“É mesmo importante falar do B. Referir o B Fachada”, atira Lourenço Crespo. Estamos na Tasca dos Canários, no Bairro Alto, já com o gravador desligado, mas para Lourenço – Nacho, para os amigos – o mais importante é sublinhar a importância e influência de B Fachada sobre uma geração de músicos.
As canções dos Animal Collective e as filmagens subaquáticas dos Coral Morphologic confluem em Tangerine Reef, um álbum audiovisual com preocupações ambientalistas. Falámos com Brian Weitz, ou Geologist, sobre o novo disco, a ausência temporária de Panda Bear, a política (anti)ambiental do actual governo americano. E recifes de coral.
O Tangerine Reef é o vosso primeiro álbum longo sem o Panda Bear. Porque é que ele ficou de fora?
Originalmente, isto ia ser só um concerto, depois é que evoluiu para um disco. E não fazia sentido ele estar a vir para os Estados Unidos só por um concerto. Quando os Animal Collective estão parados, entre as digressões e as sessões de estúdio, o Noah passa o máximo tempo possível em casa com a família, em Lisboa, e também é quando trabalha nos discos a solo de Panda Bear. Acho que quando começámos a compor estas canções ele estava a fazer o disco dele, A Day With The Homies.
A formação dos Animal Collective está sempre a mudar. A base são vocês os quatro, mas nem todos tocam em todos os discos. Quais são as vantagens de trabalhar assim?
Remove a pressão. É raríssimo que quatro amigos estejam em sintonia, e de acordo em relação ao que querem fazer, ao longo de 20 anos. E a flexibilidade dos alinhamentos evita que haja ressentimentos quando alguém não quer fazer isto ou aquilo. Tenho a certeza de que muitas bandas se separam porque alguém precisa de uma pausa ou quer fazer outra coisa durante uns tempos. No caso dos Animal Collective essa pessoa simplesmente tira um tempo e deixa os outros a trabalharem se quiserem e no que quiserem. Se bem que isso agora não é tão habitual como quando éramos adolescentes, porque vivemos disto. No entanto, queremos que a banda continue a ser, tanto quanto possível, uma extensão da nossa amizade e da vontade de fazermos música juntos. Como quando éramos novos.
Dedicaram o Tangerine Reef ao Ano Internacional dos Recifes de Coral. Porquê?
Achámos que era capaz de ser uma boa maneira de chamar a atenção para os problemas que os recifes de coral enfrentam e os esforços que estão a ser feitos para os salvar. Não estamos directamente envolvidos na campanha, mas esperamos que, graças à dedicatória e ao Tangerine Reef, os nossos ouvintes se informem sobre esta iniciativa.
Actualmente os Estados Unidos têm um governo anticiência e antiambientalista como não se via há décadas. Acham que discos e iniciativas destas são mais importantes agora?
As coisas aqui também estavam muito mal no final da década de 60 e inícios de 70, antes da criação da EPA [Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos] e de algumas leis que protegem o meio ambiente. Mas eu não era vivo na altura, por isso não posso comparar com o que se está a passar agora. Sabes que eu discordo deste governo em quase tudo, e não apenas em relação à política ambiental, mas pelo menos hoje há leis e precedentes jurídicos que os impedem de fazer o que querem. Não havia nada disso nos anos 60, quando a Rachel Carson estava a escrever o Primavera Silenciosa, por isso talvez esse tipo de manifestações artísticas fossem mais importantes dantes. Ainda assim, é importante mantermos-nos vigilantes e engajados.
O Tangerine Reef é um disco estranho, arrastado e melancólico. Qual era o vosso estado de espírito durante as gravações?
A ideia inicial era fazer um disco de música ambiental, talvez completamente instrumental, mas não tínhamos nada fechado. A música foi respondendo às filmagens dos corais, que são quase alienígenas para nós, pelos Coral Morphologic. Acho que isso contribuiu para essa estranheza de que falas. E, de uma maneira geral, a música que lida com temas aquáticos parece sempre arrastada e triste. Se calhar tem a ver com a forma como os nossos cérebros se relacionam com o mar.
E vão tocar estas canções ao vivo?
Já as tocámos duas vezes e queremos tocar mais, mas sabemos que isto não faria sentido em muitas das salas onde normalmente vamos. Até porque queremos garantir que as pessoas percebem que isto é uma experiência específica, com o vídeo e tudo o mais, e não apenas um concerto em que chegamos e tocamos outras canções do repertório. Por isso estamos a tentar explorar as oportunidades que fazem mais sentido.