Bárbara Branco
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Bárbara Branco: “As novelas em Portugal têm potencial para serem muito melhores”

Aos 22 anos, Bárbara Branco soma papéis no cinema, no teatro e na televisão. Dividida entre a peça ‘Do Deslumbramento’ e as gravações da nova novela da SIC, conversou (ao telefone) com a Time Out sobre o presente e o futuro da ficção.

Margarida Coutinho
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Bárbara Branco é uma das novas caras da estação de Paço D’Arcos, mas desde os 16 anos que sobe ao palco com peças encenadas por nomes como João Mota ou Carlos Avilez. O salto para o cinema aconteceu em 2021, com o filme Bem Bom (Patrícia Sequeira), onde interpretou Fátima Padinha, um dos membros das Doce. No pequeno-ecrã, poderemos ver a jovem actriz na série Santiago (Pedro Varela), que chega à Opto dia 21 de Outubro, e em O Crime do Padre Amaro (Leonel Vieira) que estreia na RTP1, brevemente.

Habituada a gerir agendas, a cascaense prepara-se para dividir o seu tempo entre a peça Do Deslumbramento, com encenação de Miguel Seabra, que estreia no Teatro Meridional a 26 de Outubro, e as gravações da novela Caminhos Cruzados, onde terá o seu primeiro papel como protagonista.

‘Do deslumbramento’ estreia a 26 de Outubro. O que é que podes revelar sobre a peça e sobre a tua personagem?

Esta peça parte de uma história do Miguel [Seabra] que me inclui a mim. Há cerca de dois anos eu estava em cena com “Bruscamente no Verão Passado”, no Teatro Experimental de Cascais, e recebo uma chamada do Miguel a dizer que me foi ver, que sentiu algo raro e gostava de fazer um espectáculo sobre isso. É um espectáculo sobre a sensação de deslumbramento: o que é, como acontece e o que acontece fisicamente no nosso corpo quando vimos alguma coisa que nos deixa quase sem fôlego, inundados de emoção. O Miguel foi corajoso o suficiente para escrever uma peça sobre isso. E também são os 30 anos do Meridional, por isso também é uma peça que fala da memória.

Como estão a correr os ensaios?

Está a ser óptimo por vários motivos. Um deles é ter a oportunidade de participar num texto desde a sua origem. Além disso, o processo de ensaios do Miguel é muito curioso porque temos a oportunidade de fazer quase um trabalho de laboratório de actores. Não chegamos ao teatro para concretizar uma peça, mas para descobrir, momento a momento, como está a trabalhar o nosso corpo.

Bárbara Branco
Susana MonteiroBárbara Branco nos ensaios da peça "Do deslumbramento", no Teatro Meridional

Também és uma das protagonistas da série Santiago, da OPTO, sobre os Caminhos de Santiago.
 
Sim. Quando soube da série, eu própria decidi fazer o caminho e foi das melhores experiências da minha vida. Comecei o caminho com o meu amigo, Tomás Monteiro [fotógrafo], em Viana do Castelo. Mas no dia seguinte, em Caminha, soubemos do falecimento da Eunice [Muñoz]  e viemos para Lisboa prestar a nossa homenagem. Entretanto, o Tomás teve trabalho e eu estava no impasse entre não terminar o caminho ou fazê-lo sozinha. Decidi acabar o caminho sozinha e foi muito revelador porque não tinha noção da força que tinha, daquilo que somos capazes. Independentemente do cansaço físico, das bolhas nos pés, conheci pessoas incríveis. O próprio caminho parece que tem uma mística, sente-se uma união muito bonita. E a chegada a Santiago, depois de estarmos a andar imensos quilómetros durante dez dias, é inexplicável. Foi uma das experiências mais bonitas que vivi, também por me ter permitido ir sozinha.

É inevitável não falar da tua mudança da TVI para a SIC. O que é que te levou a mudar?

Está a ser visto como uma mudança da TVI para a SIC, mas nunca vi isso assim. O que aconteceu foi que recebi uma proposta para uma personagem de uma história que me apeteceu contar. O meu foco sempre esteve aí. Quero muito ser esta personagem, independentemente do canal.

O que podes revelar sobre a nova novela, Caminhos Cruzados, e sobre o teu papel?

