Ilustração de Tiago Galo
Ilustração de Tiago Galo

Oito startups de Lisboa que inspiram a cidade inovadora

Lisboa está a tornar-se um grande centro de inovação. Nunca houve tantas startups, incubadoras, programas de aceleração e espaços de cowork. Lisboa será a casa da Web Summit para os próximos dez anos – e isso não é por acaso.

Hugo Torres
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Lisboa está na moda e a culpa é dos lisboetas. E não estamos a falar de turistas nem de pastéis de Belém nevados de açúcar e canela. É de inovação, criatividade, empreendedorismo, risco e ambição. Há dez anos, os lisboetas foram chamados a votar no orçamento participativo da cidade e, entre 200 projectos, deram prioridade a uma dúzia deles. Um dos quais era uma incubadora de empresas. É essa a génese da Startup Lisboa, que abriu portas em 2012 e se tornou rapidamente no principal estímulo à criação de empresas de tecnologia, comércio e turismo. O antigo secretário de Estado da Indústria João Vasconcelos – que morreu em Março, aos 43 anos – foi o seu primeiro director e o grande impulsionador de um ecossistema que tem florescido e está a transformar a cidade.

A Web Summit é apenas a face mais visível da Lisboa inovadora. A notoriedade da feira de tecnologia – a maior do mundo – parece esgotar-se naqueles atarefados quatro dias em que mais de mil convidados entusiasmam toda a gente com vislumbres fenomenais do futuro. Este ano, a Web Summit decorre de 4 a 7 de Novembro entre a Altice Arena e a vizinha FIL (que vai duplicar de tamanho até 2022, precisamente devido ao acordo para dez anos com a organização liderada por Paddy Cosgrave). Mas, quando tudo acaba, a cidade continua a carburar – com empreendedores nacionais e estrangeiros a gerir operações que começam por parecer uma excentricidade geek e acabam a facturar milhões, captando investimento de multinacionais e com clientes espalhados pelo globo.

Fomos à procura de oito desses casos, passando inevitavelmente pelos dois edifícios reabilitados da Rua da Prata onde funciona a Startup Lisboa (por onde já passaram cerca de 400 empresas, com fundadores de mais de 40 países), e espreitando cinco empresas que se internacionalizaram, empresas com um nível de sucesso no universo da tecnologia que pensaríamos improvável para um pequeno país como Portugal.

Pelo caminho, cruzámo-nos com empreendedores que decidiram mudar de código postal por verem em Lisboa um contexto mais favorável – para os negócios e para viver. São os nómadas digitais. Convidámo-los a entrar, apesar de não saberem comportar-se como nós. Precisamos de algum poder de assimilação para aguentar o exótico hábito que eles têm de elogiar Lisboa. Deve ser cultural. Tivemos de ser tolerantes e respeitar. Para provar que o conseguimos, disponibilizamos-lhes alguns dos escritórios mais bonitos da cidade para usarem como espaços de trabalho partilhado.

Para finalizar, desafiámos os empreendedores a fazer perguntas ao presidente da Câmara. Fernando Medina não deixou (quase) nada por responder.

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Oito startups de Lisboa que inspiram a cidade inovadora

