As canções dos Animal Collective e as filmagens subaquáticas dos Coral Morphologic confluem em Tangerine Reef, um álbum audiovisual com preocupações ambientalistas. Falámos com Brian Weitz, ou Geologist, sobre o novo disco.
O novo álbum da cantora britânica Anna Calvi, Hunter, é uma boa surpresa. O registo é assumidamente queer e aborda abertamente questões que, até agora, se encontravam apenas nas entrelinhas do seu trabalho, ou melhor, de algumas canções. É natural, por isso, que a nossa conversa sobre o disco e o concerto de sábado, no Capitólio, tenha sido dominada por essas questões de género. Tal como, segundo palavras da própria, “foi natural” que as mesmas questões dominassem o disco.
O teu anterior álbum, One Breath, saiu há cinco anos. Porque demoraste tanto tempo a gravar o seu sucessor?
Desta vez quis fazer o disco com mais calma. Quis garantir que podia dar a cara por ele e sentir-me orgulhosa do que fiz, e por isso não isso não quis apressar o processo. Fazer a melhor música possível foi mais importante do que despachar-me a lançar um disco.
Já estavas a trabalhar nisto há três anos, quando disseste que não querias mostrar as canções que estavas a fazer ninguém porque tinhas medo de que as ideias dos outros afectassem a tua opinião. Como é que elas mudaram – se é que o fizeram – depois de as mostrares ao teu produtor e à banda?
Sou muito solitária quando trabalho. Depois, quando toco com a banda, as faixas ganham uma nova vida. Mudam de maneiras que eu não estava à espera, e é por isso que é tão entusiasmante tocar com outros músicos. Mas, como tinha maquetes muito detalhadas, o coração da canção manteve-se o mesmo.
Nessa entrevista de há três anos também se lia a dada altura que tu querias muito “discutir questões de género”, mas admitias que era algo em que não tinhas pensado durante muito tempo. O que mudou?
Tive fases na minha vida em que pensei mais ou ligeiramente menos sobre estes assuntos. Porém, sempre senti que a música me permitia ir além do género. Sempre senti uma presença muito masculina na minha música. Quis explorar essas questões.
A subversão dos papéis de género normativos é um tema transversal ao Hunter. Concordas?
Sim. O disco é sobre não teres de ser definido pelo teu género, e não teres de seguir um código restritivo que limita quem podes ser. Estou farta de ver as mulheres a serem caçadas, nos media e na nossa cultura, e por isso quis contar uma história de uma mulher que é a caçadora. Que olha para o mundo como algo que lhe pertence, sem vergonha.
Sempre senti que a música é a melhor maneira de expressar o que sinto em relação a isto. Até porque no meu dia-a-dia é difícil sentir-me tão livre como me sinto quando estou a tocar. Porém, posso dizer-te que estou rodeada por pessoas que me apoiam e vou tentando viver de uma forma que seja verdadeira e honesta em relação a quem sou.
Outra frase tua que me deu que pensar quando a li foi esta: “O rock’n’roll não está acabado – os rockers masculinos é que estão.” Acreditas mesmo nisso? A meu ver o rock continua a ser um meio dominado quase exclusivamente por homens.
Mas muita da música de guitarras mais interessante do momento é feita por mulheres. Ao longo dos séculos, a arte ocidental tem privilegiado uma perspectiva em detrimento de todas as outras, de todos nós, e acho que é altura de ouvirmos e prestarmos atenção a outros discursos.