1. Cucumbi
As fotografias do antes e depois do Cucumbi são a primeira visita guiada pela quinta biológica que Catarina e Tozé Francês transformaram num pequeno hotel de charme à porta de Montemor-o-Novo. Podia ser uma história como outra qualquer: um casal que troca Lisboa pelo campo e aproveita que o Alentejo está na moda para se lançar à aventura no alojamento turístico. Mas não. Primeiro porque Catarina e Tozé não abandonaram Lisboa por completo e depois porque antes de porem em marcha o projecto do que viria a ser uma casa aberta ao público trataram de recuperar a parte agrícola que sempre foi a actividade principal da quinta. Na origem estiveram o pai e a madrasta de Catarina, vegetariana convicta e fervorosa defensora do consumo consciente à mesa e que inspirou a simplicidade e sustentabilidade que servem de traves mestras ao que hoje é o Cucumbi.
E o que é o Cucumbi? Antes de cairmos na tentação de começar a adjectivar descontroladamente, importa dizer que o Cucumbi é todo alma e coração. Antes de ser o que é já era uma casa de família, mas foi preciso deitar umas paredes abaixo, abrir os espaços da casa principal e converter as antigas habitações dos funcionários da quinta em unidades de alojamento. A vontade era tanta que a obra ficou pronta num ano e em junho, portanto há coisa de um mês, os sete quartos e suítes, ainda cheirar a novo, começaram a receber hóspedes. Mantiveram-se as lareiras das antigas cozinhas e as paredes toscas, algumas caiadas outras com o tijolo à mostra, e rechearam-se os interiores com mobiliário rústico, flores campestres colhidas ali à porta, cadeiras de palha, mantas de lã portuguesas e roupa de cama tão branca que branco mais branco não há, e que completam um espólio de peças escolhidas a dedo para não roubar a luz natural dentro de portas.
Nas traseiras dos quartos, à excepção da suíte duplex, partilha-se um terraço que parece saído de uma revista de decoração e que embora não esteja delimitado a cada um dos quartos tem espaço de sobra para que cada dupla de ocupantes se possa estender ao sol nas cadeiras de lona ou aproveitar as camas de ferro para para ficar confortavelmente a ver o sol a desaparecer na planície. Até lá, e porque o calor do Alentejo interior não é misericordioso, é obrigatório passar pela piscina e fazer uso das mesas e sofás do alpendre para ir descansando do sol. Quem estiver para aí virado, também há um salão anexo com mesas de bilhar e matraquilhos para entreter.
Apesar da proximidade de Montemor-o-Novo e de Alcácer do Sal (a cerca de 25 quilómetros), sair do Cucumbi para almoçar ou jantar pode causar alguns transtornos - ninguém no seu perfeito juízo tem gosto em interromper um dia de sol a troco de alimento -, já que é mesmo obrigatório pegar no carro para ir à caça de um restaurante nas redondezas. A alternativa é optar por uma das duas casas com cozinha e preparar um almoço rápido para comer à beira da piscina.
Ao jantar Catarina e Tozé deixam em aberto o convite para se juntar ao jantar da família Francês. Fernando, amigo e braço direito do casal é o “chef” de serviço mas avisa logo que não há cá pratos gourmet ou refeições muito elaboradas e que a ementa é exclusivamente vegetariana, respeitando a filosofia dos donos da casa. A preparação é feita à frente de todos (quem quiser pode e deve dar uma ajudinha) e vai acompanhando com um copo de vinho, umas azeitonas e uns queijos regionais. A mesa com bancos corridos encaixa sempre mais um e ao pequeno-almoço a história repete-se. A ilha da cozinha é ocupada pelo pão estaladiço, fruta fresca, manteiga de cacau, panquecas, iogurte natural para temperar com mel e compotas feitas em casa, bolo acabado de sair do forno e ovos biológicos da quinta preparados a pedido. Não há fiambres nem carnes frias de espécie alguma e não fazem falta rigorosamente nenhuma. Vale a pena servir-se, levar o prato para as mesas do jardim e tomar o pequeno-almoço à sombra e com vista para o campo.
À noite, a sala de estar onde repousa, majestoso, um piano de cauda, transforma-se em sala de cinema com a projecção de alguns clássicos da sétima arte. Pegue numa das bicicletas da casa e explore os trilhos das propriedade. A brincar, a brincar ainda são uns bons quilómetros a dar ao pedal.