Santuário da Peninha
Fotografia: Ricardo SalvoSantuário da Peninha
Fotografia: Ricardo Salvo

Os melhores sítios para ver as estrelas em Lisboa (e arredores)

A beleza celestial está ao seu alcance o ano inteiro. Descubra estes lugares para ver as estrelas em Lisboa (e não muito longe).

Raquel Dias da Silva
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Custa admitir, mas tem de ser: é raro darmos conta da paisagem lá em cima, a não ser quando as notícias sobre fenómenos astronómicos pontuais – como chuvas de meteoros, eclipses e super luas – invadem as redes sociais. De repente, toda a gente quer olhar para o céu. Mas a beleza celestial está disponível o ano inteiro, com as suas estrelas, planetas, galáxias e cometas.

Apesar de discretos, os astroturistas estão a multiplicar-se e Portugal não está fora da rota: a região do Alqueva, por exemplo, é certificada pela Fundação Starlight, responsável pela qualidade de observação do céu, mas nas cidades também é possível ver com um pouco mais de clareza o que a poluição, atmosférica ou luminosa, nos esconde. Basta encontrar o sítio certo, usar binóculos ou telescópios ou, se é principiante, aproveitar o facto de as estrelas mais ténues desaparecerem para poder identificar melhor as principais constelações

Se o stargazing, como lhe chamam lá fora, não é novidade para si, talvez prefira afastar-se das luzes urbanas, mas não tem de se afastar assim tanto da capital. A Atalaia, no Montijo, o Santuário da Peninha, em Sintra, ou – um pouco mais longe  o Cabo Espichel, a cerca de uma uma hora de Lisboa, são três das muitas sugestões feitas por quem namora com o céu há mais de três eclipses e pelo menos umas dez chuvas de estrelas. O mais importante é divertir-se e aprender umas histórias sobre as constelações para animar aquelas noites com amigos à volta da fogueira. Aí vão os melhores sítios para ver as estrelas em Lisboa e arredores.

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Onde ver as estrelas em Lisboa

  • Museus
  • Ciência e tecnologia
  • Alcântara

Construído no século XIX como Real Observatório Astronómico da Ajuda, foi financiado pelo rei D. Pedro V que quis replicar em Portugal o progresso material e cultural que tinha visto noutros países. A geografia privilegiada da capital para certas observações astronómicas foi, contudo, fundamental para o avanço da obra. Hoje promove a investigação científica e é a casa de um vasto acervo documental, bem como de património histórico da astronomia portuguesa. É possível marcar, com antecedência, sessões de observação astronómica nocturna para grupos com um mínimo de 15 pessoas. Há ainda, no último sábado de cada mês, Noites no Observatório: a programação inclui sempre uma palestra, dada por um investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, bem como observações do céu nocturno. A luz urbana atenua o brilho das estrelas, por vezes fazendo-as “desaparecer” da abóbada celeste, mas com a ajuda de telescópios é possível apreciar a beleza natural dos astros.

  • Atracções
  • Belém

Surgiu há mais de meio século, graças ao empenho de um comandante da Marinha e professor de navegação astronómica, e desde então tem contribuído activamente para a promoção da cultura científica e tecnológica, mas sobretudo para o interesse pela astronomia. Sob a cúpula de 23 metros, é possível observar nebulosas, galáxias e milhares de estrelas. Na programação, conta com várias actividades educativas, desde sessões temáticas toda a família e programas Ciência Viva no Verão, até noites com um astrofísico no último sábado de cada mês. Pode visitar o planetário de terça a sexta-feira, entre as 09.45 e as 16.00, e ao fim-de-semana, das 10.00 às 16.30.

