Com o aparecimento das plataformas de streaming, cada vez mais pessoas começaram a ver cada vez mais séries. Seja em grandes maratonas durante os dias de semana que, pela manhã, são denunciadas pelas olheiras, ou em fins-de-semana passados no conforto do lar.
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No presente panorama da produção cinematográfica dos EUA, dominada por filmes de super-heróis e por entretenimento descerebrado, seria impossível conseguir financiamento para um projecto sobre um tema como o desastre da central nuclear soviética de Chernobyl, em Abril de 1986. É na televisão que estão hoje a disponibilidade, os meios financeiros e técnicos, o sentido de risco, as capacidades de co-produção, o tempo necessário para contar as histórias e os talentos, na esmagadora maioria vindos do cinema, para concretizar produções como Chernobyl.
Criada e escrita pelo americano Craig Mazin (espantosamente, o argumentista de A Ressaca – Parte II e Parte III), e realizada pelo sueco Johan Renck, que até 2008 tinha só feito videoclips – e mesmo considerando as (inevitáveis) liberdades tomadas com certos factos, personagens e situações –, Chernobyl é, pelo aparato da recriação física, pelo realismo tangível e sujo, pelo drama peso-pesado e cerrado como nevoeiro, pelo terror de rosto humano, pela denúncia dos efeitos da perversidade intrínseca de um regime totalitário sobre a vida comum e a consciência moral das pessoas, e pelo elogio da coragem e do sacrifício dessas mesmas pessoas, um momento maior da história da televisão.