Quase nada (risos). Vai ser muito interessante construir esta personagem porque é diferente daquilo que tenho feito até aqui. E ter acesso às pessoas que já estão confirmadas no elenco também me dá a certeza que me vou cruzar com pessoas com quem já queria trabalhar há muito tempo.

Bárbara Branco
Susana MonteiroA actriz de 22 anos conta com projectos no teatro, cinema e pequeno ecrã


Sentes que ainda existe preconceito nos actores que fazem novelas?

Acho que sim. Não sinto no meu caso, talvez pelo meu percurso que passa muito pelo teatro. Mas as novelas em Portugal têm potencial para serem muito melhores. Se pensarmos no Brasil, por exemplo, as novelas são maravilhosas, movem milhões de espectadores. São feitas com muita qualidade, com um cuidado diferente. Em Portugal, o que me parece é que trabalhamos a uma velocidade sobre-humana. E dentro de um ritmo alucinante é difícil fazer um bom trabalho. Acho que temos potencial para fazer novelas melhores e, muitas das vezes, escolhemos não o fazer.

Porquê?

Se eu ontem tiver mostrado que consigo filmar 25 cenas, o que é esperado de mim é que hoje seja capaz de gravar 25 cenas novamente. Não há tempo para filmar e, quanto mais mostramos que conseguimos ser rápidos e ágeis, mesmo que isso implique prejudicar o trabalho artístico, mais isso perpetua o comportamento. E quem fala em novela, fala em séries ou cinema em Portugal. O foco hoje em dia é o número, é seres capaz de produzir muito com pouco dinheiro. E quanto mais demonstramos que isso é possível, mais perpetuamos o comportamento.

Em Portugal trabalhamos a uma velocidade sobre-humana e dentro de um ritmo alucinante é dificil fazer um bom trabalho.


Sentes que a tua geração pode ter um papel no corte com essa perpetuação de comportamento?

Sinto que a minha geração também é muito rápida, muito volátil, muito de vídeos de 15 segundos. Não quero já estar a condenar uma geração, mas não sei se isso será bom na lógica do que estou a dizer. Porque a criação artística precisa de tempo, precisa de ser maturada.  

Para ti é importante manter a participação no teatro?

Claro que sim. O teatro é muito bom para partir vícios, para partir muletas, para voltar à neutralidade e construir por cima dessa neutralidade. É muito fácil em novela e cinema viciar o corpo e em teatro temos oportunidade de voltar ao zero. Caímos muito no facilitismo de, se a cena estiver má, cortar e repetir. Em teatro não há isso, há uma adrenalina, um salto para o abismo todas as noites.

Aos 22 anos, já fizeste teatro, cinema e televisão. Achas que o teu futuro vai continuar a passar pelas três áreas ou gostavas de mergulhar mais numa delas?

Estou a viver dia-a-dia. Vai ter de ser uma gestão diária, especialmente quando começarem as gravações da novela. Para a frente, gostava de fazer mais cinema e mais séries. Também gostava de conseguir encaixar mais projectos internacionais que muitas vezes não são conciliáveis por causa das peças de teatro que exigem que esteja cá.

Outras conversas com a Time Out

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Gustavo Ribeiro tem uma quota parte de responsabilidade no ressurgimento do skate em Portugal. Há um ano, brilhava em Tóquio – era a primeira vez do skate como modalidade olímpica e o concretizar de um sonho que começou lá atrás. Ficou em oitavo, mas a recuperação não tardaria – por ocasião da conversa com o melhor skater português de todos os tempos, no skatepark de Campolide, Gustavo ocupava a terceira posição no ranking mundial. Hoje, está no lugar mais cimeiro do pódio, depois de ter vencido uma das mais importantes competições da modalidade, a Street League Skateboarding, em Las Vegas. Agora, os olhos estão postos nos Jogos Olímpicos de 2024.

Porque é que escolheste este skatepark?
Infelizmente, em Portugal, não temos muitos [skateparks] indoor. Este tem uma ponte a proteger da chuva e, se estiver muito calor, também protege do sol. Fica mais ou menos no centro de tudo e é um dos que mais gosto. Já passei aqui dias e dias seguidos a treinar para campeonatos. Sempre que volto, é especial.

