Festas populares, trono de Santo António na rua da Regueira
©AML/Judah Benoliel,. 1890-1968, fotógrafo
©AML/Judah Benoliel,. 1890-1968, fotógrafo

Santos Populares. Lá vai Lisboa de outros tempos

Com a ajuda do Arquivo Municipal de Lisboa mostramos 10 fotografias das festas dos Santos Populares de outras décadas.

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Os Santos Populares de Lisboa são uma antiga tradição que este ano não será cumprida. Os arraiais foram proibidos e as Marchas Populares adiadas novamente. Como recordar é viver, veja estas imagens que ajudam a contar a história das Festas de Lisboa e dos Santos Populares, através de janelas engalanadas, tronos, andores, bailaricos e das famosas marchas. Mas nem só de desfiles se faz um mês de festas em Lisboa. Inspire-se nesta viagem pelos Santos Populares do século XX, decore a janela (e a rua se quiser) e ponha as sardinhas na brasa. Afinal, é Junho em Lisboa.

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Viagem pelos Santos Populares de outros tempos

Em Junho, todos os santos ajudam

Seja bem-vindo ao mês de Junho, tempo de solstício e de convite lançado a profanos festejos noite dentro, em tempos livres de pandemia, claro está. O culto ao famoso Santo António levar-nos-ia ao período medieval. Não é preciso mergulhar tão fundo no baú da história para encontrar registos que valem a pena (até porque ainda não havia fotografias). Fiquemos com estas, retiradas do Arquivo Municipal de Lisboa. Durante anos, as festas concentraram-se na zona antiga da cidade. Sé, Castelo e Alfama, mais próximos da casa do Santo, terão marcado o arranque. Com a expansão populacional e a criação dos novos bairros, o espírito foi sendo alargado.

1932: e siga a Marcha

Artistas como Almada Negreiros, Eduardo Viana e Stuart de Carvalhais assinaram trabalhos gráficos para o programa das festas na cidade. A década de 30 é especialmente fértil nestas criações. Eis Alfama, uma das zonas mais buliçosas, aqui destacada nos enfeites, que se associam também à promoção turística de Portugal. É em 1932 que se dá a primeira edição das Marchas Populares de Lisboa, promovida pelo Diário de Notícias e Notícias Ilustrado. Em resposta ao desafio do director do Parque Mayer, Campos Figueira, Leitão de Barros e Norberto Araújo tratam da organização. Claro que Alfama é um dos bairros participantes, a que se juntam Alcântara, Alto do Pina, Bairro Alto, Madragoa, e Campo de Ourique.Voltam a ser organizadas em 1934, mas pela Câmara Municipal de Lisboa.

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Subindo e descendo o Chiado

Aqui e ali, alguns pormenores vão dando conta da evolução dos festejos. Os balões, por exemplo, terão surgido para iluminar as ruas, para além de cumprirem a sua função de enfeite. Mas que dizer deste Chiado engalanado como se fosse Natal? O negativo de gelatina e prata em nitrato de celulose, de Alberto Carlos de Lima, tem data incerta mas apontará para a década de 40.

E um trono de Santo António

Na foto, de Judah Benoliel, prepare-se para um regresso aos anos 50, mas lembre-se que o culto ao famoso Santo António vem de muito longe. A sua primeira igreja foi destruída pelo terramoto de 1755. A reconstrução foi possível graças ao peditório das crianças nas ruas de Lisboa. Sim, a célebre frase "uma esmolinha para o Santo António" vem daqui. Também a tradição dos tronos, revelada na imagem, se manteve até hoje.

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A cavalo e sobre rodas

É difícil imaginar cavalos na rua ou uma vistosa penny-farthing (aquelas bicicletas com grande roda dianteira) na noite de 12 para 13 de Junho. Mas isso apenas porque vivemos no século XXI e certos aspectos tornaram-se menos castiços. Em 1955, tudo isto era bem real, associado às fundamentais sardinhas, manjericos, e...alcachofras, sinal de amor correspondido ou não. Já agora, sabe o que significa a expressão "cavalinho" no contexto das festividades? É o conjunto de músicos que acompanha cada marcha.

Uma escala no Pavilhão dos Desportos

Pouco antes do começo da década de 50, ficara para a história a edição de 1947, ano da celebração do oitavo centenário da tomada de Lisboa aos Mouros. A grande festa passou pelo Pavilhão dos Desportos, mais tarde Pavilhão Carlos Lopes, cenário de apresentação dos diferentes bairros ao longo dos anos seguintes. Na imagem, a recordação da Marcha do Bairro Alto. Recuperando algumas origens, as marchas derivarão das francesas "marches aux flambeaux", com archotes e balões.

