“O Programa da Cristina” estreou-se com estrondo, mas vai acomodar-se rapidamente. Se há espaço conservador nas televisões, é o das manhãs, e é por isso que a aparência de novidade e “irreverência” se irá desvanecer depressa.
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Na sua busca desesperada por audiências, num mercado crescentemente “roído” pela internet, pelo streaming e pelos canais temáticos, as televisões generalistas apostam em programas da chamada “tele-realidade” (na verdade muito pouco “reais”, porque pesadamente produzidos, escritos e montados) cada vez mais delirantes e grotescos, e atentatórios da dignidade básica das pessoas (que, no entanto, continuam a oferecerse com gosto para imolação nos altares da exposição televisiva).
O formato do momento é o dos encontros amorosos, e a SIC propõe Quem Quer Namorar com o Agricultor (Dom 21.35). Desmond Morris ter-se-ia deliciado com a primeira emissão, onde as mulheres borboleteavam em redor do macho dominante, mostrando como o imperativo da preservação da espécie se pode manifestar até num formato destes. Que no resto, não diverge da rotina: uma sucessão de microdramas sentimentais e momentos de comédia involuntária.
Na TVI, Quem Quer Casar com o Meu Filho, entretanto cancelado (o último passa este domingo, 23.00), revela que o matriarcado continua actual na sociedade portuguesa: uma série de mamãs selecciona candidatas a mulheres dos seus filhos como se estivessem num mercado de gado humano. Floresçam ou não muitos romances, ambos os programas são televisivamente rastejantes e ideologicamente miseráveis.
+ Lá fora, "Quem Quer Namorar com o Agricultor" roça o grau zero da televisão