáticos”. O projecto encontra-se em fase de pesquisa, recolhendo informações sobre iniciativas semelhantes já implementadas em Paris, Barcelona, ou em algumas cidades dos EUA. Existe ainda o programa Arrefecer a Cidade, que tem como objectivo combater os efeitos do calor na população e prevê a transformação de praças urbanas em espaços verdes e mais frescos, bem como o aumento da presença de árvores nas ruas.
De resto, há directrizes internacionais que recomendam a manutenção de uma proporção entre a largura dos edifícios e a largura das ruas, uma vez que uma densidade muito elevada pode reduzir a velocidade do vento, absorver a radiação solar e aumentar a temperatura local. “A Câmara Municipal de Lisboa precisa de adaptar essas orientações para incorporá-las no seu regulamento municipal”, considera António Lopes.
“Nas cidades temos um triplo problema: temos o efeito de ilha de calor, os efeitos das alterações climáticas e as ondas de calor. As alterações climáticas são uma realidade que tem acontecido há anos e para o futuro, as projecções indicam que as temperaturas dupliquem, ou talvez mais”, alerta. “Temos três formas de combater as alterações climáticas: mitigar, adaptar ou sofrer.” O que há a fazer neste momento, especialmente na zona ribeirinha da cidade, é actuar ao nível dos quarteirões.
Por sua vez, Cláudia Reis enfatiza a necessidade urgente de soluções para lidar com as temperaturas extremas que estão previstas para Lisboa. Num estudo que realizou sobre o conforto térmico em Lisboa, onde modelaram várias áreas para os diferentes bairros, aperceberam-se que em termos de temperatura sentida, daqui a umas décadas, poderão chegar entre 50 a 55 graus durante o dia. “O que estamos a sentir agora é só a ponta do icebergue e Lisboa, no Verão, vai tornar-se completamente insuportável.”
Barcelona, um modelo de referência
As mudanças climáticas têm causado impactos significativos em todo o mundo, incluindo o aumento da frequência e da intensidade das ondas de calor. Diante desse desafio, muitas cidades têm procurado desenvolver soluções para proteger os seus cidadãos do calor excessivo, sobretudo aqueles que pertencem a grupos mais vulneráveis. Barcelona tem estado na dianteira desse processo.
Desde 2019 que, na capital da comunidade autónoma da Catalunha, os refúgios climáticos fornecem alívio à população durante as ondas de calor. Estes abrigos estão localizados em escolas, centros comunitários e outros edifícios públicos de toda a cidade, com mais de 200 locais disponíveis. A prioridade é que todas as pessoas estejam a menos de dez minutos de um destes refúgios e sejam facilmente identificados, tendo sido criado um mapa interactivo online que exibe a localização mais próxima, em caso de necessidade urgente.
Equipados com ar condicionado e água potável, estes refúgios são projectados para acomodar um grande número de pessoas. A inauguração da Biblioteca Gabriel García Márquez, em Junho do ano passado, num dos Verões mais quentes desde 1914, demonstra que as bibliotecas pensadas como refúgios climáticos são já uma realidade: confortáveis, espaçosas, com diversa vegetação e espaços de co-working.
Mas o conforto térmico não fica apenas por aqui. Também as ruas são um reflexo das cidades que se preparam para os desafios colocados pelas mudanças climáticas. São espaços mais verdes e seguros, cada vez mais resguardadas para toda a população, reduzindo o espaço para o automóvel.