A fama de As Quatro Estações é justa. Não é que faltem motivos de interesse aos outros oito concertos da colecção Il Cimento dell’Armonia e de l’Inventione (O Certame da Harmonia e da Invenção), publicada em 1725, nem aos outros 210 (!) concertos para violino de Antonio Vivaldi que chegaram aos nossos dias. Mas a componente programática de As Quatro Estações, ou seja, a forma como a música ilustra os eventos meteorológicos e os seus efeitos sobre homens, a fauna e a flora, está admiravelmente conseguida.
Os sonetos que Vivaldi juntou a cada concerto de As Quatro Estações estão longe de ser grande poesia, mas ajudam a apreciar o poder sugestivo da música do compositor veneziano. Reza assim o soneto alusivo ao Verão:
Allegro: “Sob a implacável estação, incendiada pelo Sol/ Languescem o homem e o rebanho e arde o pinheiro/ Solta o cuco o seu canto/ Seguido pela rola e pelo pintassilgo/ Uma doce brisa sopra,/ Mas dá subitamente lugar ao vento Norte/ E aflige-se o pastorinho pelo seu destino/, temendo feroz borrasca”.
Adagio e piano – Presto e forte: “O temor dos relâmpagos e dos terríveis trovões/ Priva de repouso os membros lassos/ Moscas e moscardos zumbem furiosos!”
Presto: “Bem fundados eram os receios,/ Ribombam e relampejam os céus/ E a saraivada de granizo decapita as espigas”.
[Um
Presto assolado por ventos ciclónicos, por Giuliano Carmignola (violino) e Orquestra Barroca de Veneza]