Essa preparação é um trabalho solitário ou pode ser feito em grupo?
O skate assenta muito no colectivo. Andas sempre com amigos e isso dá-te mais energia para andar, mais vontade. Mas acho que se estiver com algum foco na cabeça, algum campeonato, alguma manobra que tenha de filmar, acabo por ir sozinho. Se for uma situação normal, ando com o meu irmão gémeo, pelo menos, e isso acaba por dar outra motivação.

Gustavo Ribeiro
© Mariana Valle Lima

E teres entrado na alta competição alterou a tua relação com o skate, ou continuas a ter momentos de diversão?
É um bocadinho das duas coisas. Há dias em que tenho de andar de skate por ser o meu trabalho. Às vezes dói-me o pé ou dói-me a perna e não me apetece andar. Como em todos os trabalhos, temos de fazê-lo, mesmo quando não queremos. Óbvio que, muitas vezes, o skate é massacrante, magoas-te, mas se é o que fazes por amor, tudo faz mais sentido.

Sabemos que a tua história com o skate começou com um presente de Natal. Antes disso, a tua família nunca tinha pensado nessa possibilidade?
Não me lembro muito bem. Acho que nem devia saber o que era um skate na altura. Acho que o meu tio andava a fazer longboard, nem era muito ligado ao skate mesmo. Se calhar, viu aquilo na Decathlon e pensou: 'Vou comprar dois skates e vou oferecer aos meus sobrinhos'. A partir daí, a coisa colou. Eu e o meu irmão entrámos para escolas de skate, começámos a fazer uns campeonatos e, com os anos, a coisa começou a evoluir.

E contaram logo com o apoio da família para investir na modalidade?
A minha família sempre nos apoiou a 100%. O meu pai, no início, até deixou de trabalhar. A minha mãe, que é professora, até faltava à escola para ir connosco a campeonatos. O skate não é o desporto mais caro, mas também não é dos mais baratos. Havia um risco e acho que os meus pais também deviam ter medo, mas se gostas dos teus filhos vais ter de apoiá-los.

Em que momento é que o skate deixa de ser só um passatempo e começas (e à tua volta começam) a perceber que pode haver um caminho profissional pela frente?
Quando tinha sete anos fiz o meu primeiro campeonato e diria que foi aí que comecei a ter mais interesse por competir e a sentir essa energia. Mas quando tinha nove ou dez anos comecei a dar o pulo, a crescer um bocadinho mais, a ganhar mais força nas pernas e a ver que afinal era possível. Que se realmente quisesse e me esforçasse, nada era impossível. E foi nessa altura que comecei a apostar em ser um bom skater.

Gustavo Ribeiro
© Mariana Valle Lima

Como é que avalias Lisboa no que toca às condições e possibilidades para quem quer aprender a andar de skate?
Acho que Lisboa está cada vez melhor, também a acompanhar a evolução dos últimos cinco anos em termos do skate nacional. Temos cada vez mais skateparks. Além dos skateparks, temos cada vez mais street spots nas ruas. E cada vez há mais miúdos a andar de skate.

Falaste em cinco anos. O que é que aconteceu nesse período?
Foram várias coisas juntas, começando pela entrada do skate nos Jogos Olímpicos. A partir desse momento, as pessoas começaram a olhar para o skate, não como algo marginal, mas como um desporto. Há mais skateparks e mais população a juntar-se e a querer criar. Sinto que, há cinco anos, era muito uns contra os outros, enquanto hoje estamos a tornar-nos mais uma união. Há cinco anos, não havia um português que dissesse que um de nós ia chegar lá. Isto abre os horizontes dos miúdos de hoje em dia – se eu consegui, eles também conseguem.

Sentes que as pessoas deixaram de olhar para o skate como uma subcultura marginal?
Ainda continuam a olhar. Mas, a cada ano que passa, é mais visto como um desporto. Já não é tanto aquela ideia do skater que vai destruir a rua, que é um bêbado e um drogado. O skater é igual a um futebolista, a um basquetebolista, é um desportista.

Há um lifestyle associado ao skate – a forma de vestir, a música que se ouve. Para ti, também foi este pacote completo desde o início?
Tu não podes só andar de skate – vais gostar de ter um estilo próprio, de ouvir uma certa música, são vários complementos. Faz muito parte da cultura urbana, até porque nós não andamos só nos skateparks, andamos na rua. O meu ouvido gosta de tudo um pouco, mas diria que sou uma pessoa um bocado mais calma. Gosto de ouvir jazz, gosto de ouvir reggae e hip hop. O meu artista favorito, neste momento, diria que é o Djodje.

