Já rodámos alguns milhares de quilómetros pelo país para perceber que a cada hotel corresponde um tipo de público muito específico. Os hóspedes não são todos iguais, não é isso, mas há sempre um grupo prevalente que encaixa na perfeição na oferta do hotel. Tipo velhotes nas termas. É uma estratégia de negócio que se tem provado eficaz embora o grupo Selina o rejeite veementemente. Presente em mais de dez países, chegou a Portugal com a ideia urgente de transformar a hotelaria num organismo vivo que existe para se adaptar ao ambiente e ao público. A fórmula é simples: chama-se a comunidade local, artistas emergentes e talentos escondidos, juntam-se os que vêm de fora e cria-se um espaço de partilha e convívio gerido ao ritmo de cada um.
No Selina Ericeira, que abriu no Verão a dois passos do centro da vila, assume-se orgulhosamente o surf como linha mestra mas isso não significa que seja um hotel “para surfistas”. Também é, como é para famílias, casais apaixonados e nómadas modernos que só precisam de wifi para trabalhar. No fundo é para toda a gente que gosta de sítios bonitos e descomplicados com vida própria onde tanto dá para passar o dia no mar entre surf e paddle na reserva da Pedra Branca e acabar a tarde a beber um copo no terraço do hotel como para começar a manhã com uma aula de Yoga antes de se sentar a trabalhar na sala de cowork com uma taça de açaí e um café americano.
No Verão dir-lhe-íamos para se apressar a guardar lugar à beira da piscina mas para já vale a pena subir ao topo do hotel para admirar o mural do ilustrador Peixe Pedro e a vista panorâmica da vila. Entretanto deixe-se ficar e sinta-se em casa. Há uma cozinha partilhada para preparar refeições e onde é provável que acabe a jantar com companhia, uma sala de estar com biblioteca e muito espaço ao ar livre para pôr a casa a mexer. O terraço do hotel vai funcionar com programação regular aberta ao público entre recitais de de poesia, concertos, debates, workshops ou Dj sets.
No meio disto tudo pode optar por uma via mais calma e aproveitar a viagem para descobrir o que mudou na Ericeira. Se vai à espera de encontrar uma estância balnear simpática e com bom marisco mas deserta, vai ficar agradavelmente surpreendido com a vida da vila. Ela é brunches fotogénicos, cocktails de autor, lojas de surf, sushi, comida mexicana e noites longas de dança com vista para o mar, e também é a tradição do mercado pela manhã, do cheiro a grelha e das montras dos restaurantes a arrumarem-se com o que o mar entregou no dia.
Ainda assim, genuína e equilibrada, a Ericeira não se livra de ter algumas armadilhas para turistas – e os portugueses também caem –, por isso passe pela recepção e peça umas dicas à equipa para saber das novidades e fugir do engano.
O Selina Ericeira tem 58 camas em dormitórios e quartos para dois, três ou quatro, incluindo os micro quartos só com espaço para uma cama de casal e uma mesa de cabeceira. Mesmo nos quartos mais pequenos, com pouquíssima margem decorativa, as paredes servem de tela a artistas nacionais e convivem, lado a lado, peças antigas com mobiliário nórdico e artesanato local. E muitas, muitas plantas e muito verde por todo o lado para ilustrar a selva urbana que o Selina acaba de criar.