PJ Harvey
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10 canções que sugerem que o Brexit poderá não ser boa ideia

Os cidadãos britânicos decidiram em referendo que estariam melhor sozinhos, mas há muitos músicos do lado de lá do Canal cuja visão desencantada se opõe às imagens idealizadas da velha e boa Grã-Bretanha

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O voto a favor do Brexit teve diferentes motivações: uns acreditam que é fundamental que a Grã-Bretanha recupere a soberania que terá cedido à UE; outros foram levados a crer que a Grã-Bretanha dá fortunas para que os gregos construam pontes monumentais enquanto as estradas britânicas estão esburacadas; outros temem que os imigrantes roubem os empregos aos britânicos; outros são imigrantes que acabaram de adquirir nacionalidade britânica e vêem em novas levas de imigrantes a maior ameaça ao seu emprego; outros têm saudades do tempo em que a Grã-Bretanha era uma potência imperial. O que quase todos têm em comum é um apreço pela identidade nacional – Eton, fish & chips, Cambridge, o chá das cinco, Oxford, scones, os Windsor, autocarros vermelhos de dois pisos, a BBC, usar sandálias com peúgas, o Big Ben, as corridas de cavalos em Ascot – e a aura de harmonia e prosperidade que associam a um passado idealizado, anterior à perda de soberania para as instituições europeias e ao afluxo maciço de imigrantes.

A canção pop britânica tem dado provas de não partilhar do apreço pelas instituições e valores exaltados pelos sectores mais conservadores – a começar pela monarquia – e recorda que o país tem problemas, incongruências e iniquidades que não decorrem da ingerência de Bruxelas, da globalização ou dos imigrantes.

10 canções que sugerem que o Brexit poderá não ser boa ideia

“London Calling”, dos The Clash

Ano: 1979
Álbum: London Calling

Os The Clash tiveram o mérito de conjugar o sentimento de revolta com inteligência e ironia e de condimentar as estruturas musicais rudimentares do punk com influências de reggae – e, a partir do seu terceiro álbum, London Calling, com ska, rockabilly e rhythm’n’blues (para desconsolo de alguns fãs mais ortodoxos). London Calling rompeu também com as convenções punk da concisão – é um álbum duplo – e do despojamento – inclui arranjos de metais.

A canção que lhe dá título traça um cenário apocalíptico: mudanças climáticas e subida do nível dos oceanos, o risco nuclear (o acidente na central de Three Mile Island ocorrera no início desse ano), brutalidade policial, menções a uma guerra que tanto pode ser entre nações como entre classes, grupos étnicos ou gerações. Esta Londres está a ser submersa – literalmente e no sentido figurado. Os The Clash continuariam a dar voz ao mal-estar reinante na Grã-Bretanha da viragem dos anos 80-90, mas a inspiração da banda foi-se desgastando e a ácida “This Is England”, do último álbum, Cut the Crap (1985), embora mantenha a veemência dos textos, é um fiasco do ponto de vista musical.

“Shipbuilding”, por Robert Wyatt

Ano: 1982
Álbum: Nothing Can Stop Us

A canção foi composta por Elvis Costello (letra) e Clive Langer (música), mas quem a imortalizou foi Robert Wyatt. Surgiu como reflexão sobre a Guerra das Falkland/Malvinas (a guerra terminou em Junho e o single de Wyatt surgiu em Agosto) e interrogava-se sobre se os benefícios para o emprego – “Um novo casaco de Inverno e sapatos para a mulher/ E uma bicicleta para o aniversário do filho” – resultantes da reactivação da indústria naval britânica, espoletada pela guerra, justificariam a perda de vidas.

A canção foi reeditada na compilação de singles de Wyatt Nothing Can Stop Us.

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“Old England”, de The Waterboys

Ano: 1985
Álbum: This Is the Sea

Faz parte do terceiro – e mais conseguido – disco de The Waterboys, quando ainda praticavam uma pop de sopro épico, antes de se terem convertido numa banda de folk-rock céltico, escorreita mas semelhante a dezenas de outras.

“Old England” é uma das canções mais ácidas de Mike Scott: “A velha Inglaterra está a morrer/ As suas roupas são de um azul sujo/ E os seus velhos sapatos estão desfeitos/ A velha Inglaterra está a morrer/ E, todavia, ainda canta a canção do Império/ Ainda mantém uma marinha poderosa/ E ainda hasteia a sua bandeira em lugares que não lhe pertencem”. Mais à frente, Scott descreve um país de “casas confortáveis e mães que suspiram”, “em que os criminosos e os políticos da TV confraternizam” e “todos são civilizados/ E as crianças olham fixamente, com olhos de heroína”.

“Heartland”, dos The The

Ano: 1986
Álbum: Infected

O single “Heartland” não só foi um dos maiores sucessos dos The The, como Matt Johnson chegou a dizer que foi talvez a melhor canção que escreveu. Custou-lhe 18 meses de trabalho (intermitente), mas foram bem empregues, pois não só é, como Johnson pretendia, um retrato da Grã-Bretanha em 1986, como continua, 31 anos depois, a ter actualidade: “Sob as velhas pontes de ferro, pelos parques victorianos/ Toda aquela gente assustada que corre para casa antes que escureça/ [...]/ Esta é a terra em que nada muda/ A terra dos autocarros vermelhos e dos bebés de sangue azul/ É o lugar onde os reformados são espoliados/ E os corações são removidos do estado social/ Que os pobres bebam o leite enquanto os ricos comem o mel/ Que os sem-abrigo se sintam gratos pelo que têm, enquanto outros contam dinheiro”. Esta visão de um país “doente, tristonho e confuso” termina com a frase: “Este é o 51.º estado dos EUA”.

