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O cinema português em 2017: balanço e antecipação

Esqueça-se a crise do cinema em Portugal. Ela existe, é velha, e vai continuar. Tal como se continuam a fazer filmes

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Apesar da crise, motivo de boa parte dos filmes que se seguem, a produção cinematográfica persiste. É desequilibrada, é certo. Nem sempre grande coisa, é verdade. Mas só a má vontade pode ignorar a evolução. Aliás, muito reconhecida internacionalmente, o que faz de Portugal um cliente habitual dos melhores festivais de cinema.  

O cinema português em 2017

Delírio em Las Vedras

O ano começou com uma paródia em jeito de falso documentário. O realizador Edgar Pêra pegou num grupo de actores (entre eles, Marina Albuquerque, Miguel Borges e Débora Coelho) e mais um pessoal aficionado e habitual do Carnaval de Torres Vedras, juntou tudo e saiu este delírio.

Fátima

Apesar do título, o filme de João Canijo é muito menos sobre religião do que parece. Na verdade, o que interessa ao realizador é a peregrinação em si, ou melhor, as relações entre as mulheres deste grupo (Rita Blanco, Anabela Moreira, Cleia Almeida, Ana Bustorff e Teresa Madruga, entre outras) na caminhada entre Vinhais e Fátima. O grande apego ao realismo do cineasta, a sua neutralidade religiosa, a minúcia com que define as personagens e o absoluto rigor das interpretações fazem do filme uma espécie de fresco psicológico e social – que, aliás, valeu uma das raras classificações de cinco estrelas atribuídas pelo crítico da Time Out Eurico de Barros.

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Malapata

Na tentativa, por enquanto vã, de criar um cinema comercial de qualidade (as palavras não são nossas) em Portugal, o actor Diogo Morgado decidiu-se a passar para o outro lado e escrever e realizar esta comédia. Marco Horácio e Rui Unas (entre um elenco que também inclui Luciana Abreu, Helder Agapito, René Barbosa, e ainda aparições de Luís de Matos e Ana Malhoa) são dois improváveis amigos que se vêem com a sorte grande na mão e por causa dela se metem numa data de confusões.

Ornamento e Crime

Rodrigo Areias, que, antes, se atirara ao filme de cobóis (A Estrada Palha), acosta agora ao filme policial (que concluiu em 2015, mas só se estreou este ano), ou melhor, à sua evocação, através de uma história repleta de detectives privados, gângsteres, pegas, mulheres fatais e reviravoltas no argumento que escreveu com Pedro Bastos. Filmado de acordo com as regras do género, com interpretações de Vítor Correia, Tânia Dinis, Djin Sganzerla e António Durães, o filme tem música de The Legendary Tigerman e Rita Redshoes.

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O regresso de Marco Martins ao cinema fez-se com um drama, interpretado por Nuno Lopes, Mariana Nunes e David Semedo, que tem por centro o chamado ano da troika, 2011, quando os representantes da União Europeia, do Fundo Monetário Internacional e do Banco Central Europeu se instalaram em Portugal e, sem torcerem o braço ao primeiro-ministro ou ao governo, impuseram a política de austeridade. É neste clima que encontramos um pugilista desempregado, que aceita trabalhar como cobrador de dívidas para sustentar a família e dá por si envolvido até aos cabelos no submundo da violência e do crime.

Zeus

Manuel Teixeira Gomes era um considerado escritor com grande inclinação para o erotismo, que, no meio da grande confusão que foi a I República, foi eleito Presidente. As políticas reformistas de apoio ao operariado e a sua assanhada fúria contra a banca estavam para ser a base da acção do seu mandato, mas a intriga política e o interesse foram-lhe minando as intenções e, ao fim de 26 meses, demitiu-se. Apanhou o Zeus, foi até ao Norte de África… E por lá ficou, na Argélia, a escrever e a folgar, até morrer, 15 anos depois. A história é contada no filme Paulo Filipe Monteiro, com importante colaboração do actor Sinde Filipe.