1. Landing.Jobs

Se é para amanhã, bem podias fazer hoje. António Variações era um visionário e, quase 40 anos depois, este verso que escreveu para uma das canções de Anjo da Guarda assenta que nem uma luva na hegemonia tecnológica em que vivemos. Planear é importante. Traçar objectivos de carreira é meio caminho andado para conseguir estar no sítio certo à hora certa. Foi com essa visão que Pedro Oliveira (33 anos) e José Paiva (51) lançaram, em 2014, a Landing.Jobs, uma plataforma de empregos em tecnologia. Primeiro com base em recomendações de amigos (a contratação de alguém implicava uma recompensa de mil euros para o promotor da candidatura), depois com o modelo actual de matchmaking. “Tu como talento podes candidatar-se às empresas, ou as empresas candidatar-se a ti. Mas estás sempre anónimo. O talento tem controlo total do seu job search. Isto é a Landing.Jobs numa frase”, resume Pedro Oliveira. “O nosso desígnio é criar ferramentas que permitam procurar emprego de uma forma eficiente, mas depois controlar a sua carreira totalmente. Queremos ser a melhor equipa do mundo a fazê-lo.” E está a correr bem. “Já colocámos mais de mil pessoas”, diz José Paiva (CEO), revelando que o plano dos dois fundadores é duplicar as receitas da empresa todos os anos, até ultrapassar os 100 milhões em 2024. Depois vendem a empresa. E os objectivos estão a ser cumpridos. O sucesso em Portugal é inegável, nota Pedro: “O número total de malta de IT em Portugal é 110 mil. Estamos cada vez mais perto dos 50% disso, o que é óptimo.” A plataforma tem 130 mil utilizadores, divididos de forma idêntica entre Portugal, a restante União Europeia e a América do Sul (e 10% para o resto). “Há três grandes fluxos que trabalhamos: brasileiros que vêm para Portugal em que a língua e a cultura são questões fundamentais; latino-americanos para Espanha; e o terceiro é para países ricos, malta que quer ganhar muito dinheiro”, observa José Paiva. A Landing.Jobs trabalha com empresas ibéricas, alemãs, holandesas e britânicas – o Brexit obrigou a repensar a estratégia para o Reino Unido, impulsionando a criação de um spinoff, a Landing.Work, direccionada para contractors e projectos específicos, em vez de empregos convencionais. “O nosso problema não são os clientes. É o talento. Somos aquela empresa que não vende mais porque não tem mais produto para vender.” O produto, no caso, são as pessoas, que passam por um processo de triagem e avaliação para que a plataforma consiga ter à disposição os melhores profissionais e para que estes tenham uma expectativa realista em relação ao seu valor de mercado. Por outro lado, as empresas também são escrutinadas, sublinha Pedro Oliveira: “Todas as empresas que estão connosco são legítimas. Validamos todas, uma a uma”. O mercado agradece a curadoria.

2. Eattasty

Quem é que gosta de chegar a casa no fim de uma longa jornada de trabalho e empatar o serão a cozinhar o almoço do dia seguinte? Meia dúzia de líricos. A maior parte de nós, assalariados, quer comer bem e barato sem ter de investir muitas horas nisso. Até há pouco tempo, havia apenas duas alternativas à marmita: comer num restaurante das imediações, o que pode ser repetitivo ou demasiado caro; ou encomendar comida, pagando taxa de entrega. Rui Rocha Costa e Orlando Lopes, que trabalhavam juntos numa empresa de marketing digital em Lisboa, debatiam-se eles próprios com este problema. Começaram a pensar numa solução que respondesse à preguiça e ao racional económico: a marmita teria de chegar ao local de trabalho, já pronta, por um preço suficientemente baixo para a encomenda poder ser feita de forma regular. “Todos os concorrentes que vimos fora de Portugal estavam focados no jantar e no comportamento ocasional”, lembra Rui Rocha Costa, 41 anos, natural de Vila Nova de Famalicão. “Como é que esses modelos de negócio se podiam adaptar?” A resposta estava na logística. Teriam de entregar várias refeições na mesma morada. A abordagem ao preço foi igualmente criativa. “Do lado dos restaurantes que trabalham com serviços de entrega de comida, havia um desafio muito grande: as encomendas são feitas durante o horário do serviço de mesa, em horas de pico. O que pensámos foi: de que forma é que não necessitamos de competir com o serviço de mesa?” As encomendas têm de ser feitas e finalizadas antes de os restaurantes sequer abrirem ao público. O que permite também rentabilizar a cozinha em horas até aqui vazias. “Por outro lado, se quisermos 100 refeições, não fazemos 100 pedidos. Fazemos um único pedido de 100 refeições. E com antecedência. Nós assumimos o risco de encomendar sem ter encomendas”, diz Rui Rocha Costa. O desperdício fica abaixo dos 3%, e é entregue à ReFoofd, assim como as embalagens recolhidas junto dos clientes, depois limpas, para que possam servir de recipiente a outras doações de comida. A Eattasty arrancou em Março de 2016. Três anos e meio depois, entregam mil refeições por dia. Desde o início, foram mais de 230 mil refeições, metade das quais em 2019. Os preços variam entre os 5,90€ e os 6,90€. No Verão, depois de montarem operação em Madrid, receberam 1,1 milhões de euros de investimento para crescer em Espanha. “Éramos seis pessoas em Maio, somos 20 agora e estamos a recrutar”.