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Inversão de marcha

Sabia que as marchas nem sempre se fizeram no sentido Marquês/ Restauradores, mas antes ao contrário? Foi em 1952 que se inverteu o sentido do cortejo na Avenida. Na imagem, os ilustres representantes do bairro de Campo de Ourique, o grande vencedor da primeiríssima edição, ou edição-piloto, em 1932. À época, os grupos chamavam-se ranchos e este apresentou-se vestido à moda do Minho. Nessa data longínqua, exibiram-se no Capitólio.

Andor daqui se não for fã de Santo António

Em 2007, os 75 anos das Marchas de Lisboa foram passados em revista na Cumplicidades, uma edição especial da EGEAC que recupera a história dos festejos na cidade. No seu centro, o célebre Santo, aqui num andor. João Ricardo da Silva Pinto recordava então como em 1929 Frederico de Freitas escrevera a marcha "Santo António", mostrando como estas composições musicais são anteriores aos próprios cortejos. 

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Coração rima com...

As janelas acostumaram-se a enfeites de cravos e manjericos, de tal forma que a Câmara Municipal chegou a premiar as mais belas. Quanto à dança, ela pertence aos pares, e nada como umas frases catitas para tentar fisgar um coração. Para ser rigoroso, pense bem como vai escrever a sua dedicatória. Saiba que idealmente deve preferir uma quadra em redondilha maior, com sete sílabas em cada verso. A rima é quase sempre cruzada. Parece simples? Mas olhe que não é. Solte o poeta popular que há em si e experimente escrever qualquer coisinha.

Vendo bem, já marcharam muitos anos

1980 marcou o fim de dez anos de interregno nas Marchas, que ao longo da história conheceram vários pára-arranca. Passaram a realizar-se de forma regular a partir de 1988 e continuam a ser uma instituição da Avenida. A festa fez o seu caminho e a verdade é que certos hábitos se mantêm de pedra e cal. Basta pensar como letras popularizadas há décadas continuam na ponta da língua dos lisboetas, caso de "Lá vai Lisboa/ co' a saia cor do mar/Cada bairro é um noivo/que com ela quer casar", de Norberto de Araújo. Os foliões acorrem hoje e sempre a paragens como o Largo de São Miguel, em Alfama, aqui captado pela lente de Luís Pavão no ano 2000 (parecendo que não, já passaram 210 anos).

Outras viagens

  • Atracções

Responda rápido, por favor: qual é a pata direita do cavalo de D. José? Se precisa de ir ao Terreiro do Paço confirmar é porque preciso mesmo da nossa ajuda. Aqui na Time Out gostamos de sugerir pratos e restaurantes mas não somos os melhores do mundo a alimentar as dúvidas. Aliás, se dependesse de nós andava toda a gente com a curiosidade saciada. Há, no entanto, aquelas questões que nos assombram quando vamos no trânsito, aquele ponto de interrogação que paira sobre nós à saída do duche — o trocadilho da para é só um dos muitos que nos interpelam. Se anda com uma pulga atrás da orelha com alguma questão sobre a cidade, talvez a consiga catar por aqui. Ora vejamos curiosidades sobre Lisboa. Se mesmo assim ainda tiver alguma dúvida, não deixe de nos dizer. Prometemos não parar até conseguirmos responder a tudo. Afinal não queremos que fique na dúvida.

  • Coisas para fazer

Aquela velha máxima de que precisamos conhecer o passado para compreender o presente é muito verdade. E o Arquivo Municipal de Lisboa (AML) nunca esquece. É como um gigante baú de memórias — embora esteja muito longe de caber no sótão dos avós — que guarda documentos históricos, vídeos, fotografias e encerra um valioso espólio da arquitectura da cidade. E nunca pára de crescer. Aliás, se tiver registos perdidos no seu próprio baú, ou dos seus familiares, está convidado a partilhar com o arquivo (e com todos os lisboetas) todas as boas memórias que encontrar.

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  • Atracções

Os últimos comboios a circular nos subterrâneos de Lisboa partem de cada estação terminal por volta da 1.00 da madrugada. Meia hora depois, quando os passageiros já estão todos à superfície, recolhem às oficinas da Pontinha. A corrente eléctrica é desligada nas linhas e entra em circulação uma locomotiva a diesel, que acompanha os trabalhadores que fazem a manutenção da rede nas galerias vazias. Este trabalho no Metro é invisível às centenas de milhares de passageiros que a ele recorrem para percorrer a cidade durante o dia. A Time Out acompanhou estas operações de manutenção da linha, que é feita ao longo da madrugada para garantir o bom funcionamento de carris, sinalizações e sistemas elétricos.

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