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  • Atracções
  • Praias
  • Grande Lisboa

Na Margem Sul, a praia de areal extenso, do qual se pode observar a imponente arriba fóssil, uma área de paisagem protegida pela sua riqueza natural, também tem vista para dois cabos: à esquerda o Cabo Espichel e à direita o Cabo Raso, outras duas boas sugestões para olhar para o céu. Se for em grupo, pode dar um mergulho, porventura o primeiro do ano, assistir ao pôr-do-sol e prolongar o programa com um piquenique nocturno, a partilhar mitos e lendas sobre as constelações. Não se esqueça: o céu nocturno muda ao longo do ano, por isso há sempre novos objectos celestes para observar. Já agora, deixamos uma curiosidade: em 1997, a Fonte da Telha foi um dos locais sugeridos para a observação do Cometa Hale-Bopp.

  • Coisas para fazer
  • Grande Lisboa

Se perguntar a quem já conhece o céu como a palma da mão qual é o melhor sítio para observações astronómicas perto de Lisboa, Alcochete está quase sempre na ponta da língua, a menos de uma hora de Lisboa. Num descampado, “perto da Academia do Sporting, o céu à noite é de facto escuro, se olhar para o lado contrário ao de Lisboa”. “Já lá estive e dá para ver a estrutura da Via Láctea, o esbranquiçado da nossa galáxia, partilha Rui Agostinho, professor de Astrofísica na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. A Atalaia, no Montijo, também tem um bom céu. Ao pé de Lisboa, o melhor é realmente mais para sul ou para o interior.” O fotógrafo profissional Miguel Claro acrescenta: “Em Portugal, a Via Láctea vê-se sempre, desde que tenhamos um céu bom, mesmo no Inverno. A parte da nossa galáxia, que é a parte central da Via Láctea, que tem mais poeira cósmica, só conseguimos ver durante o Verão, porque é quando se eleva acima do horizonte, dada a nossa latitude em Portugal, sendo por isso mais facilmente percebida a olho nu.”

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  • Edifícios e locais religiosos
  • Sintra

O caminho até ao Santuário da Peninha, nos cumes da Serra de Sintra, Monte da Lua para os romanos, é longo e pode custar a quem tem menos pedalada, mas vale totalmente a pena. Constituído por uma antiga ermida e um palacete romântico do início do século XX, fica a 488 metros de altitude e a paisagem abarca desde o Cabo Espichel e a Arrábida, a sul, até ao Carvoeiro e às Berlengas, a norte. Exposto a fortes ventos marítimos, encontra-se frequentemente envolto em nevoeiros, por isso é importante estar atento à meteorologia para apanhar céu limpo. “A Peninha, em Sintra, é um dos locais onde sinto mais prazer em fotografar o céu quando não posso afastar-me muito de Lisboa”, confessa Ricardo Salvoaventureiro experiente e fotógrafo amador. “O ambiente é suficientemente escuro para ter um céu de excelente qualidade, embora não sejam as condições ideias para astrofotografia, dada a proximidade de centros urbanos. E é um local com 'magia' para despertar as emoções de qualquer fotógrafo.”

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  • Sintra

O Cabo da Roca, em Sintra, é o ponto mais ocidental de Portugal e da Europa continental. É visitável não ao extremo mas até uma altitude de 140 metros. O poeta Luís Vaz de Camões descreveu-o, no Canto III de Os Lusíadas, como o local “onde a terra se acaba e o mar começa”. É escolha comum para observação de aves durante o dia, especialmente da gaivota-argêntea, mas também faz as delícias de apaixonados pelos astros para observações nocturnas. “O Cabo da Roca é sem dúvida um bom local, apesar do farol. Acaba por ter sempre um céu escuro”, confirma João Retrê, do núcleo de Comunicação de Ciência do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço. “Os melhores locais são sempre onde há a menor poluição luminosa possível”, de preferência também com o horizonte desimpedido.

