Doze sítios românticos em Lisboa

É uma espécie de sala de estar para quem mora para os lados da Avenida de Roma, mas, claro, consegue sempre ter muito mais ambiente do que a nossa própria casa. O veludo dos sofás ajuda e a sensação de se estar fora da rotina também. O mobiliário, por exemplo, veio todo de Inglaterra, tal como a inspiração. O Old Vic, aberto desde 1982, é um dos clássicos bares lisboetas com pipocas e cocktails, sendo que em cada lugar (criam-se ambientes intimistas para cada mesa) há um botão para chamar o empregado e outro para regular a luz do candeeiro. Para entrar não basta empurrar, é preciso tocar à campainha. 

Plantas exóticas, lagos e cascatas montam um ambiente semi-exótico, semi-selvagem, nas barbas do Marquês de Pombal. Se o ambiente não é perfeito para dar uns beijinhos ocultos, então não sabemos onde o encontrará. E não se deixe enganar pelo nome: de fria nada tem a estufa criada nesta antiga pedreira da cidade. Aliás, a estrutura tem três zonas, quase como numa espécie de discoteca da natureza: a estufa fria, estufa quente e estufa doce. 

Aqui há uma biblioteca erótica, camas, uma sala de cinema com piano, livros e bar. Calma, não convém usar as camas para muito mais do que ler, mas, ainda assim, a Casa do Comum é um lugar que evoca a união e que permite escolher diferentes programas no espaço de uma tarde que pode bem acabar na cave com DJ — quem nunca se apaixonou na pista? Inaugurada a 31 de Outubro de 2023, no Bairro Alto, este espaço de três pisos é também a concretização do sonho de um bom romântico: José Pinho, o fundador da Ler Devagar e do Festival Literário de Óbidos. 

Para muitos, Baco não é o Deus do vinho, mas do amor. Se é desses, que imaginário pode ser mais inspirador que o chafariz do dito néctar? Com um ambiente intimista, esta enoteca entre o Príncipe Real e a Praça da Alegria é um dos mais bonitos de Lisboa. Na carta, há mais de duas centenas de referências, não esquecendo o Vinho do Porto. Além do espaço interior, há um belíssimo pátio onde a luz das velas pode aquecer o que o vinho não conseguir.

Se o passeio é bom para a conversa, também é bom para o romance. E passear no Palácio da Regaleira permite ritmos para tudo. Nos quatro hectares circundantes, há construções fantásticas, como torres, grutas, estátuas, lagos, fontes e até um poço esotérico. Construída entre 1904 e 1910, a Quinta tem inúmeras referências à Maçonaria e é apelo à fantasia, coisa essencial ao romance. Ou não é? Outro argumento a favor é que demora horas a visitar o espaço, as suficientes para se esquecer que há mundo lá fora.

Não há nada mais romântico que uma fita analógica a ser projectada à nossa frente. A programação da casa do cinema é mensal, por isso é uma questão de ir espreitando a ver se encontra aquele clássico ideal para apaixonados, sendo que tudo vale quando o grande objectivo é pôr a mãozinha no joelho. O escurinho do cinema não costuma falhar e, fora da sala, ainda pode continuar em conversa com a ajuda de um copo ou de um petisco no restaurante 39 Degraus. 

A memória continua a pesar no 79 do Largo da Graça, cujas portas se abriram pelos braços armados (isto, falando da força desta mulher) da poeta Natália Correia, que lhe deu o célebre nome Botequim em 1968. Estando a poesia tantas vezes próxima do amor e as luzes baixas ajudando os olhos a romantizar, este bar é um lugar para ir a dois com a certeza de que à volta estarão muitos outros "dois", "três", "cinco" e "dez" a comemorar a vida. Lá estarão, também, o antigo balcão de madeira, o vinho a copo, o whisky japonês e os chás aconhegantes, não faltando petiscos, folhados e tostas para acompanhar.

Mais parece uma casinha dos contos de fadas, mas é bem verdadeira e foi onde Elise Hensler, Condessa d’Edla e cantora de ópera, viveu a sua história de amor com o rei D. Fernando II. O Chalet Condessa d’Edla, na Serra de Sintra, reaberto ao público em 2013, foi inspirado nas construções das montanhas suíças e o jardim que o envolve é resultado da paixão do casal pela botânica. Ali se encontram espécies provenientes dos quatro cantos do mundo, para além de várias fontes e pequenos miradouros.

Em 1910, o Governo Provisório da República Portuguesa avisou: “A Tapada estará aberta ao público permanentemente, servindo para passeio (...) bem como para a lição das coisas”. A declaração mantém-se actual e o parque botânico encaixado entre Alcântara e a Lapa, que terá inspirado Manet a pintar o seu famoso quadro Almoço na Relva, continua a ser um dos melhores lugares da cidade para se estar, com direito à visita de patos e outras espécies. Só não se esqueça da toalha e do farnel.

À beira-mar plantado, tendo o Atlântico como cenário de fundo, o Fortaleza do Guincho é o sítio ideal para respirar ar puro, olhar para o mar e comer o que de lá vem. Pode contar com marisco e peixe fresco à mesa, cortesia do chef Gil Fernandes. Este é um programa feito para foodies, já que o restaurante é detentor de uma estrela Michelin desde 2001. Há, claro, um menu de degustação acompanhado de bons vinhos.

Não há dias cinzentos que impeçam a luz de entrar pela enorme parede de vidro do Café da Garagem, no Teatro Taborda. A vista sobre Lisboa, com a Senhora do Monte lá em cima, surge logo à chegada. O ambiente é aconchegante, com uma fila de candeeiros retro a pender sobre mesas improvisadas e um velho piano ao fundo. 

Há muito para agradecer ao senhor Calouste Gulbenkian. Enquanto mecenas criou uma das maiores estruturas lisboetas no que à promoção da arte diz respeito. Já quanto ao jardim, há que agraceder a Gonçalo Ribeiro Telles e António Viana Barreto, que aqui criaram uma referência da arquitectura paisagista portuguesa. Desde que abriu, nos anos 60, os seus recantos escondidos foram imediatamente eleitos como locais de namoro. Toalhas e corpos estendidos são visões que não falham no relvado. Se a coisa correr mal, sempre pode ficar a ver os patinhos ou visitar uma exposição.