Música, Compositor, Coler Porter
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"All Through the Night”: um romance sonhado por Cole Porter

Esta canção sobre um amor que só encontra consumação no mundo dos sonhos está entre as obras-primas de Cole Porter

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“O dia é meu inimigo, a noite está do meu lado/ Vivo em solidão até que o dia se extingue/ [...] Pela noite dentro/ Deleito-me no teu amor/ Pela noite dentro, estás tão perto de mim!/ [...] Quando a madrugada me desperta/ Nunca ali estás!/ E estou certo de que me olvidaste/ Até que as sombras alastram/ E então posso sonhar de novo, é-me concedido/ estar perto de ti pela noite dentro”. A voz que se exprime em “All Through the Night” só no mundo dos sonhos pode estar com a sua amada, daí que abomine o dia e aguarde ansiosamente pela noite. A canção foi composta por Cole Porter para o musical Anything Goes (1934), que também incluiu outras duas canções destinadas à fama: a canção-título e “I Get A Kick Out of You”.

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Dez versões clássicas de “All Through the Night”

1. The Dorsey Brothers

Ano: 1934

“All Through the Night” foi estreada em palco por William Gaxton e Betina Hume, mas a primeira gravação foi dos Dorsey Brothers, uma banda liderada pelos irmãos Tommy (trombonista) e Jimmy Dorsey (clarinetista e saxofonista) que esteve activa entre 1928 e 1935 e ganhou popularidade quando, em 1934, assinou contrato com a Decca. O seu tempo na ribalta foi, todavia, breve, pois o registo de “All Through the Night”, a 27 de Novembro de 1934, foi o derradeiro que realizaram.

2. Helen Ward & Harry Rosenthal

Ano: 1935

“All Through the Night” só logrou verdadeiro sucesso no ano seguinte, com as versões de Bob Lawrence com a orquestra de Paul Whiteman e de Helen Ward (1913-1998) com a orquestra de Harry Rosenthal (c.1893-1953).

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3. Ella Fitzgerald

Ano: 1956
Álbum: Ella Fitzgerald Sings the Cole Porter Song Book (Verve)

Este foi o álbum que inaugurou a histórica série de “Song Books” de Ella para a Verve e foi também o primeiro disco da editora que Norman Granz criou para suceder à Clef e à Norgran. O duplo álbum, com arranjos e direcção de Buddy Bregman, é um marco da história do jazz e contém uma soberba versão de “All Through the Night”.

4. Johnny Mathis

Ano: 1957
Álbum: Wonderful Wonderful (Columbia)

O álbum de estreia, homónimo, de Johnny Mathis (n. 1935), gravado e lançado em 1956, tinha o cantor apenas 21 anos, teve recepção favorável entre a crítica de jazz, mas resultado comercial modesto, não chegando a entrar no top da Billboard. Porém, os singles “Wonderful! Wonderful!” e “It’s Not For Me To Say”, surgidos no final desse mesmo ano, tinham chegado a n.º 14 e n.º 5, e o segundo álbum, Wonderful Wonderful (cujo título parece pretender capitalizar o sucesso do single “Wonderful! Wonderful!”, mas que, bizarramente, não inclui esta canção no alinhamento) chegou a n.º 4 do top da Billboard. Foi o início de uma carreira triunfal para Mathis, que, até à data, lançou 73 álbuns, dos quais 18 atingiram vendas de pelo menos meio milhão de exemplares, ascendendo o total acumulada das suas vendas a 360 milhões de discos.

Em Wonderful Wonderful os arranjos são quase todos de Percy Faith e o repertório e a abordagem são ainda vagamente jazzísticos, característica que iria perder-se em discos subsequentes.

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5. Frank Sinatra

Ano: c.1954-55

A Colgate Comedy Hour foi um espectáculo televisivo patrocinado pela Colgate-Palmolive que esteve no ar entre 1950 e 1955, na NBC. Começou, como o nome indica, por ter natureza cómica, mas a partir de 1954 passou a dar ênfase aos números musicais. É da Colgate Comedy Hour que provém esta versão de Sinatra para “All Through the Night”, canção que não faz parte da extensa discografia do cantor.

6. Illinois Jacquet

Ano: 1964
Álbum: Bosses of the Ballad: Illinois Jacquet and Strings Play Cole Porter (Argo)

O saxofonista tenor Illinois Jacquet (1922-2004). que se estreara a gravar como líder com Illinois Jacquet Collates, em 1951, apresenta aqui um álbum preenchido com composições de Porter e em que o saxofone é acolchoado por uma orquestra de cordas de 19 elementos, com arranjos de Tom McIntosh e Benny Golson.

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7. Paul Desmond

Ano: 1964
Álbum: Glad to Be Unhappy (RCA Victor)

O contrato que, pela sua filiação no quarteto do pianista Dave Brubeck, vinculava o saxofonista alto Paul Desmond (1924-1977) à Columbia impedia-o de gravar para outras editoras discos que recorressem a piano. Desmond não se atrapalhou com a interdição e encontrou no guitarrista Jim Hall uma elegante alternativa ao piano, tendo, entre 1961 e 1964, gravado com ele uma memorável série de álbuns para a RCA Victor, entre os quais está este Glad to Be Unhappy, com Eugene Wright (contrabaixo) e Connie Kay (bateria).

“All Through the Night” tem um saxofone de veludo e uma secção rítmica leve como gaze.

8. Julie London

Ano: 1965
Álbum: All Through the Night: Julie London Sings the Choicest of Cole Porter (Liberty)

Num álbum com programa preenchido com canções de Porter, a cantora Julie London é acompanhada pelo quinteto do saxofonista Bud Shank, com Russ Freeman (piano e arranjos), Joe Pass (guitarra), Monty Budwig (contrabaixo) e Colin Bailey (bateria). A canção que dá título ao álbum tem uma atmosfera after-hours e prima pela suavidade.

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9. Dave Brubeck

Ano: 1966
Álbum: Anything Goes!: The Dave Brubeck Quartet Plays Cole Porter (Columbia)

Dois anos depois de Paul Desmond ter visitado “All Through the Night” a solo, gravou-a integrado no quarteto de Brubeck, num álbum 100% Cole Porter. Os outros músicos do quarteto são os habituais Gene Wright (contrabaixo) e Joe Morello (bateria).

10. Kenny Clarke/Francy Boland Big Band

Ano: 1969
Álbum: More Smiles (MPS)

Em 1961, o baterista Kenny Clarke, um dos membros mais proeminentes da comunidade de jazzmen americanos que fixara residência em Paris, aliou-se ao pianista belga Francy Bolland e formou aquela que se tornaria na mais importante big band fora dos EUA durante a década de 1960. O álbum de estreia, com o título-manifesto Jazz Is Universal, surgiu em 1962 e More Smiles faz parte da generosa safra de1968-69, que deu origem a uma dezena de álbuns. Tem a particularidade de incluir, entre as suas nove faixas, três composições de Cole Porter.

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