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3. Maison Pixel

A materialização de personagens de videojogos tem dado pano para mangas na ficção e nos sonhos de humanos com um fraquinho por computadores. Foi o que aconteceu com Sebastião Teixeira, em 2012: depois de uma noite passada a revisitar videojogos dos anos 1980, adormeceu e viu a luz. “Tive um sonho em que as raparigas tinham esta roupa interior. Como tinha computador ao lado, fiz um esboço muito simples em Photoshop do que poderia ser. E fui trabalhar”, recorda o designer de 39 anos. Quando chegou à agência de publicidade, partilhou a sua visão com os colegas, incluindo Cesária Martins, também designer e da mesma idade. “Ela disse que era giro e que devíamos fazer.” Fizeram: roupa interior e de banho inspirada em píxeis, peças recortadas como se a malha fosse fiada a 8 bits. “A ideia era tão estapafúrdia que pensámos que a única forma de a trazer ao mercado era fazendo um crowdfounding”, diz. “O objectivo nem sequer era fazer uma empresa.” Mas a campanha correu muito bem. “Tivemos quase 200% do financiamento. Logo à partida, tivemos encomendas de mais de 50 países. Sendo que grande parte delas foi logo nos EUA e portanto aquilo entrou numa espiral.” A estratégia passou por lançar o crowdfunding em directo na RTP, no “5 Para a Meia-Noite”, com o humorista e culturista pop Nuno Markl. Um jornalista da Gizmodo estava em Portugal, assistiu ao lançamento e escreveu um artigo em França. Seguiu-se um post num blogue de tecnologia norte-americano – e a ideia explodiu. Estávamos em 2014. A colecção e o negócio propriamente dito nasceram no final do ano seguinte. “Tivemos um comportamento atípico: a maior parte das empresas cresce e depois fica em plateau; nós começámos muito de cima para atingir o mesmo plateau, e isso implicou que descêssemos um bocadinho. O início foi de facto muito forte.” Sebastião Teixeira diz que, apesar dos muitos convites que têm recebido para expandirem para o retalho, o plano é continuar a apostar no e-commerce – mesmo que as constantes mudanças de algoritmo do Facebook e do Instagram estejam a minar-lhes o terreno em que inicialmente floresceram. Chegaram a tentar dar o salto para o comércio em Hong Kong, “mas não funcionou tão bem”. O mercado asiático exige um grande investimento. Os EUA e a Europa são os destinos de exportação, aos quais acrescem Japão, Coreia do Sul, Austrália, Canadá, países da América Latina... Em 2018, tendo em vista a expansão do negócio, tornaram-se a primeira startup portuguesa de moda a financiar-se na Seedrs: “Vendemos um bocadinho de equity da empresa para um grupo pequenos de investidores.” O que não muda desde o início é a dupla criativa desta original linha de roupa e o local onde são produzidas – o berço e centro têxtil do país, Guimarães.

4. Prodsmart

Gonçalo Fortes nasceu em 1980, em Évora. Veio para Lisboa com 18 anos para estudar no Técnico. Pouco depois de deixar a universidade, criou a primeira empresa, a CrazyDog. O mundo das startups só se abriria para este jovem empresário em 2013, com a fundação da Prodsmart, em conjunto com Samuel Martins. “O meu pai tinha uma fábrica de metalomecânica e a ideia surgiu ao ver a dificuldade que ele tinha em gerir a produção de forma digital, fácil e rápida.” Esse era o problema que Gonçalo se propunha resolver e que acabou por resultar num produto de optimização de processos industriais que tem suscitado interesse sobretudo fora de Portugal. “Somos um sistema de informação em tempo real para fábricas, que permite recolher dados através de dispositivos móveis, directamente do chão de fábrica, e obter relatórios e análises simples e actuais sobre a performance da empresa, reduzindo os desperdícios e aumentando a eficiência.” Uma ideia que logo em 2016 foi distinguida com o Caixa Empreender Award e com o Startup Challenge, promovido pela Microsoft Portugal em parceria com a Embaixada dos EUA em Portugal, que por sua vez viria a distinguir a Prodsmart, dois anos mais tarde, pelo “investimento positivo nos EUA, geração de novos empregos e crescimento económico”. Por essa altura já o fundo norte-americano 500 Startups tinha investido na empresa. Em 2018, arrecadou uma ronda de financiamento de 1,5 milhões de dólares junto de capitais de risco e de business angels. “Temos crescido bem e de forma sustentável”, assegura. “A vida de uma start-up é difícil, não há um dia fácil. Tivemos, temos e teremos investidores, que alavancam o nosso crescimento e nos permitem escalar como é suposto.” Entre os clientes, estão BMW, Audi, Nissan, Ford, Citroen, TAP Maintenance & Engineering, Hermès, Louis Vuitton e Chanel.

