Deux Hommes dans Manhattan

Nimas exibe os grandes mestres do cinema francês

Os clássicos do cinema francês vão passar no Espaço Nimas. São 16 filmes, em exibição entre 12 de Julho e 10 de Outubro.

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Aonde foram os cineastas da Nova Vaga do cinema francês buscar alimento, salvo seja, para a sua estética e a sua técnica? Ao cinema americano, pois claro, mas muito também aos realizadores que nas décadas de 30, 40 e 50 do século passado criaram cinema, citando o crítico e teórico Serge Daney, nas “suas expressões mais conscientes”; os mesmos que “mudaram as formas” e influenciaram os que vieram a seguir. Entre Julho e Outubro, 16 dessas obras-primas, várias inéditas em Portugal, têm direito a nova apreciação em grande ecrã com cópias restauradas digitalmente. Aí vai a fornada de Julho.

Nimas exibe os grandes mestres do cinema francês

Dois Homens em Manhattan (1959)

A bem dizer, Jean-Pierre Melville é o pioneiro, aquele que sem querer e com uma dúzia de anos de avanço iniciou a Nova Vaga.

Foram os métodos de produção, foi a escolha dos temas, foi também a forma como dirigia os actores que o colocaram nessa invejável posição histórica de orientador que, escreveu Jean Domarchi, “elevaria o nosso cinema e que se revela irresistível e irreversível.” E não foi com certeza pelos seus lindos olhos que Jean-Luc Godard o convidou para o elenco de O Acossado, onde faz de escritor cabotino. Ora, este cinéfilo compulsivo, que tanto aprendeu vendo que dispensou a educação formal da escola de cinema, começou a ganhar nome em 1949, quando adaptou Jean Cocteau em Les Enfants Terribles (1949), isto é, dois anos depois de um filme que, voltando a Domarchi, “abria as portas” para novos rumos cinematográficos, Le Silence de la Mer. Grande admirador do cinema norte-americano, seu defensor de primeira linha, Melville começou a realizar policiais alguns anos antes de Dois Homens em Manhattan, e quando aqui chegou já acumulara grande respeito da crítica e considerável aceitação do público, além de considerável mestria que faz desta homenagem à estética do filme negro americano uma obra-prima do policial.

Estreia em 12 Julho

Olhos Sem Rosto (1960)

Como falar de cinema francês é também falar da arte da citação, melhor é começar já por uma a propósito de Georges Franju, que, dizia o crítico Gerard Leblanc, desconstruiu os modelos em vigor “recusando fronteiras entre o documentário e a ficção.”

“Nunca fiz ficção, por assim dizer”, afirmou, em tempos anteriores a este filme, o realizador. Filme no qual teve o apoio de um cirurgião plástico, e sobre o qual disse que a “ciência é o ponto alto do realismo, o ponto onde não se pode fazer batota.” Paradoxo? Talvez, pois em Olhos Sem Rosto encontra-se essa espécie de poética das sombras herdada de Fritz Lang no interior de uma história marcada por um onirismo a dar para o surrealista. Voltando às citações, a propósito escreveu Michel Delahaye, naturalmente na revista Cahiers du Cinéma: “a câmara de Franju soube sempre revelar-nos a fascinante, inquietante e perigosa beleza do real, e isto apenas pelo jogo de uma lucidez, uma objectividade que não exclui um lirismo autêntico. Não falamos de ‘poetização’: Franju respeita, acima de tudo, a realidade que ele se encarrega de nos transmitir, mas transmite-nos também este halo de estranheza que a rodeia e de que o nosso olho, na maior parte das vezes, não consegue aperceber-se; ao querer decapar as aparências, Franju consegue também atravessá-las.”

Estreia em 13 Julho

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O Crime do Sr. Lange (1936)

Este filme de Jean Renoir é uma das três obras essenciais, e pouco conhecidas em Portugal, do “maior cineasta do mundo” (a proclamação é de François Truffaut), ou daquele que “abrange todo o cinema” (Éric Rohmer dixit), presentes neste ciclo.

Enquanto não chega a vez de French Cancan (1954) e Elena e os Homens (1956), aquele que trouxe para o cinema, mais uma vez segundo Rohmer, o “sentido penetrante da luz e das cores”, em O Crime do Sr. Lange, primeira de uma regular colaboração com o escritor Jacques Prévert (que ainda trabalharia com Jean Renoir e Alain Resnais), encontra-se um cinema de escrita. Mas longe do academismo das adaptações literárias, então comuns, delas se distanciando – dizia Daney – pois nos seus filmes a imagem “carrega o verbo passando adiante sobre a mediação da adaptação”.

Estreia em 14 Julho

Madame De... (1953)

Max Ophüls, um refugiado nascido na Alemanha que encontrou em França abrigo desde que, em 1933, fugiu ao nazismo, com a ocupação alemã durante a II Guerra Mundial, foi de novo obrigado a fugir, agora para os Estados Unidos, de onde voltou apenas em 1950 para se naturalizar francês e realizar, entre outros, Le Plaisir (1952) e este Madame De…

Com Charles Boyer, Danielle Darrieux e Vittorio De Sica no elenco, no cenário de Paris no final do século XIX, Ophüls conta a história de Louise, esposa de um general, senhora tão coberta de dívidas que tem de vender os brincos que o marido lhe oferecera como presente de casamento. É só o começo do enredo, pois as jóias serão compradas secretamente pelo marido, que os dá a Lola, a sua amante, a caminho de Constantinopla. Na agora Istambul são comprados pelo Barão Donati, o qual, no regresso à capital francesa conhece Louise, que não só recupera os brincos como ainda encontra o amor e torna-se numa mulher muito menos frívola.

Estreia em 15 Julho

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