Gustavo Ribeiro
© Mariana Valle Lima

Tens algum plano b para quando o skate deixar de ser uma opção?
Agarrar todas as oportunidades que tiver no plano a e, a partir delas, criar um plano b. Ser esperto e assegurar o futuro, caso o plano a não dê. Gostava muito de abrir uma escola de skate, ou um skatepark privado, o primeiro outdoor de Portugal. Tenho uma paixão grande por cozinha, quem sabe um dia não abro um restaurante.

Gostas de cozinha, assim genericamente, ou tens alguma especialidade?
Não vou dizer que cozinho todos os dias, mas quase. Adoro cozinhar. Dentro da cozinha portuguesa, é o que quiseres. Não sou grande fã de cozinhar peixe, só porque não gosto muito de o comer. Um cozido à portuguesa? Tranquilamente.

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  • Música

Como tantas vezes acontece, ao fim de um bocado e à boleia de uns versos de “Meus 26” (“Vai chegar 2020/ Como chegou o 2000/ Qual história se repete?/ Qual a gente nunca viu?/ Mostrar o Brasil pro mundo/ Ou o mundo pro Brasil?”), acabamos a falar de política. O tema do momento são as eleições presidenciais brasileiras. A segunda volta, que opõe o antigo Presidente Lula da Silva ao actual, Jair Bolsonaro, disputa-se a 30 de Outubro e Tim Bernardes, que tem andado em digressão por Portugal (e toca no Coliseu dos Recreios no domingo), está “inevitavelmente preocupado”. 

“É difícil fugir do assunto”, concorda. “A tensão, pelo menos para quem é mais progressista, deve-se à sensação de que o Lula tem mais chances de ganhar, mas o Bolsonaro está a ensaiar a não aceitação dos resultados, um pouco como aconteceu nos Estados Unidos. Há uma apreensão nesse sentido.” Ele não é o único que está apreensivo. “A gente torce para que [Bolsonaro] chame os militares e não dê em nada, mas não se sabe quanto apoio ele tem. É uma situação muito esquisita. As eleições foram ficando cada vez mais polarizadas. Em 2014 já estava uma situação meio esquisita, em 2016 teve o golpe… E a gente vê isso um pouco por todo o mundo. Mas temos de manter a calma e dar um passo de cada vez.”

É sempre um bom conselho. Por agora, concentremo-nos no concerto que vai dar em Lisboa. É para isso que nos pagam. “Vou apresentar [as músicas] ao vivo como elas surgiram e como acho que são mais potentes”, começa a explicar. “Quando fiz as canções do Mil Coisas Invisíveis, cheguei a cogitar se devia gravar o disco todo sozinho, porque depois de fazer os shows do Recomeçar comecei a gostar desta coisa meio de trovador, só com a voz e o instrumento, seja o piano ou o violão. Isso tem uma certa força. Quando começo a colocar outros instrumentos ganho timbres, sonoridades, cores, só que perde-se alguma liberdade e uma crueza. Mas acabei por decidir não fazer tudo sozinho.”

Não se arrepende da decisão, apesar de reconhecer o prazer que lhe dá apresentar as canções assim, menos ornamentadas. O seu mais recente álbum, Mil Coisas Invisíveis, já é, de resto, mais despojado do que o anterior registo a solo, Recomeçar. “Queria fazer algum contraste com esta linguagem mais pianística ou de câmara que o Recomeçar tinha. Então, na minha cabeça, se o Recomeçar era um disco com bastante piano, este tinha de ter mais violão, uma coisa quase de cantor e compositor de mpb. Algumas canções têm menos arranjos, são mais cruas. Outras têm mais pormenores”, observa, mas há uma leveza que atravessa o álbum. “Dizia que o Recomeçar era como um filme. Este agora vejo mais como um livro de ensaios, de reflexões sobre coisas que me ocorreram nos últimos dois, três, quatro anos.”

Calma… Quatro anos? “Sim”, responde. Pelos vistos, algumas das canções do segundo disco a solo do brasileiro começaram a ser escritas logo em 2017, antes sequer de começar a compor atrás/além. O anterior álbum de O Terno, a banda de rock psicadélico da qual também é o principal cantor e compositor, foi composto “todo de uma vez”. Este não. Foi feito com tempo e calma, à medida que novas ideias surgiam, ligadas por um elo invisível.