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  • Sintra

A cerca de 47 minutos de Lisboa pela A37, a Praia da Aguda perdeu a classificação oficial de praia em 2008, por causa do elevado risco de queda das arribas, mas não largou o nome. Apesar do areal pouco extenso e do difícil acesso, “o céu é muito aceitável e dá para ver bastante mais do que se veria no centro de qualquer cidade”, afirma o fotógrafo Ricardo Salvo, que é membro da Nature First – The Alliance for Responsible Nature Photography. “Das Azenhas do Mar para cima, seguindo pela costa, o céu é razoavelmente escuro para reconhecer constelações simples”, como a constelação de Órion, a Ursa Maior, a Andrômeda ou o Cruzeiro do Sul.

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  • Grande Lisboa

É a um pulo pela A2: numa hora está naquele que é uma espécie de templo histórico e natural. A Igreja de Nossa Senhora do Cabo, os alojamentos para peregrinos, a Ermida da Memória e as ruínas da Casa da Ópera são parte do Santuário, mas é a paisagem que o torna um lugar verdadeiramente especial. Pode parecer contraproducente falar em céu escuro ao lado de um farol mas sou grande fã do Cabo Espichel", explica Tiago Narciso, fotógrafo amador e entusiasta de Astronomia. “Como só existe mar para a frente desde que não haja neblina dá para ver muitas mais estrelas do que seria de esperar.” Ainda assim, alerta: A melhor altura para fotografias com o centro da Via Láctea é, contudo, no Verão.” No Inverno, não deixa de ser um plano maravilhoso, a começar pelo pôr-do-sol. Virado a Sul não há poluição luminosa e conseguem-se fotografias extraordinárias”, garante David Gol Pires, fundador do Slowlife Glamping, no Cabo Espichel.

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  • Praias
  • Grande Lisboa

A pouco mais de uma hora, o Portinho da Arrábida, rodeado a Norte pelo Parque Natural da Arrábida, é um verdadeiro paraíso à beira-mar plantado. A praia é de uma beleza incomparável, com a areia branca e fina e as águas transparentes e luminosas a contrastarem com a austeridade e imponência da Serra. O céu é, claro, igualmente fascinante, chamando a atenção de fotógrafos profissionais, como Miguel Claro, também autor e comunicador de divulgação científica na área da Astronomia. Para a astrofotografia, “as condições ideais são um céu limpo e um nível de humidade relativamente baixo. Curiosamente, as noites de Inverno são muito melhores do que as noite de Verão, ao contrário do que as pessoas às vezes pensam”, explica. Se quiser aprender mais sobre a arte de fotografar o lado nocturno do céu, pode estar atento ao calendário de workshops de astrofotografia da Primeira Luz. Ou, se preferir uma experiência personalizada, pode marcar uma sessão privada ou em grupo com o próprio Miguel Claro. Depois de aprender os básicos, pode voltar à Arrábida para imortalizar sozinho o movimento das estrelas. 

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  • Caminhadas e passeios

É verdade: é a mais de uma hora de Lisboa, mas é só pouco mais. O pouco vale por muito. Estar afastado dos centros urbanos é mesmo importante quando falamos de encontrar as condições ideais para as melhores observações astronómicas. Não há candeeiros, não há prédios altos e o horizonte é tudo o que os nossos olhos conseguirem avistar. A albufeira da Barragem do Pego do Altar é um ponto de elevado interesse turístico, sobretudo para a pesca desportiva. Debaixo das águas até se esconde uma ponte do século XVIII. Quem gosta mais dela à noite, não tem papas na língua quando é hora de recomendar a qualidade do céu. É a sugestão perfeita para terminar uma lista que parece não ter fim. Vá, comece a planear o seu próximo passeio nocturno.

Programas ao ar livre

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  • Parques e jardins

Temo-los graças a engenheiros, paisagistas, biólogos, botânicos, cidadãos e jardineiros, claro, e todos eles fazem a diferença na cidade. Nesta lista, levamo-lo num passeio entre pássaros, arbustos e até pequenos lagos, mas também por séculos de uma Lisboa verde.

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