Quinta das Lágrimas
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Não há dramas na Quinta das Lágrimas

O hotel de charme em Coimbra não faz jus à história sangrenta e triste do jardim que o rodeia. E ainda bem.

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A história de D. Pedro e D. Inês é tida como muito romântica, muito linda. Os casais de visita à Quinta das Lágrimas e respectivos jardins, fazem aquela coisa tola que os casais fazem quando se vêem rodeados de plantas – escrevem os seus nomes nos troncos com uma navalha (agora a sério, quem é que leva um canivete para um encontro romântico?). O amor trágico e violento não deve ser uma referência para as relações modernas, mas um drama histórico nunca fez mal a ninguém.

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A Quinta das Lágrimas, em Coimbra, tem esse nome por causa da Fonte das Lágrimas, no seu jardim. A fonte é um ribeirinho discreto, com água muito transparente, que, juram alguns panfletos, ainda tem manchas avermelhadas do sangue de D. Inês. Todo este folclore ajuda a tornar este sítio especial, mas o hotel é muito mais do que um complemento à narrativa lendária do amor romântico à portuguesa.

A quinta, transformada em hotel em 1995, é um lindíssimo palácio do século XIX que se mantém desde 1730 na mesma família. Não estava ali naquele lugar no século XIV, aquando dos encontros clandestinos de Pedro e Inês, mas toma as suas dores: a decoração dos quartos é fortemente influenciada pela lenda e mesmo com muito esforço não conseguimos evitar a história dos dois amantes entre a parafernália decorativa. Trata-se de um hotel de cinco estrelas, membro do Small Luxury Hotels of The World, muito apreciado por, entre outros, a fadista Amália Rodrigues: “Quem me dera ter nascido aqui”, disse um dia. Teria sido uma grande mais-valia para o fado de Coimbra – e para Amália, já agora, que tendo nascido num palácio nunca teria sido obrigada a vender laranjas na baixa.

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A Quinta das Lágrimas é um sítio onde nos imaginamos facilmente a passar o resto desta vida. E até a próxima. Infelizmente, isso é impossível. Imaginem: passávamos o Inverno entre a piscina interior e a biblioteca (pequena, muito bonita, recheada de edições encadernadas da Paris Match), o Verão na piscina exterior e na esplanada do gastrobar. E as estações intermédias a passear no jardim, que está aberto a não-hóspedes (2,5€) e tem duas sequóias gigantes (Sequoia sempervirens) que parecem saídas de outros tempos (ou de outros planetas), plantadas para celebrar a estadia do Duque de Wellington na quinta – esse mesmo, o das invasões francesas que nos ensinam na escola. A Quinta das Lágrimas dispõe ainda de um spa com todos os luxos modernos, parte da nova ala do hotel, inaugurada em 2004, e um generoso campo de golfe que, apesar de muito próximo do edifício e jardim, nunca se fez notar. Isto é, não encontrámos bolas brancas entre as folhagens.

Os hotéis de cinco estrelas têm este problema: são o simulacro de uma vida faustosa que dificilmente teremos. Uma encenação com data marcada para acabar, uma fantasia que guardamos na mala de viagem antes de deixarmos Coimbra para trás.

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Quem vê de fora não imagina o que esconde o seu interior. A sobriedade do Alentejo Màrmoris Hotel & Spa, o antigo lagar da Cooperativa dos Olivicultores de Vila Viçosa, é um contraste absoluto daquilo que encontramos para lá das portas: uma ode ao mármore, em tons brancos e pretos com apontamentos dourados aqui e ali.

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