Çal Pfungst
Quem? Gonçalo Godinho, 30 anos
De onde? Canhestros, Ferreira do Alentejo
O que faz? Moda lado a lado com a arte
Çal, como gosta de ser tratado, percorreu um caminho longo e diverso até chegar à moda. O primeiro interesse foi a escrita. Passou, mais tarde, pelo teatro, experimentou o vídeo, até que a moda o surpreendeu durante um curso de Verão. “Vejo a moda como uma extensão da minha relação com a arte, por isso é que o meu trabalho acaba por ser multidisciplinar. É um processo bastante fluido, no qual comecei por sentir uma pulsão de criar algo mais escultórico, onde não tivesse necessariamente de usar o meu corpo. Aí, a moda surgiu como uma coisa muito natural”, revela.
Na aldeia onde cresceu, improvisou um pequeno atelier, onde ultima a colecção que intitulou de fig. 2-telescópio preto. “Morreram as minhas duas avós e uma amiga de infância, então há esse lado do luto, como a roupa o comunica. Está tudo um bocado mais dark. Os materiais são importantes nesta vertente da homenagem, mas também estou a abordar este lado do Alentejo. Trabalhei formas como o capote, vou ter chocalhos e também um material que contém cortiça.”
A moda como arte vestível – por muito conceptual que seja o processo, o resultado desemboca sempre no corpo e na usabilidade das propostas. Na concretização, há lugar para referências pessoais, heranças regionais, mas também upcycling e inovação na escolha dos materiais. “Para mim, é quase um sonho estar a fazer colecções no Alentejo para apresentar em Lisboa”, remata. Depois de um estágio no atelier da designer Lidija Kolovrat, Gonçalo quer agora dedicar-se a projectos próprios, entre eles alimentar uma marca que, através do vestuário, nasceu para congregar todas as artes.