Um roteiro para a Festa do Cinema Italiano em sete filmes

O filme de abertura da Festa do Cinema Italiano 2025, de Andrea Segre, é uma biografia de Enrico Berlinguer (Elio Germano), o carismático secretário-geral do Partido Comunista Italiano (PCI). Berlinguer foi o teorizador do Eurocomunismo, uma alternativa teoricamente moderada e democrática do comunismo soviético, e que nos anos 70 e 80, quando o PCI era, ao contrário de hoje, uma poderosa força política na Itália, e em plena Guerra Fria, negociou com a Democracia Cristã para o levar ao poder.

Paolo Virzì, realizador de Capital Humano e Noites Mágicas, assina uma comédia bem ao estilo italiano, passada durante o Verão, na ilha de Ventotene. É aqui que se encontram duas tribos de veraneantes, representando duas Itálias muito diferentes e aparentemente irreconciliáveis, uma tradicional e mais idosa, outra jovem e ligada ao mundo do digital, destinadas a reencontrar-se para uma disputa, que desta vez parece ser definitiva. Com Silvio Orlando, Laura Morante e Christian De Sica.

Vencedor do Grande Prémio do Júri no Festival de Veneza de 2024, Vermiglio, de Maura Delpero, passa-se em 1944, penúltimo ano da II Guerra Mundial, na remota vila montanhosa do título, à qual chega certo dia Pietro, um desertor do exército transalpino, que se envolve amorosamente com a filha mais velha do respeitado professor local, Caesar, que tem uma família numerosa. Enquanto vão chegando, a espaços, notícias da guerra, vai-se instalando um clima inquietante em Vermiglio.

Francesco Gheghi ganhou o Prémio de Melhor Actor na secção paralela Horizontes do Festival de Veneza de 2024, pela sua interpretação nesta fita. Ele é Luigi Celeste, de 20 anos, que vive com a mãe e o irmão. O pai, Franco, desapareceu, deixando um rasto de medo e violência, e Luigi, em crise de identidade, junta-se a um grupo de extrema-direita, mas então o pai regressa, decidido a recuperar tudo aquilo que perdeu. Realizado por Francesco Costabile, Familia é baseado em factos reais.

Realizado pela última companheira de Marcello Mastroianni, Anna Maria Tatò, durante a rodagem de Viagem ao Princípio do Mundo, de Manoel de Oliveira, em 1996, e pouco antes da morte do actor, e incluído na secção de homenagem Amarcord-Mastroianni 100, Lembro-me, Sim, Eu Lembro-me é um documentário biográfico de 1997 em que Mastroianni passa em revista a sua vida e a sua carreira, falando sobre absolutamente tudo: a infância, os seus primeiros papéis, o trabalho de actor e a fama, a colaboração histórica com Federico Fellini, ou as mulheres e o amor.

Ao tirar a própria vida, no dia 20 de Novembro de 2012, Andrea Spezzacatena, de 15 anos, tornou-se no primeiro caso conhecido em Itália de um suicídio de menor causado por bullying e cyberbullying. A tragédia começou com um acontecimento inócuo: umas calças vermelhas oferecidas ao rapaz pela mãe, que ficaram cor-de-rosa após uma lavagem com o programa errado na máquina. Este filme, de Margherita Ferri, inspira-se na história de Andrea e no livro escrito pela mãe. Foi uma dos mais vistos em Itália em 2024.

Datado de 1961 e fazendo parte da referida secção dedicada ao realizador e argumentista Antonio Pietrangeli, Fantasmas de Roma foi então estreado em Portugal e é uma deliciosa e inventiva comédia sobrenatural, interpretada por Marcello Mastroianni, Sandra Milo, Vittorio Gassman e Eduardo De Filippo, com direcção de fotografia de Giuseppe Rotunno. A história passa-se num velho palacete romano habitado pelos fantasmas dos seus antigos proprietários, que se mobilizam para impedir que um jovem especulador imobiliário transforme o edifício num moderno hotel.