Coolture Tours - Felisa Perez
Mariana Valle LimaFelisa Pérez, da Coolture Tours
Mariana Valle Lima

Grandes guias para pequenos aventureiros

Não é só nas aulas, sentados na carteira, agarrados aos livros e a olhar para o quadro, que eles aprendem História. Há quem conte o passado de Lisboa (e não só) de formas mais originais. Fomos conhecer quatro stôras – ou melhor, mediadoras culturais.

Raquel Dias da Silva
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Felisa Pérez também é D. Maria Pia de Sabóia. Quem disser o contrário terá de prestar contas às muitas crianças que a acompanham em visitas encenadas ao Palácio Nacional da Ajuda. A historiadora interpreta a princesa italiana e rainha consorte de Portugal desde 2017, ano em que fundou a Coolture Tours. “O projecto [de educação e animação cultural] começou no Museu dos Coches, mas entretanto temos programas em muitos outros espaços, como a Fragata D. Fernando II, onde as crianças são recebidas por um marinheiro”, revela-nos, vestida à época, pelos corredores daquela que foi a residência oficial da família real na segunda metade do séc. XIX. “Quando me foi sugerido fazer visitas com figurino, caiu-me a ficha e decidi fazê-las na primeira pessoa, o que faz toda a diferença.” Ao contar a história como se a tivesse vivido, Felisa concentra-se sobretudo nos eventos do dia-a-dia, das paixões artísticas da rainha às traquinices dos seus filhos, os príncipes. “O objectivo é proporcionar-lhes uma experiência feliz, de reencontro com o património. Há um fio condutor, que se vai desenrolando, claro. Mas tento orientar o percurso consoante o ritmo e interesse deles. Por exemplo, as crianças até aos oitos anos reparam muito nas cores; então, eu costumo falar-lhes das pinturas da rainha, que desenhava a aguarela. Depois, como as crianças gostam de tocar em tudo, tenho sempre uma bolsa com objectos relacionados com a temática, que andam de mão em mão e os mantêm entretidos”, conta Felisa, antes de convidar as famílias para uma visita ainda mais especial no próximo dia 16 de Outubro, data em que a rainha cumpriria 175 anos.

Vários locais. 12,50€/visitas para famílias com crianças a partir dos 4 anos. 96 332 9321. www.coolturetours.com. info@coolturetours.com

Fazer da cidade um museu

Paula Ribeiro nunca imaginou que, um dia, viria a fazer mediação cultural. Foi só na fase final de uma pós-graduação em Museologia, já depois de uma formação em História da Arte, que a oportunidade surgiu. “Era uma tortura apresentar um trabalho diante dos meus colegas. Mas, para terminar o curso, tive de fazer um estágio num serviço educativo. E foi uma boa surpresa”, confessa a mediadora, que nos recebe no Palácio Pimenta, o núcleo-sede do Museu de Lisboa. A trabalhar na área há 17 anos, a prática tem feito o mestre. E trabalhar com diferentes faixas etárias, muitas vezes numa só sessão, faz a diferença. “É uma forma de aprender a adequar discursos ou estratégias”, esclarece. “Não há uma única receita para fazer chegar a História a todos, mas há alguns ingredientes que nos ajudam a ser bem-sucedidos.” Por exemplo, a duração das actividades para as famílias, que convidam ao encontro entre gerações, nunca é muito extensa e, se for caso disso, também há abertura para ignorar o guião – como quem diz ler a plateia, ter jogo de cintura e arriscar outra abordagem. “Há temáticas, como a do terramoto de 1755, que chamam muito mais a atenção das crianças. Mas tento criar uma ponte entre o passado e o que eles conhecem dos dias de hoje ou as memórias que os pais e avós têm. E até mostrar-lhes como a própria cidade é um museu e como há aqui símbolos que também encontramos nas ruas.”

