Fable Lisbon
© Francisco Romão Pereira / Time OutMelyssa Griffin no Fable, o café-livraria que abriu no Príncipe Real
© Francisco Romão Pereira / Time Out

Estas livrarias em Lisboa dão-lhe mais que fazer

Têm livros nas estantes, mas também comes e bebes. São as mais completas livrarias em Lisboa e estão à espera da sua visita

Raquel Dias da Silva
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Nem só de livros vivem estes espaços culturais em Lisboa. Há também lanches e cartas de vinhos. Outro género de literatura, portanto. São uma dúzia de livrarias especiais, onde uma visita significa muito mais do que virar umas páginas e ler meia dúzia de prefácios na diagonal. A programação, quase sempre de entrada livre, conta também com exposições de arte, conferências, ciclos de leitura, workshops e até jogos de tabuleiro. Já para não falar do cafezinho da praxe. Parta então à descoberta destas livrarias em Lisboa que têm mais coisas para fazer – para além de abastecer as estantes, claro.

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Estas livrarias em Lisboa dão-lhe mais que fazer

  • Chiado/Cais do Sodré

Há dez anos, Melyssa Griffin estava a trabalhar como professora de inglês em Tóquio, no Japão, ainda longe de imaginar que à boleia de uma viagem de carro por Portugal se apaixonaria por outro país e mudaria toda a sua vida mais uma vez. Parando para reflectir como veio aqui parar – aqui é o Fable, o café-livraria que abriu no Príncipe Real, com dois pisos e um pátio pet-friendly –, diria que as grandes motivações foram a vontade de escapar aos horrores do ensino e a descoberta do online. Assim nasceu este espaço para cultivar o amor-próprio e o sentido de comunidade. À entrada, o rés-do-chão destaca-se pelo mural de dançarinas nuas, uma estante onde convive uma selecção de livros e outra de vinhos naturais portugueses, e a cozinha onde o menu salta das páginas para as mesas. Criada com a consultoria da chef Céline Wilding, a ementa privilegia ingredientes naturais e maioritariamente orgânicos, razão porque há muitas opções vegan ou vegetarianas, sem glúten, sem açúcares refinados e sem lactose. No andar de baixo, há mais estantes e mais livros, porque a selecção à entrada não é suficiente para alimentar verdadeiros leitores.

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  • Grande Lisboa

A viver em Lisboa desde 2019, a autora e criativa Alex Holder resolveu abrir a livraria independente que nunca conseguiu encontrar e sempre quis ter na cidade – e que já é uma das melhores livrarias estrangeiras em Lisboa. Na Salted Books, em Santos, as estantes só têm livros em inglês. A selecção é para todas as idades, cuidada, ecléctica e atenta ao pensamento contemporâneo, diverso e inclusivo. Há ainda programação cultural, desde festas literárias temáticas até conversas com autores estrangeiros. O espírito cultural londrino, nomeadamente no que diz respeito ao mercado literário, é o que Alex Holder quer recriar na Salted Books. A Morning Writer’s Hour, por exemplo, é – tal como o nome sugere – uma hora de manhã, neste caso pelas 07.30, para escrever. 

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  • Coisas para fazer
  • Eventos literários
  • Alcântara

Quando abriu na LX Factory, a Ler Devagar era a única em Lisboa da sua espécie. Espaçosa, com livros por todo o lado, dois andares, um café e vestígios da maquinaria da antiga gráfica. As singularidades mantêm-se e continua a ser uma das melhores livrarias em Lisboa para se ter um bom tempo de leitura, dois dedos de conversa enquanto bebe um café e até, espante-se, para encontrar aquele disco ou aquele vinil de que andava à procura – a loja de discos Jazz Messengers juntou-se à livraria em 2020, com cerca de 4 mil títulos, que vão muito além do catálogo da Distrijazz. É caso para dizer que na Ler Devagar não há falta de oferta, nem para leitores nem para melómanos.

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  • Eventos literários
  • Lisboa

Há livros ao desbarato logo à entrada, edições do mais rebuscado que já se viu, volumes em segunda mão e pequenas editoras à espera de serem descobertas. Mas há de facto mais qualquer coisa além dos livros nas prateleiras. Além da actividade livreira, a Tigre de Papel dispõe de um pequeno auditório e a programação regular, diversificada e de qualidade inclui ciclos temáticos, debates, visionamento de filmes, comunidade de leitores, actividades para crianças e lançamento de livros.

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  • Cais do Sodré

Sim, é possível ler (e ir às compras) no Cais do Sodré. Aquela ideia de que a rua do pavimento cor-de-rosa é só barulho e copos caídos é para esquecer. Bom, pelo menos é esse o propósito da livraria-bar Menina e Moça, desejo antigo de Cristina Ovídio, ex-professora de Literatura Portuguesa que actualmente faz parte da editora Clube do Autor. O tecto do espaço é obra do ilustrador João Fazenda e, além de uma porrada de livros (a colecção dá especial destaque à lusofonia e às traduções), há cocktails para vários gostos bem como refeições leves como tartes, folhados e quiches. Para não comer páginas se bater a fome.

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  • Eventos literários
  • Grande Lisboa

A Leituria está de cara lavada, mas – apesar de não se encontrar na morada original – é a Estefânia que continua a albergar esta livraria. Bem mais apertado que o antigo poiso, a nova Leituria serve-se de uma das entradas do Misturado – a outra é a de uma cafetaria – para dispor as altas estantes recheadas de livros, que até do tecto pendem, ainda que seja como decoração. Vítor Rodrigues, o dono, quis manter o mesmo conceito de livraria de bairro que já tinha na Rua Dona Estefânia, com uma selecção vasta de autores “pouco comerciais” e “livros usados que não se encontram em muitos locais.” A porta continua, portanto, um verdadeiro corrupio.

