Começar do Zero
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“Começar do Zero” devia chamar-se Chegar ao Zero

O novo programa da TVI combina o voyeurismo beócio e a exposição extrema da intimidade – características dos mais rasteiros programas da dita tele-realidade.

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★☆☆☆☆

Um concurso onde os participantes têm que se despojar de tudo o que possuem e ficar nus nas suas casas completamente vazias (o alibi “sociológico” é chamar a atenção para o consumismo desenfreado e o culto do supérfluo das sociedades contemporâneas. Pois, pois...). É como se Começar do Zero (TVI Dom 21.30) tivesse o alto patrocínio do Ministério das Finanças de Mário Centeno, de tal forma este está apostado, com a sua política fiscal, em deixar os portugueses tal como vieram ao mundo.

Começar do Zero é como que um gigantesco striptease ao contrário, dominado por um duvidosíssimo conceito de supérfluo, que até abrange as cuecas e os trocos do porta-moedas. No fim de contas, trata-se apenas de combinar o voyeurismo beócio e a exposição extrema da intimidade – características dos mais rasteiros programas da dita tele-realidade.

E o que há de mais extremo do que a nudez total num contexto de embaraço e ridicularização na praça pública? Em vez de Começar do Zero, o programa deveria chamar-se Chegar ao Zero.

É que o contador está a zero para todos os envolvidos, quer do lado da produção, quer dos participantes. Zero imaginação, zero decência, zero dignidade, zero pudor, zero noção do ridículo, zero amor próprio. E a taça vai para a concorrente que diz ter muitos complexos com o seu corpo, e depois se inscreve num programa de televisão em que tem de andar em pelota.

Crítica de televisão

  • Filmes

Na sua busca desesperada por audiências, num mercado crescentemente “roído” pela internet, pelo streaming e pelos canais temáticos, as televisões generalistas apostam em programas da chamada “tele-realidade” (na verdade muito pouco “reais”, porque pesadamente produzidos, escritos e montados) cada vez mais delirantes e grotescos, e atentatórios da dignidade básica das pessoas (que, no entanto, continuam a oferecerse com gosto para imolação nos altares da exposição televisiva). 

  • Filmes

Alguém escreveu que o programa originalmente estreado em Inglaterra em 2001, que na Austrália se chama The Farmer Wants a Wife, na Polónia Rolnik Szuka Zony e em Espanha Granjero Busca Esposa (SIC Mulher, todos os dias, vários horários), mas que na verdade é igualzinho em toda a parte, era o equivalente em reality show da série de comédia clássica Viver no Campo. Mas estava enganado, porque Viver no Campo fazia chorar de rir de tão divertido.

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  • Filmes
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O Programa da Cristina (SIC, Seg-Sex 10.10) estreou-se com estrondo, colossal repercussão nos media e nas redes sociais, e o abuso de decibéis do costume por parte da dona. Mas quem não se tenha ficado pela edição de abertura, já terá percebido que depois de todo o banzé inicial, O Programa da Cristina vai acomodar-se ao formato tradicional dos programas da manhã, porque o seu público-alvo é o menos predisposto a revoluções no modelo e quem manda são as sacrossantas audiências.

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