“Os cogumelos são as frutificações da grande árvore que está essencialmente debaixo dos nossos pés e o fascinante [destes organismos] é o impacto que eles têm nos ecossistemas onde se encontram”, conta à Time Out o especialista Rui Simões, co-fundador da associação Ecofungos, que divulga e promove o património micológico do país. “[Os micorrízicos] estabelecem relações simbióticas com plantas, tornando-as mais saudáveis e resistentes. [Os sapróbios] contribuem para a decomposição de matéria orgânica morta. E até os parasitas, que consomem os seus hospedeiros, acabam por ser uma fonte de vida, porque os reciclam, para que novos seres vivos possam crescer a partir daí.” Como o Cordyceps sinensis, um cogumelo raro e exótico, que brota do corpo de lagartas, nas montanhas dos Himalaias, e é utilizado há muito tempo na medicina tradicional chinesa.
Sanchas, míscaros, boletos, rebiós e até cantarelos. Em Portugal, há dezenas de variedades comestíveis de cogumelos, mas estes são os mais comuns e apreciados à mesa. Os festins gastronómicos feitos de norte a sul do país à volta destes fungos são tão certos como as primeiras chuvas de Outono. E esta é, portanto, a altura deles. Mesmo quem não é grande apreciador admite a beleza e a flexibilidade gastronómica desta iguaria efémera e saborosa – e por vezes até perigosa. Mas as suas virtudes facilmente transbordam do prato. Os cogumelos não são apenas os protagonistas de risotos e rissóis de encher o olho. Fazem parte de um reino com características especiais, o dos fungos, entre as plantas e os animais, exercendo um enorme fascínio sobre muitos humanos. Os seus topos em forma de cone, por exemplo, podem ser considerados uma espécie de “fruto”, como uma maçã presa a uma enorme macieira – neste caso ao micélio, uma estrutura filamentosa, como uma rede emaranhada, como se de uma Internet natural da Terra se tratasse. E não só.
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