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“The Queen Is Dead”, de The Smiths

Ano: 1986
Álbum: The Queen Is Dead

Uma das canções mais iconoclastas da banda, para a qual Derek Jarman filmou um videoclip não menos provocador. O alvo principal é a monarquia britânica – “Carlos, nunca sentiste vontade/ De aparecer na primeira página do Daily Mail/ Envergando o véu de noiva da tua mãe?” – mas o resto do país não é mais bem tratado: é descrito como uma terra de pauis tristonhos e pequenos rufias de nove anos que traficam droga, de “pubs que te minam o corpo/ E igrejas que esmifram o teu dinheiro”. E, a concluir, “A vida é muito longa quando se está só”.

[Até 6’26; depois vem outra obra-prima da banda, “There’s a Light That Never Goes Out”]

“New Brighton”, dos It’s Immaterial

Ano: 1990
Álbum: Song

Poucas vezes a malaise da classe média britânica foi tão pungentemente retratada como nas canções dos It’s Immaterial, um duo de synth-pop de Liverpool (John Campbell e Jarvis Whitehead) que apenas nos legou dois álbuns e que tem, nas suas canções mais atmosféricas e espaçosas, afinidades com os mais conhecidos The Blue Nile (embora a voz de Campbell seja menos dramática do que a de Paul Buchanan), banda com a qual tiveram também em comum o produtor Calum Malcolm.

“New Brighton” é um hino disfórico a uma cidade que definha lentamente sob a chuva persistente: persianas em baixo, lojas fechadas, pensões vazias, luzes apagadas, ruas e edifícios que pouca história guardam, um ar de época morta que ameaça estender-se por todo o ano.

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“England, Half-English”, de Billy Bragg & The Blokes

Ano: 2002
Álbum: England, Half-English

Num tempo em que a maioria da pop tem escasso empenhamento político e nas ocasiões em que expressa as suas visões da sociedade prefere usar a metáfora e a alusão, Billy Bragg sempre se distinguiu pela frontalidade e acutilância das suas letras, logo desde o primeiro álbum Brewing Up with Billy Bragg (1984). 16 anos depois, em England, Half-English, o seu sentido crítico não esmorecera e as suas letras continuavam a ser directas.

Na canção que dá título ao álbum, Bragg denuncia o racismo e o sentimento anti-imigração e assume-se como sendo apenas “meio-inglês”, o que não tem nada de mal, pois São Jorge, os três leões na camisola da selecção inglesa e a tradicional “Morris dance” (na verdade, uma “mouresca”) também são só meio ingleses.

“Take Down the Union Jack”, de Billy Bragg & The Blokes

Ano: 2002
Álbum: England, Half-English

O álbum de 2002 de Bragg é tão pertinente para o nosso tempo que vale a pena citá-lo novamente. “Take Down the Union Jack” propõe que se arreie a Union Jack, pois “a Grã-Bretanha não é fixe/ E não é assim tão gloriosa/ Nem sequer é bem um país/ Não tem um santo patrono/ É só uma união económica/ Que já passou do prazo de validade”. Ao sentimento patriótico britânico, Bragg contrapõe os independentistas escoceses como exemplo de um nacionalismo saudável. E pergunta-se: “Estamos no século XIX?/ Estou a ver na televisão/ A nossa querida rainha/ A distribuir MBEs/ Member of the British Empire/ E isso não me soa bem”.

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“Fear of Drowning”, dos British Sea Power

Ano: 2003
Álbum: The Decline of British Sea Power

Surgidos no início do século XXI, os British Sea Power recuperaram sonoridades do post-punk britânico de duas décadas antes e somaram-lhe guitarras distorcidas, ironia e alguma atitude camp. O nome da banda é, claro está, irónico e o título do seu álbum de estreia é-o ainda mais.

“Fear of Drowning”, o primeiro single da banda, troça das idealizações do passado britânico e confronta-as com um presente bem menos glorioso: “Nem todo o dinheiro do mundo/ Te pode salvar agora/ O único caminho é a descer”.

“The Last Living Rose”, de P.J. Harvey

Ano: 2011
Álbum: Let England Shake

O oitavo álbum de P.J. Harvey marca, em termos musicais, uma ruptura com o que fizera até então (até a forma de cantar foi substancialmente alterada) e é uma amarga reflexão sobre a guerra em geral e sobre as guerras em que a Grã-Bretanha esteve (ou está) envolvida – e em particular sobre a I Guerra Mundial. “The Last Living Rose” oferece uma visão sarcástica e desolada do seu país: “Malditos europeus!/ Quero voltar à bela Inglaterra/ À sua imundície secular, húmida e cinzenta,/ Aos seus livros surrados,/ Ao nevoeiro que desce das montanhas/ Sobre as campas e os marinheiros mortos/ Quero andar pelas ruas fedorentas/ Ao som das lutas de bêbedos/ Junto ao Tamisa que brilha como ouro/ Vendido à pressa em troca de nada”.

Outras canções

  • Música

Escrever uma música sobre a temática do amor está longe de ser tarefa fácil. Mas bom, o mundo não é perfeito. Por isso, e porque os baby, os lover, os sweetheart ou os honey desta vida também se fazem acompanhar de grandes arranjos, nós damos-lhe o guia das melhores músicas de amor de sempre para amar sem limites.

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