Melhores Filmes 2024
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Os 10 melhores filmes de 2024

Estes são os 10 melhores filmes que se estrearam em Portugal em 2024. De ‘Anatomia de Uma Queda’ a ‘Anora’.

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Nem todos os filmes desta lista se estrearam em 2024 na sua terra de origem. Aliás, em dez, apenas cinco carregam consigo essa data de estreia; os restantes chegaram às telas portuguesas no ano seguinte ao da sua estreia. É o caso de Os Excluídos ou Anatomia de Uma Queda, duas longas-metragem se destacaram na última edição dos Óscares. Ou mesmo Folhas Caídas, premiada em Cannes. Mas há outras produções bem encaminhadas para as várias temporadas de prémios, uma delas com alguma vantagem: Anora, que já tem uma Palma d'Ouro na prateleira. Estes são os filmes que mais gostámos de ver em 2024.

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Os 10 melhores filmes de 2024

Ferrari

Família, velocidade, risco e tragédia são as linhas com que se cose o novo filme de Michael Mann, centrado em Enzo Ferrari (Adam Driver, simplesmente perfeito na composição física e psicológica da personagem) e passado ao longo de algumas semanas do Verão de 1957, muito difíceis para aquele, em termos pessoais, familiares e empresariais. Enzo precisa de uma grande vitória desportiva, e decide apostar tudo na popular e arriscadíssima corrida das Mil Milhas, pondo enorme pressão sobre engenheiros, mecânicos e pilotos. Em Ferrari, Mann harmoniza o íntimo e o épico, junta o retrato pessoal traçado com delicadeza emotiva, e a recriação exaltante e vertiginosíssima, pela imagem e pelo som, de uma grande competição automóvel travada em moldes de arrojo e de insegurança hoje impensáveis. E fala também sobre o mito e a mística da marca Ferrari.

Os Excluídos

Em 1970, num colégio privado da Nova Inglaterra, um professor de quem ninguém gosta, tem que ficar, do Natal ao Ano Novo, na escola, a tomar conta de um aluno inteligente mas rebelde, juntamente com a cozinheira-chefe, que perdeu o filho no Vietname. Realizada por Alexander Payne, Os Excluídos é uma comédia dramática sobre três solitários que representam outras tantas formas pessoais de infelicidade, e que vão ter que se relacionar nos dias que vão passar juntos numa época de alegria festiva e convívio familiar. Payne recria a época com discreta exactidão, não força qualquer nota sentimental e consegue um filme pleno de observação e calor humano, humor seco e irónico, e drama tocante. Paul Giamatti no professor, Dominic Sessa no rapaz e Da’Vine Joy Randolph na cozinheira, trazem graça, emoção e uma imediata e profunda verdade humana às suas personagens.

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Anatomia de uma Queda

Palma de Ouro em Cannes, Anatomia de uma Queda, de Justine Triet, põe em cena um casal de escritores, Sandra, alemã, que publica com sucesso, e Samuel, francês, que sofre de bloqueio criativo. Daniel, o seu filho de 11 anos, tem graves problemas de visão após um acidente e precisa de um cão-guia. A família vive num chalé na montanha, perto de Grenoble, e um dia Samuel é encontrado morto pelo filho, aparentemente após ter caído de uma janela ou cometido suicídio. Mas a polícia põe a possibilidade de ter havido homicídio, e Sandra é a principal suspeita. O filme tem a estrutura, os tiques e as características narrativas de um policial jurídico clássico, mas Triet demora-se mais do que é habitual a descrever e desvendar o background humano, doméstico, emocional e psicológico do caso. Sandra Hüller é óptima, alternando entre duas línguas na sua interpretação, mas não esqueçamos Milo Machado Graner no precoce e sensível Daniel.

Assassino Profissional

Gary Johnson (Glen Powell), um professor de Filosofia de Nova Orleães apaixonado por electrónica e que colabora com a polícia local fazendo escutas, vê-se “promovido” a falso assassino profissional que apanha em flagrante pessoas que o querem contratar. Só que um dia quebra o protocolo policial ao recusar a proposta de uma jovem que quer mandar matar o marido abusador, e envolve-se com ela. Esta, por sua vez, foi atraída pela personagem sob a qual Gary se lhe apresentou, o duro, sedutor e cool Ron. Realizada por Richard Linklater, que também assina o argumento com Glen Powell e Skip Hollandsworth, Assassino Profissional é uma comédia romântico-policial de bolso, inteligente, desenvolta, fluente e divertidíssima, com interpretações inspiradas de Powell e da moreníssima Adria Arjona na rapariga que se apaixona pelo carismático Ron, sem saber que ele é na realidade o chóninhas Gary.

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Folhas Caídas

O par romântico (por assim dizer) de Folhas Caídas, de Aki Kaurismaki, é composto por Holappa (Jussi Vatanen), um operário que está sempre a ser despedido porque bebe demais, e Ansa (Alma Pöysti), que trabalha numa fábrica depois de ser também despedida por levar para casa, do supermercado onde estava empregada, comestíveis cuja data de validade expirou. Holappa e Ansa encontram-se num bar de karaoke e depois vão andar desencontrados durante quase todo o resto do filme. A história é ora macambúzia, ora cómica, embora nenhuma das personagens quase nunca se ria, e apesar da inexpressividade geral e do clima de understatement radical, Kaurismaki consegue instilar emoção, riso, tristeza, melancolia ou significado em cada sequência. No final, Holappa e Ansa acabam por ficar juntos, e com um cão vadio que ela recolheu. O animal chama-se Chaplin. Aki Kaurismaki é um cineasta chaplinesco por excelência, e Folhas Caídas até podia ser um filme mudo.