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  • Areeiro/Alameda

Tem calçada portuguesa e isso é logo um ponto a favor. Emblemática livraria de bairro e uma das mais antigas da cidade (est. 1957), a Barata – que, na verdade, passou a ser gerida pela Fnac em Agosto de 2023, embora mantenha estatuto de “Loja com História” – não só tem livros, serve café e organiza eventos culturais, desde exposições até lançamentos e tertúlias literárias. Melhor só o facto de permitir a entrada a cães, o que, esperamos, venha elevar o nível de literacia dos nossos amigos de quatro patas.

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  • Estrela/Lapa/Santos

É galeria, café e livraria, tudo ao mesmo tempo bem no coração da Madragoa. Sob o lema de que o desenho não tem fronteiras, é a esta arte que a Tinta nos Nervos se dedica. Na livraria, douram as prateleiras autores como Philipe Guston, Lorenzo Mattotti, Robert Crumb, Charles Burns, Bruno Munari, Hector de la Valle, Maria João Worm, Dinis Connefrey, Filipe Abranches, André Ruivo ou Ema Gaspar. Na galeria, as exposições vão rodando, sempre com a premissa de o artista ou artistas criarem um objecto em exclusivo para o espaço. Ao fundo, há um café com esplanada interior, onde além de chávenas de cafézinho da Flor da Selva e pão da Gleba, há espaço para ler e para participar nos workshops e conversas que vão aparecendo na agenda.

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  • Campo de Ourique

Está num dos bairros mais catitas de Lisboa, apinhado de miúdos. Adivinhou qual é? Campo de Ourique, pois claro. A Baobá abriu pelas mãos da Orfeu Negro, portanto pode contar com todo o catálogo da editora, além de outras como a Tcharam ou a Planeta Tangerina. Aqui, o principal foco está no encantado mundo dos livros ilustrados do universo infanto-juvenil. Todos os sábados a livraria organiza sessões de histórias, oficinas ou exposições. O calendário de eventos está sempre cheio, só precisa de estar atento à página de Facebook.

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  • Lisboa

Se passa a vida a comprar livros, está na hora de aderir à economia circular, gastar menos e ser mais sustentável. Nesta discreta livraria especializada em títulos em inglês, com dois pisos, encontra obras usadas de autores de todos os cantos do espaço-tempo, desde os clássicos até à literatura infantil. Com alguma paciência, ainda encontra tesourinhos, como livros com bookplates autografadas. E, atenção, para preços ainda mais reduzidos, é só descer até à “sala dos descontos”. Além disso, a Bivar também serve como um mini-centro cultural para os falantes da língua de Shakespeare. Para não perder nenhum evento, é estar atento à página de Facebook.

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  • Areeiro/Alameda

Foi no Verão de 2022, na conhecida Avenida Guerra Junqueiro, que a Livraria Martins se abriu à cidade. Fundada pelo empresário Gonçalo Martins, responsável pelo Grupo Editorial Atlântico, conta com dois pisos e um pequeno café – se o dia estiver agradável e quiser só ir beber café, pode aproveitar que também há esplanada no exterior, mesmo à porta. Nas estantes, a oferta é eclética, com cerca de 300 chancelas, que vão desde os grandes grupos editoriais até aos independentes. Na compra de qualquer livro, oferece-se uma obra editada pela própria livraria e há ainda agenda, com lançamentos de livros e outras actividades.

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  • Princípe Real

“Os livros são objectos transcendentes”: é Caetano Veloso que canta, Rui Campos repete e faz do verso mote de negócio. Rui é o fundador da famosa carioca Livraria da Travessa que se instalou no Príncipe Real, integrada na Casa Pau-Brasil. Este é o primeiro espaço fora do Brasil, onde já existem oito, e traz o mesmo conceito que por lá vinga há 44 anos – uma livraria de bairro com uma curadoria literária única e programação cultural a condizer. Para Lisboa trazem uma valente bagagem para distribuir por mais de 300 m2 e dividi-la entre áreas como Literatura, Fotografia, Arquitetura, Artes, Ciências Humanas ou Biografias. O lote de autores portugueses continua a pesar nas escolhas editoriais da livraria com nomes como António Lobo Antunes, Mia Couto, Alexandra Lucas Coelho, Miguel Torga, Maria Gabriela Llansol ou Eça de Queirós. Para folhear em brasileiro, há autores como Vinicius de Moraes, Caetano Veloso, Machado de Assis, Lilia Moritz Schwarcz, Jorge Amado, Chico Buarque ou Milton Hatoum. A Travessa tem também uma secção infantil só para eles e um pequeno cantinho com cadeiras para leituras miudinhas, que é como quem diz, para os gaiatos se entreterem enquanto os mais velhos se perdem noutros mares literários.

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  • Coisas para fazer
  • Grande Lisboa

Inaugurada a 31 de Outubro de 2023, a Casa do Comum - Centro Cultural do Bairro Alto não é uma livraria, mas – supondo que lá vai por causa dos livros – achámos que valia a pena incluir nesta lista de livrarias que lhe dão mais que fazer. Além de incluir livrarias (sim, no plural) e uma biblioteca, este projecto da Ler Devagar também conta com uma sala para projecções e concertos, um Museu da Preguiça (para ler na preguiça, se lhe apetecer), espaço para dançar e um bar. É também um sonho antigo de José Pinho, que fundou a Ler Devagar em 1999 e morreu em Maio de 2023. Pinho queria que existisse em Lisboa um lugar onde se pudesse viver o ócio, estar e criar juntos.

Arte e Cultura em Lisboa

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