Bosque
Gustavo e Tiago são os rapazes do Bosque. O nome pegou, muito antes de imaginarem que o passatempo dos fins-de-semana se ia tornar numa séria ocupação a tempo inteiro. “Começámos a ir para zonas verdes, jardins abandonados, áreas de floresta, fazer recolha de material, para depois criarmos algo que fosse diferente”, começa por explicar Tiago Bettencourt. “Havia muito esta imagem nossa no meio da mata. Vivíamos em Santa Catarina, então passávamos pelo meio da rua com ramos de árvores da nossa altura ou mais. Já aí trazíamos da natureza algo que pudéssemos trabalhar”, recorda Gustavo Camacho, que segura até hoje o leme criativo do Bosque, estúdio dedicado ao design floral.
Seis anos depois das primeiras experiências dentro de um T0 no centro do Porto, a dupla reinstalou-se. Deixou a cidade onde deu os primeiros passos – e onde angariou os primeiros clientes – e rumou a sul para se fixar nos arredores de Lisboa. Uma nova rota para quem já antes tinha mudado de vida para se dedicar às flores.
Naturais da Ilha da Madeira, Gustavo e Tiago vieram para o Continente há nove anos. O primeiro estabeleceu-se como engenheiro civil, o segundo seguiu o caminho do design. De conterrâneos passaram a namorados, de namorados a parceiros num possível novo negócio. “Cresci num meio onde vivíamos muito as flores. Na Madeira, é algo muito presente, principalmente em épocas especiais – no Natal, nas visitas pascais. E os meus familiares sempre trabalharam com flores, então sempre houve uma curiosidade da minha parte em explorar a flor”, continua Gustavo.
Em 2018, os primeiros trabalhos chegam ao Instagram e com eles os primeiros contactos e potenciais clientes. No ano seguinte, Gustavo virou costas à engenharia e dedicou-se em exclusivo ao Bosque, mas teve de esperar até 2020 para que Tiago lhe seguisse os passos. A pandemia fê-los voltar à estaca zero, mas também apurar a sensibilidade estética. Rodeados de flores – o que também teve o seu efeito terapêutico – encontraram aquela que hoje é a identidade do estúdio. Sem descurar espécies botânicas, com vista à harmonia das cores e volumes, a linguagem foi ficando mais depurada. “Um dos estilos com os quais nos identificamos é o japonês, o ikebana. Tem a ver com uma questão de equilíbrio, de refinamento e minimalismo. Quando olhamos para um arranjo ou para uma instalação floral, vemos sempre algo sobrecarregado, intenso, uma explosão de flores. É para criar impacto, no fundo. Queremos fazer o contrário disso e depurar cada vez mais. A partir daí dissemos: este é o nosso nicho”, explica Gustavo. O respeito pelo que a natureza dá impera dentro do estúdio, agora instalado na Malveira, a meia hora de Lisboa. Por estes dias, o espaço pinta-se de amarelo, culpa das mimosas que abundam por estas bandas. Sempre que possível, os florescimentos sazonais são trazidos para a bancada de trabalho.
Os casamentos dominam a agenda, tendência que a dupla quer equilibrar. Se, por um lado, o Bosque quer investir em relações com clientes fora deste universo, como já acontece com o JNcQUOI e com o Sublime Comporta, por outro, quer continuar a elevar a fasquia dos projectos desenvolvidos para momentos de celebração, segmento que lhe tem valido atenção internacional. No ano passado, um casamento em particular transbordou das revistas da especialidade para as redes sociais. A Herdade do Freixo, no coração do Alentejo, serviu de cenário. A cerimónia aconteceu a 40 metros de profundidade, o jantar junto à entrada para as vinhas. “Era tudo muito cénico, performático quase. Uma das instalações deitava fumo. Sentimos que ali quebrámos as normas”, aponta Tiago.
O acervo de peças cresce a olhos vistos – muitas são desenhadas por Tiago e produzidas em olarias locais, outras são repescadas em armazéns de antiguidades. São jarras, vasos, taças, terrinas e castiçais e só uma pequena parte é mantida à vista. “Temos o nosso espólio, mas somos um bocado chatos, na medida em que não queremos repetir aquelas peças. Como acaba por ser tudo personalizado, vamos acumulando e acumulando”, prossegue Tiago, o homem que se dedica ao design, à fotografia e à comunicação nas redes sociais. No Bosque, já se pensa num estúdio maior, mais amplo e de traça industrial. Nisso e em desenvolver um calendário próprio de workshops. O primeiro aconteceu no início de Abril e trouxe a Portugal dois ases do design floral: Frida Kim e Wagner Kreusch.