O cinema português em 2017

Índice Médio de Felicidade

Com Marco D’Almeida, Dinarte de Freitas e Ana Marta Contente no elenco, o realizador Joaquim Leitão, adaptando o romance de David Machado com a colaboração do escritor, é a primeira estreia anunciada para a recta final do ano, apresentando, já a partir de quinta-feira, esta história de um homem com um plano. Ora, o plano estava a funcionar bem, porém Portugal entre em bancarrota, Daniel perde o emprego e nem sequer tem dinheiro para pagar as prestações da hipoteca, quanto mais sustentar a mulher, igualmente no desemprego, e o filho. Contudo, ainda há esperança.

A Fábrica do Nada

Outra estreia garantida (daqui em diante, devido a dificuldades conhecidas na finalização de algumas obras, já não pomos a mão no fogo pelas datas de estreia anunciadas) é a versão cinematográfica do musical escrito por Jorge Silva Melo, há anos levado à cena pela companhia Artistas Unidos. O argumento que Pedro Pinho filmou, com argumento de Tiago Hespanha e Luísa Homem, e Carla Galvão, Dinis Gomes e Joaquim Bichana Martins nos principais papéis, nasceu da experiência de auto-gestão da fábrica de elevadores Otis, em 1974, que, digamos, não correu nada bem, mas teve os seus momentos.

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Al Berto

Depois de Florbela Espanca, Vicente Alves do Ó volta-se agora (com interpretações de Ricardo Teixeira, José Pimentão e Raquel Rocha Vieira) para outro poeta, Al Berto. Melhor, para os anos pós-revolução quando, regressado de Bruxelas, onde se exilara para evitar o serviço militar obrigatório e a Guerra Colonial, Alberto Raposo Pidwell Tavares regressa a Sines, e faz do palácio da família uma comunidade, entrando de imediato em choque com uma população nada habituada a tamanha liberalidade de costumes.

Colo

De Teresa Villaverde os cinéfilos sabem o que esperam. E desta vez sabem que encontram, narrada no seu estilo singular, mais uma história de vida durante a crise. O filme de Villaverde, com interpretações de João Pedro Vaz, Alice Albergaria Borges e Beatriz Batarda, acompanha as atribulações de uma família para sobreviver com dignidade num país falido e desmoralizado.

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Alfama em Si

Acontece pouco, ou mesmo nunca, contudo este ano calha estar marcada a estreia não só de um musical (A Fábrica do Nada), mas de dois. O segundo dos quais, assinado por Diogo Varela Silva (já com um belo conjunto de documentários sobre fado em carteira), que se estreia na realização de longas-metragens propondo-se ilustrar a vida de Alfama cantada em sete histórias. Nos principais papéis desta “ópera-fado” estão Pedro Caeiro, Márcia Breia e Ricardo Ribeiro, mas deve-se também contar com participações de Camané, no papel de Dr. Aficionado, Ana Moura a fazer de Helena Severo, e ainda Katia Guerreiro como Mulher Grávida.

Mulheres

Pouco se sabe sobre esta nova produção e realização de Leonel Vieira, aparentemente com algumas dificuldades na sua conclusão, embora seja certo que ela seguirá o tom que o cineasta tornou habitual nas suas versões de O Leão da Estrela ou O Pátio das Cantigas. Mas sabe-se que neste filme, com garantidas participações de Paolla Oliveira, Ricardo Pereira e Sara Prata, há uma mulher que, aos 30 anos, resolve dar uma volta radical à sua vida.

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Peregrinação

João Botelho, depois do êxito com adaptação de Os Maias, inspirou-se agora na História. Isto é: na versão da História das Descobertas contada por Fernão Mendes Pinto em Peregrinação, a bem dizer a autobiografia deste viajante do século XVI por terras do Oriente, com interpretações de Jani Zhao, Catarina Wallenstein e João Guilherme Gouveia.

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