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5. Unono

Qualquer jovem que acaba de sair da universidade já fez esta pergunta: como é que chego às empresas em que quero trabalhar? Nas empresas passa-se o mesmo: como é que se chega até jovens talentosos que ainda não entraram no mercado de trabalho? A Unono dá resposta aos anseios de uns e outros, trabalhando junto de 30 universidades e cerca de 280 mil alunos em Portugal, Espanha e na Suíça. “Identificamos o talento previamente e posteriormente levamo-lo até às empresas para que essas o possam potencializar”, aclara Edgar Campos, que costuma fazer uma analogia futebolística para simplificar: “Descrevo-nos como o Jorge Mendes do recrutamento sub30”. “A ideia surgiu pela dificuldade de os jovens se posicionarem perante as entidades empregadoras”, diz, “a dificuldade para chegar até ao que seria o emprego de sonho ou à empresa ideal”. Os candidatos não chegam a ver qualquer anúncio de emprego, nem se exasperam com os requisitos pedidos pelos anunciantes. Esse trabalho fica para a Unono. “Basicamente, os candidatos submetem o seu CV na plataforma e do outro lado estão as empresas parceiras da Unono com as melhores oportunidades de trabalho. O nosso objectivo é proporcionar o match entre os candidatos e as empresas”, descreve Edgar. Ou seja, é uma espécie de Tinder (ou Grindr) para empregos e o candidato não tem de mexer uma palha. Nem sequer fazer swipe para a direita. Com uma vantagem adicional: não paga nada. Os empregadores oferecem. “Todos Unonoos anos temos conseguido crescer, quer a nível de equipa como de facturação. E iremos conseguir duplicar os valores do ano transacto até ao final do ano.” A estratégia é simples, mas requer afinco. É preciso estar onde estão os jovens talentos, falar a linguagem deles, ter uma “presença diferenciadora” nas redes sociais. “Com este posicionamento, foi fácil captar as empresas parceiras até à nossa plataforma para assim conseguir chegar ao nosso objectivo.” A Unono Portugal arrancou em Janeiro de 2016. O projecto já existia em Espanha e Edgar Campos foi o escolhido para comandar o escritório em Lisboa, por onde já tinha passado, em 2013, quando estava na Science4you. Edgar tem 29 anos e é de Fronteira, no Alto Alentejo. Formou-se em Sociologia e Desenvolvimento de Recursos Humanos. Antes de regressar à capital portuguesa, trabalhou numa consultora em Londres. Mas Lisboa “é uma cidade única”, “com mais de 300 dias de sol por ano, o que se torna uma atracção para todos”.

6. Heptasense

Ricardo Santos (26 anos, Porto) e Mauro Peixe (28, Setúbal) conheceram-se no mestrado de Engenharia Electrotécnica e Computadores no Técnico, em 2014. E começaram logo aí a trabalhar na ideia que viria a ser a Heptasense, uma startup que diz ter a chave para automatizar a segurança, melhorando substancialmente a eficácia dos meios de videovigilância. Recorrendo à inteligência artificial na análise das imagens, primeiro quiseram perceber “como é que as pessoas se comportam e como é que os seus movimentos têm impacto nas intenções, naquilo que é o seu comportamento não só como indivíduo mas com outras pessoas”, explica Ricardo Santos. Nessa fase, estavam concentrados em aplicar a tecnologia ao controlo de projectos – e o primeiro cliente foi a BMW. Mas depois perceberam que podiam ser mais ambiciosos, quando repararam que os seguranças das lojas ignoravam amiúde os ecrãs de videovigilância. Mauro Peixe defende que os sistemas tradicionais de videovigilância têm apenas benefício forense. “A segurança deve ser um pouco mais pró-activa. Em vez de andarmos à procura da consequência de um problema, devemos resolvê-lo ou mesmo evitá-lo.” É a solução que propõem, adianta Ricardo Santos: “Conseguimos  traduzir em tempo real o que está a acontecer nos sítios que são críticos”. “Estamos a falar de usar inteligência artificial, análise de vídeo nas câmaras de videovigilância. Se for em auto-estradas, estamos a detectar acidentes de carros, animais na estrada, carros em contramão. Se for numa loja, o comportamento suspeito de uma pessoa, que é esconder a cara ou esconder um produto na roupa”, diz. A privacidade, garantem, é assegurada porque só estão a trabalhar com metadados. “Interessa o momento. A informação morre ali. É só mesmo para dar o alerta.” Mauro Peixe acrescenta, no entanto, que esses metadados podem ser usados para melhorar a eficiência da gestão dos espaços. “Se não souber identificar o número de incidentes, o tipo de incidentes, o tempo que eles demoram a ser resolvidos, a altura do dia, a altura do mês, é muito complicado depois conseguir prevenir. No fundo, o objectivo maior é que não aconteçam, em primeiro lugar.” Além de Portugal, estão a operar em vários mercados europeus – Espanha, Suécia, Reino Unido. “O nosso objectivo é tornarmo-nos a empresa de referência mundial nesta área nos próximos três anos”, atira Ricardo Santos. Já temos uma posição bastante forte no mercado. Queremos solidificá--la ao máximo.”