Palácio Pimenta, Santo António, Teatro Romano: Ter-Dom 10.00-18.00 / Casa dos Bicos: Seg-Sáb 10.00-18.00. Vários preços. www.museudelisboa.pt. info@museudelisboa.pt

Passar a palavra

Susana Alves coordena um grupo de críticos muito especial. Chamam-se Os Especificalistas – Grupo Específico de Acção Crítica, têm entre sete e 12 anos, encontram-se de forma regular e dão voz a um podcast. “Sou formada em psicologia educacional e interesso-me muito pelos processos mentais na educação: como é que processamos a informação que nos vem do exterior, como é que relacionamos o pensamento com o mundo que nos rodeia, e como é que vamos aprendendo nesta relação entre nós e os outros e nós e o mundo”, diz Susana, que trabalha como freelancer em serviços educativos de diferentes instituições culturais, como a Culturgest e o Museu Berardo, há mais de dez anos. “Quando surgiu a oportunidade de criar o meu próprio projecto, não hesitei em pôr as minhas ideias em prática.” A ambição é, por um lado, desconstruir a ideia de que uma crítica é só dizer mal; e, por outro, dar voz aos miúdos e criar espaço para que eles possam partilhar as suas opiniões, inclusive com diferentes agentes culturais e criativos. “Tenho levado os mais novos a ver exposições ou peças de teatro, mas gostava de começar também a trabalhar costumes e a colocar as crianças em confronto com diferentes maneiras de fazer”, revela. “A essência é a mesma. Quero ajudá-los a desenvolver pensamento e espírito crítico. O sistema educativo está muito focado para a execução e a eficácia, mas questionar e errar faz parte. Quando somos crianças, passamos a vida a fazer perguntas e a experimentar coisas e, à medida que vamos crescendo, vamos sendo castrados. Acho que é importante encontrar um equilíbrio entre ser produtivo e contemplativo. E é possível e importante ensinar as crianças de uma forma completamente diferente, tornando as coisas mais concretas, por exemplo. É muito mais fácil aprender história num museu ou biologia no jardim do que numa sala de aula.”

Vários locais. Preço por definir. www.lugarespecifico.pt. info@lugarespecifico.pt 

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Ir mais além

Margarida Mascarenhas anda a contar a história do Museu do Oriente desde a sua inauguração, em 2008. “Tive a oportunidade e o prazer de fazer as primeiras visitas”, conta a antropóloga de formação, que entrou para o serviço educativo na primeira bolsa de monitores. “Mas a forma de fazer vai sempre mudando, porque trabalhamos para e com o público. E, por isso mesmo, não ensinamos só, também aprendemos.” É precisamente esse o segredo para se ser bem-sucedido, sobretudo com os mais novos. “As crianças fazem perguntas muito mais espontâneas, que se calhar até passam pela cabeça dos adultos.” Por exemplo, no âmbito das visitas “Em Conversa Com as Peças”, já houve quem perguntasse porque é que o Menino Jesus Bom Pastor está a falar ao telemóvel. Não está claro, mas parece. E aos mais pequenos não há pormenor que passe despercebido – o que dá muito jeito, porque é esse o propósito das visitas de 30 minutos para crianças a partir dos seis anos: desafiá-las a parar, a observar e a perguntar sobre o que mais as intriga. “Muitas vezes as dúvidas e os comentários feitos inspiram a programação”, confessa Margarida, antes de destacar a dinâmica em grupos com irmãos ou diferentes idades. “Os mais velhos gostam de apoiar os mais novos e é uma boa maneira de trabalhar a entreajuda, a cooperação e até a paciência, mas sempre a partir de um elemento visual.” É essa a mais-valia de levar a sala de aula para um museu: poder contar a História a partir dos objectos que a compõem e que contam por si só diferentes histórias, quase como se estivéssemos a montar um puzzle.

Museu do Oriente. Ter-Qui e Sáb-Dom 10.00-18.00, Sex 10.00-20.00. Desde 2€. Grátis até aos cinco anos.

Este artigo foi originalmente publicado na Time Out Lisboa — Outono 2022.

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