“Enter Sandman”, dos Metallica, por Pat Boone
Embora seja frequentemente traduzido como “João Pestana”, a figura de Sandman faz parte do imaginário popular a Europa Setentrional: é uma criatura que, ao polvilhar os olhos das crianças, à noite, faz chegar o sono e os sonhos. A sua natureza é usualmente vista como benigna, mas por vezes – é o caso de um conto de E.T.A. Hoffmann – também lhe é conferida uma aura sinistra. Inevitavelmente, o Sandman dos Metallica não tem nada de amável e evoca um mundo de terrores nocturnos e monstros ocultos nas sombras (tudo ao nível do teatrinho infantil, claro, que o grupo não é dado a elucubrações profundas).
[versão original]
Pat Boone tinha feito furor na década de 1950 como cantor de rhythm’n’blues, só sendo superado em popularidade por Elvis Presley, e ainda é o detentor do recorde de 220 semanas consecutivas com uma ou mais canções no top de vendas da Billboard. As suas convicções cristãs e conservadoras fizeram-no enveredar na década de 1960 pelo gospel – através do grupo The Pat Boone Family – e, depois, pelo country e a sua popularidade foi desvanecendo-se progressivamente. Era já uma figura do passado quando em 1997 lançou um álbum com um título que é todo um programa – In a Metal Mood: No More Mr. Nice Guy – preenchido com versões de clássicos do metal. Não só o género estava nos antípodas dos antecedentes musicais de Boone, como cantar canções de bandas associadas ao satanismo era uma reviravolta surpreendente numa figura que sempre fora associada a posições cristãs conservadoras e declinara canções ou papéis em filmes que não fossem compatíveis com a sua fé.
[“Enter Sandman” por Pat Boone]
A abordagem jazzística, exuberante e jovial, de Boone faz dissipar instantaneamente as sombras da versão original, enchendo tudo de luz e optimismo. Ficará ao critério de cada um decidir se Boone não percebeu o que estava a fazer ou se possui um refinado sentido de ironia.