Nos 83 anos que decorreram desde que foi escrita, os detalhes da letra original de “Anything Goes” converteram-se em enigmas indecifráveis, mas a sua essência não perdeu actualidade – muito pelo contrário.
Cole Porter (1891-1964), o autor da letra e da música, faz alusão, em tom satírico, a vários eventos escandalosos ou ridículos do show bizz e do jet set norte-americanos daquele tempo. Por exemplo, o filme Nana, uma produção de Samuel Goldwyn desse mesmo ano de 1934, que deveria ter imposto a actriz Anna Sten como uma rival de Greta Garbo, mas que foi um fiasco, em boa parte porque o inglês da ucraniana Sten era praticamente incompreensível – algo que só Goldwyn, nascido e criado na Polónia, não terá percebido.
Naturalmente, os cantores foram deixando cair estas referências à medida que foram ficando datadas e cingiram-se à parte intemporal da letra, o que faz com que a maioria das versões vocais dure pouco mais de dois minutos, uma brevidade que, pelo menos nos anos 50, parece ter contagiado também as versões instrumentais.
A letra diz-nos que muito mudou desde que os puritanos do Mayflower desembarcaram em 1620 em Plymouth Rock (no que é hoje o Massachusetts), evento que é visto como um momento fundador na história dos EUA. Queixa-se Porter de que “Em dias passados, entrever umas meias/ Era tido como algo de chocante/ Mas hoje, sabe Deus/ Vale tudo/ Os escritores de renome, que em tempos eram educados/ Agora só usam palavras ordinárias/ Na escrita da prosa/ Vale tudo/ O mundo de hoje enlouqueceu/ O bom é mau/ E o preto é branco/ E a noite é dia/ Neste tempo em que os homens/ Que as mulheres mais prezam/ São gigolôs tontos”.
A canção fez parte do musical homónimo estreado em 1934, que continha duas outras canções que também se converteram em standards, “I Get a Kick Out of You” e “You’re the Top”.
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