Fernando Medina
Fotografia: Arlindo Camacho
Fotografia: Arlindo Camacho

Fernando Medina: “Usamos mais criatividade local do que se pensa”

Desafiámos empreendedores de Lisboa a fazer perguntas ao presidente da câmara. Fernando Medina responde e dá-lhes troco.

Hugo Torres
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Quanto custa fazer a Web Summit? A cidade não recuperaria mais facilmente esse investimento se ele fosse aplicado nos empreendedores locais?
A Web Summit é uma das alavancas mais importantes para o crescimento da comunidade local de empreendedores. Reforça o posicionamento internacional do sector, valorizando-o como nunca no mercado global. A Web Summit, que este ano espera 70.000 pessoas de mais de 150 países, 1800 startups e mais de 11.000 CEOs, permite um contacto com outra realidade e oportunidades de financiamento e reconhecimento ímpares.

Qual é a estratégia de criação e atracção de talento para Lisboa?
Lisboa dispõe da maior rede de universidades e centros de investigação do país. A cidade tem promovido a transferência do conhecimento da academia, através da ligação à rede de incubadoras e de projectos como o Smart Open Lisboa ou o Lisboa Robotics. Temos também a visão de criar uma cidade que se torne uma das melhores a nível internacional para trabalhar e para viver.

Lisboa tem aprendido com comunidades empreendedoras mais fortes?
Temos aprendido bastante com Paris, Amesterdão ou São Francisco, não só no que têm feito bem mas também nos desafios que atravessam neste processo de crescimento.Para uma startup, é importante que haja flexibilidade e agilidade nos processos. Muitos países têm leis mais simples e menos impostos. Lisboa beneficiaria de um quadro mais favorável para os investidores?Não temos sentido quaisquer problemas a esse respeito. No que nos é possível fazer, temos procurado agilizar procedimentos.

Geralmente os concursos públicos são ganhos por empresas de grande dimensão. Por que não oportunidades exclusivas para startups?
Isso não é bem verdade. Primeiro, temos de seguir as regras de contratação pública. Depois já temos protocolos e contratos com várias startups. Da primeira vez que fui à Web Summit, na última edição em Dublin, conheci um jovem português de uma empresa que se distinguiu nesse ano. O seu projecto era um sistema inteligente de rega dos espaços verdes, em articulação com a previsão meteorológica, permitindo desta forma diminuir o consumo de água em 25 a 30%. Quando lhe disse que tínhamos de aplicar em Lisboa, ele responde-me que os espaços verdes já tinham contratado a sua empresa. Usamos mais a criatividade local do que muitas vezes se pensa e sabe.

Não são dados demasiados apoios a empreendedores de fora de Lisboa, quando é aqui que existe maior dificuldade financeira em prosperar, estudar e viver?
Não é isso que demonstram os números. Temos um problema com o aumento do custo do imobiliário e é por isso que temos em curso um ambicioso programa de renda acessível para garantir habitação às classes médias e jovens à procura de primeira casa.

Com todo este desenvolvimento, é possível manter o charme e a energia comunitária de Lisboa?
Acreditamos que é possível. Temos de garantir um crescimento sustentável que não deixe ninguém para trás. Daí o forte investimento previsto na habitação acessível, nos transportes públicos e em projectos como a promoção dos mercados municipais e as Lojas com História.

Melhorar a mobilidade é extremamente importante. Como vai aumentar a oferta de transportes públicos?
Lisboa está a viver uma verdadeira revolução na área da mobilidade. Passámos a ter um único passe para toda a área metropolitana, por um valor máximo de 40€ mensais. Há seis meses, tínhamos mais de 700 títulos e preços acima dos 100€! Não foi coisa pouca. Segundo, temos a aquisição até 2021 de 350 novos autocarros e 35 eléctricos. O Metro também está em expansão.

Qual é o projecto inovador de Lisboa para combater as alterações climáticas? Está aberto a sugestões?
O projecto mais inovador é mobilizar todos os cidadãos. A Câmara continuará o seu caminho, e com o sistema de reciclagem de água prevemos chegar a 2025 e poupar 8% do total de água potável consumida na cidade, mas precisamos de todos. Para ajudarem no esforço de reciclagem, na compostagem, na limpeza dos espaços públicos.

Admite focar o apoio da Câmara a startups que trabalhem em soluções ecológicas e, ao mesmo tempo, recusá-lo a projectos que sejam manifestamente poluidores?
Já o fazemos há vários anos. Estamos perante uma emergência climática e é nosso dever fazer o que estiver ao nosso alcance.

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