Mas o que distingue então as cantigas de Tim Bernardes e de O Terno – se é que algo as distingue? “A escolha do repertório é um processo curioso. Porque às vezes componho uma música e ela na minha cabeça já é para um projecto ou para o outro. Mas muitas canções ficam numa área cinzenta e acho que se fosse altura de fazer um disco de O Terno elas ganhariam uma roupagem, e se fosse época de fazer a solo ganhariam outra”, confessa. Ao vivo, porém, tudo se mistura. Afinal, as canções de O Terno também são de Tim Bernardes, e partilham das mesmas influências e coordenadas estéticas: as canções docemente psicadélicas feitas entre o Brasil, os Estados Unidos e as ilhas britânicas nos anos 60 e 70. O seu grande mérito é fazer algo actual, talvez intemporal, a partir desta matéria-prima. 

Coliseu dos Recreios. Dom 21.30. 15€-45€

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Nesta sexta-feira, é (animem-se) Dia Mundial do Teatro. Foi a pensar nisso que a Teatro Nacional 21 – estrutura teatral fundada por Cláudia Lucas Chéu e Albano Jerónimo em 2011 – criou uma mini-programação propositadamente para celebrar a ocasião, para combater a impossibilidade de brindarmos, de estarmos juntos a falar de teatro. A partir das 10.30, vários actores que já se cruzaram com a companhia (Bruno Nogueira, Rita Blanco, Luísa Cruz, Isabel Abreu) vão ler vários textos da dramaturgia nacional e internacional, alguns dos quais fazem parte do percurso da Teatro Nacional 21. Às 21.00 é hora de Veneno, um texto de Cláudia Lucas Chéu, com direcção e interpretação de Albano Jerónimo. No fundo, é um monólogo que levanta os temas sempre urgentes da homofobia, misoginia, racismo.

A ideia de criarem uma programação online surge depois de vos cancelarem espectáculos, certo?
Não, não foi porque tivemos espetáculos cancelados, obviamente isso também contribuiu, mas foi sobretudo por uma necessidade de dar às pessoas que estão em casa, nestes tempos novos e de incertezas, uma oferta cultural. Não quisemos privar as pessoas.

Vão disponibilizar o espectáculo Veneno, certo? De quando a quando? Vão centrar tudo no Dia Mundial do Teatro ou a ideia é expandir por mais datas?
Para já quisemos focar-nos no Dia Mundial do Teatro, um dia da maior importância para para a nossa actividade, e foi logo um desejo comum de querermos desenhar uma programação para este dia 27 de Março. Se vão existir réplicas deste movimento da Teatro Nacional 21 ainda não sabemos, baseamo-nos, uma vez mais, nesta permanente inquietação.

E por que acham que Veneno, texto da Cláudia Lucas Chéu, é um espectáculo que se adequa a estes tempos adversos?
É um espetáculo que fala de homofobia, xenofobia, racismo, e de certa forma de violência doméstica, e vem assim, a traço largo, demonstrar o pensamento de tantas cabeças que ainda habitam a nossa democracia, em pleno século XXI. A TN21 como tal desenhou este espectáculo em que decidimos expor tudo isto de uma forma grotesca ou monstruosa, expor estas problemáticas através da cabeça de um pai que se fecha em casa com os seus filhos, um pai desempregado, à beira do abismo. Portanto, Veneno tem infelizmente toda a pertinência, e é algo com que as pessoas se podem relacionar e esperamos se possam reinventar de várias formas.

No fundo, estamos perante um acto solidário de querer dar arte às pessoas que estão em quarentena e não podem ir aos teatros. Mas, a longo prazo, isso seria um problema, na vossa opinião?
Os processos artísticos e criativos são sempre amplos, e neste sentido se é possível criarmos um objecto exclusivamente online, sim, por que não fazê-lo? Agora acredito que o teatro será sempre o teatro. Eu gosto muito, e nós gostamos muito de ver e conceber objectos para palco e para cena, e, obviamente, estou a incluir directamente a participação do público que está presente nessa mesma sala e assim partilha esta mesma concepção.

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