Há caça na Rua das Portas de Santo Antão. Leu bem. Não falamos de pratos de caça, de coutos de caça, nem de caçadores de arma em punho. Falamos de uma curiosa frutaria com décadas e décadas de vida, que além de todo o tipo de maçãs, pêssegos, bananas, clementinas, figos, morangos – a lista muda consoante a época, pois claro –, vende caça. A perdiz está a 14,50€/unidade, o coelho tem o mesmo preço, mas a lebre vale 27,50€/unidade. “E também vendemos lampreia na época dela”, conta Alípio Gonçalves Ramos, na casa há 46 anos. Os produtos vêm maioritariamente do Alentejo, ainda com penas e pele. “Só não trazem a tripa. É um truque para se manterem mais fresquinhos.” A tradição de casar fruta e caça existe à mesa, é certo, numa mercearia já é mais raro, mas existe aqui há largos anos. “A casa é bem antiga, não sei a idade certa. Mas O Grande Elias [filme português de 1950] teve uma parte filmada aqui.”
Estas lojas têm pó, ferrugem e madeiras a descascar. Mas isso é bom. Entrámos nas charcutarias em vias de extinção, conversámos com merceeiros e enchemos os bolsos com rebuçados embrulhados em papel pardo. Porta a porta, bairro a bairro, tirámos a temperatura ao comércio tradicional em Lisboa. Agora, podemos afirmar que há uma tradição que merece ser celebrada e que precisa de ser vivida. Há hoje em Lisboa muito comércio tradicional de excelência que resiste à normalização da oferta, sem deixar de ter tudo o que se procura. Nas lojas de café, por exemplo, encontrámos lotes especiais da casa nos formatos de sempre, mas também em cápsulas compatíveis com o George Clooney. Tudo isto de porta aberta para uma rua como a sua, feito por gente que se trata pelo nome. Estas são as melhores lojas tradicionais em Lisboa.
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