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7. Doppio

A vanguarda dos jogos de computador está em Lisboa. A Doppio dispensou os comandos físicos e está a criar videojogos em que o controlo de movimentos se faz pela voz, com ordens dadas a dispositivos como o Amazon Alexa ou o Google Assistant. O primeiro jogo, “The Vortex” foi lançado em 2018. Um ano depois, lançaram “The 3%”, uma versão em videojogo da primeira série da Netflix a ser produzida no Brasil. É de lá que Jeferson Valadares vem. Mais precisamente, do Rio de Janeiro, onde co-fundou a sua primeira startup em 2000, a Jynx Playware, um dos estúdios brasileiros pioneiros na criação de videojogos. Tinha acabado de sair da universidade e começou por trabalhar em design. Acabou como CEO. Depois de passar por outras startups, o seu talento foi reconhecido por dois gigantes do sector – a Electronic Arts (EA) e Bandai Namco. Foi nesta altura que conheceu Chris Barnes, com quem viria a fundar a Doppio. Barnes também passou pela EA e mais tarde pela Bandai. “Com o tempo, começámos a pensar juntos em como é que a voz poderia contribuir para a indústria dos videojogos e como é que poderíamos fazer algo numa área que não só estava a explodir como estava em grande medida por explorar”, conta Jeferson. “Vimos uma oportunidade para os jogos activados por voz e decidimos dar o primeiro passo para nos estabelecermos como pioneiros neste campo, desenvolvendo jogos em que usamos voz para o que a voz serve.” A experiência de jogo, explica Jeferson, “é conversacional e não apenas o uso de vozes como comando”. É muito simples, garante: “Os nossos jogos têm poucas ou quase nenhumas explicações. Começas e nós guiamos-te a partir daí. As personagens fazem perguntas e reagem  com base nas respostas.” Os dois co-fundadores quiseram testar o produto antes de abordar potenciais investidores. O resultado foi tão positivo que em Julho deste ano fecharam uma ronda de investimento no valor de um milhão de euros, com a Amazon, a Google e a Portugal Ventures a apostarem nesta ideia. A Doppio opera a partir de Lisboa, para onde Jeferson Valadares, 44 anos, se mudou no Verão de 2018. “Antes vivi em São Francisco e, quando decidi criar a empresa, percebi que teria custos elevados. Pesquisámos várias cidades europeias (Londres, Estocolmo, Helsínquia, Berlim, Paris, Barcelona...) e acabámos por nos decidir por Portugal”, revela. O segredo está no equilíbrio entre custos e qualidade do talento existente na capital portuguesa. A prova de que foi a aposta certa está no segundo escritório que acabam de abrir – depois de Lisboa, no Porto.

