Beuys
O aspecto do homem nunca foi grande coisa, com aquele chapéu de feltro um pouco à banda, o ar geralmente engordurado. E do temperamento, das companhias… É melhor nem falar. Até porque não se deve julgar pelas aparências, que estas iludem, e, no caso de Joseph Beuys (1921-1986), escondiam um artista, mais de 30 anos depois de morrer, ainda capaz de causar uma boa controvérsia. O realizador alemão Andres Veiel, neste documentário presente na última edição do Festival de Cinema de Berlim e exibido na ultima edição do DocLisboa, passou muito para lá da capa enxovalhada e escavou a história deste fundador do grupo Fluxus que explorou o “happening, a “performance” e a instalação, sem descurar a escultura e o grafismo, com tempo ainda para desenvolver um trabalho de teórico e de pedagogo assinalável. Mestre de uma arte que não descurava o debate social nem a intervenção, umas vezes política, mas também moral; incapaz de impedir que todas essas tensões, mais as da sua vida pessoal, se reflectissem na sua obra, Beuys foi um visionário. De certo modo continua a ser, pois mesmo através da inúmera documentação recolhida pelo realizador, grande parte inédita, o retrato traçado por Veiel abre mais caminhos à discussão sobre o papel da arte no mundo contemporâneo do que apresenta qualquer conclusão – como se o artista permanecesse um mistério.
Sexta, 19, 23.00, S. Jorge.