Horizon: Uma Saga Americana – Capítulo 1

Este é o primeiro de quatro westerns realizados e interpretados por Kevin Costner, que abrangem 15 anos da colonização do Oeste americano, e em que ele quer lançar uma ponte para o western clássico e dar-lhe continuidade. A história tem como centro uma cidade aqui ainda em germe, Horizon, para a qual vão convergir uma série de personagens, apresentadas e caracterizadas neste filme inicial. Costner acena à tradição do género e recusando “desconstruções” e revisionismos, conciliando lenda e realismo, a mitologia do Oeste e acontecimentos históricos, a narrativa heróica dos pioneiros e a tragédia sangrenta das populações nativas, num enredo a fervilhar de romanesco que lança e cruza os destinos de uma colecção de personagens características do western (colonos, índios, militares, cowboys, prostitutas, pistoleiros, etc.). E transfere para o cinema o formato das séries de televisão e streaming, amplificando-o e sublinhando-o do ponto de vista dramático, narrativo e visual.

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Terra Queimada

Segundo filme policial de uma trilogia do realizador germano-turco Thomas Arslan, protagonizado por Trojan, um lacónico e solitário ladrão profissional de alto coturno, interpretado por Misel Maticevic. Aqui, ele envolve-se com um trio de outros assaltantes no roubo de um valioso quadro de um museu de Berlim. Arslan remete, em Terra Queimada, na forma, nas personagens, nos ambientes e no tipo de história, para os clássicos do noir americano, mas também do europeu (Henri Verneuil, Jean-Pierre Melville) e assina um policial melancólico, crepuscular e fatalista, que se caracteriza pela elipse e pela economia, mesmo nas sequências de acção. E mostra um mundo do crime em rápida transição na era dos computadores e do digital, que vai mexer drasticamente com as oportunidades de trabalho e o modo de funcionar dos veteranos, bem como com a sua ética específica.

Anora

Sean Baker ganhou o Festival de Cannes com esta fita sobre Ani/Anora, uma jovem dançarina erótica de Brooklyn com ascendência uzbeque, que se envolve e casa com o estouvado e imaturo filho de um oligarca russo que está a estudar nos EUA. Rodado em 35 mm e widescreen, e parecendo saído dos anos 70 pelo realismo directo, pela autenticidade geral e pelo pitoresco comunicativo das personagens, todas elas com origens ou ascendência de Leste, Anora glosa o cliché da stripper/dançarina erótica/prostituta de coração de ouro, espírito prático e ingenuidade de sentimentos. O filme é parte farsa screwball acelerada, parte história amarga de uma Gata Borralheira contemporânea frustrada, e parte retrato empático de personagens muito queridas ao realizador, as que vivem, trabalham e sobrevivem nas franjas da sociedade americana. Na profissionalmente pragmática e vivida, mas sentimentalmente ingénua e tenrinha Ani, Mikey Madison carrega o filme às costas e é o seu hiperactivo centro de gravidade.

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Conversas com o Diabo

O melhor filme de terror do ano pertence aos australianos Cameron e Colin Cairnes, é passado em 1977, em Nova Iorque, e tem a forma de found footage. Jack Delroy, apresentador de um outrora popular talk show televisivo, perdeu a mulher, morta de cancro, e boa parte da sua audiência. Planeia então uma emissão especial de Halloween em directo, com um vidente, um céptico, uma parapsicóloga e uma jovem que é a única sobrevivente do suicído em massa de um culto satânico e está alegadamente possuída por um demónio. Além de fazerem um pastiche impecável da televisão americana dos anos 70, os Cairns cruzam elementos de Escândalo na TV, de O Exorcista e do célebre falso documentário da BBC Ghostwatch, para mostrarem como é que um talk show em crise se vai transformando no cenário de uma manifestação demoníaca. David Dastmalchian é excelente no desesperado Delroy, um misto de Johnny Carson do pobre e de Jerry Springer.

Juror #2

A desconsideração feita a Clint Eastwood pela Warner Bros., um estúdio com o qual o actor e realizador trabalha há meio século, dando-lhe fartos lucros, prémios vários e de topo, e muito prestígio, ao estrear o seu novo filme (que poderá também ser o derradeiro) num punhado de cinemas nos EUA, e fora de portas só nalguns países, tendo-o enviado para streaming (Max) nos restantes, diz tudo sobre quem manda agora na indústria cinematográfica dos EUA. Escrito por Jonathan A. Abrams, Juror #2 é um “drama de tribunal” com um grande twist: Justin Kemp (Nicholas Hoult), um jovem jornalista cuja mulher, uma professora, está prestes a dar à luz o primeiro filho do casal, e é membro do júri de um caso de homicídio, percebe que poderá estar envolvido no mesmo. Eastwood filma esta história sobre a luta interior entre o interesse pessoal e familiar, o dever de consciência e o sentido da justiça, com a clareza, a economia cinematográfica e o sentido moral dos grandes mestres.

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