8. Koala Rest

Qual é o produto que mais usamos? Pense bem. Não, não são aquelas calças de ganga muito confortáveis. Nem é o telemóvel. A resposta está debaixo dos lençóis: é o colchão. E o impacto que tem na nossa saúde e bem-estar é enorme. O problema é que comprar um bom colchão é caro, mas, ao contrário do que acontece por exemplo com os automóveis, um test drive completo está fora de hipótese – nenhuma loja nos deixa lá pernoitar. Bruno Madeira deparou-se com este desafio com a sua mulher. “Depois de uma pesquisa exasperante por entre centenas de opções no mercado, percebemos logo nos primeiros dias que o que escolhemos não era o colchão certo para nós. Percebemos também que não tínhamos qualquer possibilidade de o devolver ou trocar”, lembra, sublinhando o “desfasamento enorme entre as necessidades do consumidor moderno e as práticas de venda agressiva do sector”. Formado em Economia, Bruno viu aí uma oportunidade de negócio. Trabalhou-a com João Ramos e juntos fundaram a Koala Rest a 17 de Março de 2017, Dia Mundial do Sono. O plano era “ajudar os portugueses a dormir melhor, de forma conveniente e económica”. “Ao eliminar os intermediários e produzindo em Portugal, conseguimos proporcionar um colchão de gama alta a um preço mais justo”, concretiza. Os colchões vão directamente da fábrica para o cliente. Mais: “O cliente beneficia de um período experimental de 100 noites em sua casa para ter a certeza que encontrou no Koala o colchão certo para si. Se por qualquer motivo não for o colchão ideal, vamos recolher a casa do cliente sem custo e devolvemos o valor pago por inteiro.” Tem sido um sucesso. As vendas cobriram o custo total da operação logo no primeiro ano. No seguinte, já com investidores externos, a facturação “mais que quadruplicou”. Agora, estão a expandir-se para Espanha. Bruno Madeira, 34 anos, é de Fronteira, distrito de Portalegre. Veio para Lisboa estudar. “Depois estudei e trabalhei em Dublin e São Paulo mas nunca tive dúvida que Lisboa seria a cidade onde iria concretizar o meu projecto de vida.” Não há qualquer misticismo aqui. Bruno explica: “Lisboa é um destino para quem valoriza qualidade de vida ou segurança, que são coisas que os locais dão por adquirido mas é uma combinação que não é fácil encontrar noutros países.” Além disso, modéstia à parte, “os portugueses têm um perfil fantástico para trabalhar em startups”.

Cinco estrelas

1. DefinedCrowd

Fundada em 2015, é uma plataforma de recolha e processamento de dados, com recurso a machine learning e a  humanos, a uma velocidade de fazer corar a concorrência. Voz, linguagem natural e visão computadorizada (reconhece indivíduos, objectos e contextos ambientais) são os pilares do trabalho da empresa, com sede em Seattle e escritórios na Europa (Lisboa e Porto) e na Ásia (Tóquio). Daniela Braga – que venceu o prémio João Vasconcelos, para a “empreendedora do ano” em Lisboa – ambiciona ter uma empresa unicórnio em dois anos, e entrar em bolsa.

2. Unbabel

Nasceu para derrubar a barreira da língua. É uma comunidade de mais de 100 mil tradutores, que corrigem e refinam traduções feitas pela plataforma de inteligência artificial em 28 idiomas. O que inclui chats, e-mails ou páginas de apoio ao cliente. A Microsoft, o Booking.com, o Facebook ou a easyJet são clientes desta empresa com escritórios em Lisboa, Nova Iorque e São Francisco, e laboratório de inteligência artificial em Pittsburgh. Já angariou 91 milhões de dólares desde a sua criação, em 2014. Os fundadores foram Vasco Pedro (CEO), João Graça (CTO), Sofia Pessanha, Bruno Silva e Hugo Silva.

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3. Talkdesk

Portugal já gerou três unicórnios. A Talkdesk entrou para esse grupo de elite  em 2018, quando foi avaliada em 1225 milhões. Criada em 2011 por Tiago Paiva (CEO) e Cristina Fonseca, tem mais de 600 funcionários, sede em São Francisco, escritórios em Salt Lake City, Londres, Madrid e, claro, em Portugal – Lisboa, Porto, Coimbra e, em breve, Aveiro. E o que faz? Aplica uma camada de inteligência artificial aos tradicionais serviços de call center, alojando-os na cloud. O objectivo é que a relação com os clientes não comece sempre do zero. A Farfetch (o primeiro unicórnio português) é uma das 1800 marcas que já aderiram, em 50 países.

4. Codacy

Em 2014, quando a Web Summit ainda se realizava em Dublin, a Codacy venceu o concurso de pitch da maior feira de tecnologia da Europa. Foi o suficiente para “explodir”. Jaime Jorge e João Caxaria criaram um software que identifica erros de código, que levariam uma eternidade a corrigir se a busca fosse feita manualmente, e que ajuda a estabelecer padrões de qualidade e segurança. A empresa, fundada em 2012, fechou recentemente uma ronda de financiamento no valor de 7,7 milhões de dólares. Opera a partir de Lisboa, Nova Iorque e, remotamente, da Bay Area.

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5. Uniplaces

Portugal, Espanha, França, Itália, Áustria, Alemanha, Polónia, Holanda e Reino Unido. A Uniplaces está em nove países e 39 cidades com uma missão: facilitar o processo de procura e reserva de casa para alunos universitários. Criando uma empresa que se tornou numa referência mundial do sector, os co-fundadores Miguel Santo-Amaro, Mariano Kostelec e Ben Grech já foram distinguidos com o Young Guns Award. Estão no mercado desde 2013.

Start me up: a Lisboa inovadora

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