O Atalante (1934)
É verdade que Jean Vigo já tinha dirigido um punhado de curtas-metragens. E mais verdade é que apenas com uma delas, Zero em Comportamento, só precisou de 40 minutos para debitar mais ideias inovadoras e criar mais imagens originais que a esmagadora maioria dos cineastas ao longo de uma carreira. Mas O Atalante é, de facto, o seu primeiro filme longo. E tragicamente também a sua última película, pois aos 29 anos Jean Vigo foi vencido pela tuberculose. Esta obra, no entanto, é universal, e, há muito se percebeu, capaz de viver para além do seu tempo mantendo imaculada a sua beleza e actuais os seus enredo e subtexto. Talvez isso se deva à aparente inocência da narrativa do que parece um simples romance que o tempo vai temperando nas dificuldades. Mas essa é só a superfície, pois o importante é a forma inovadora, astuta e poética como o realizador, dirigindo Dita Parlo e Jean Dasté, representa factos e emoções, acrescentando camadas de densidade psicológica como quem pinta na luz novas demãos e a cada uma acrescenta pormenores que tornam cada vez mais ténue a linha que separa a realidade do sonho.