‘As Mil e Uma Noites’, de Miguel Gomes (2015)
Não há, de certeza, em todo o mundo, um filme sobre a crise (ou melhor, uma trilogia de filmes) tão excêntrica, arrojada, desequilibrada, desconcertante, desmesurada e mutante, e ao mesmo tempo simultaneamente tão realista e fantasiosa como este (ou esta). Em três “volumes”, O Inquieto, O Desolado e O Encantado, o realizador de Tabu recorre aos métodos do cinema de guerrilha, ao mote de Xerazade no clássico da literatura do título e ao seu consabido gosto pela porosidade entre real e ficcional, para contar histórias, ora literais, ora alegóricas, ora ficcionadas, ora documentais, da crise que nos caiu em cima e dos efeitos que teve sobre a vida dos portugueses.