Época e local: Seattle, estado de Washington, EUA, finais dos anos 80 até meados dos anos 90
Origem do nome: “Grunge” significa “sujidade, imundície, sebentice”. Consta que foi Mark Arm, que viria a ser vocalista dos Green River e dos Mudhoney, o primeiro a empregar a palavra em contexto musical, em 1981, quando dava os primeiros passos na cena rock de Seattle. O termo colou-se aos Green River e outras bandas afins activas em Seattle no final dos anos 80, mas manteve-se em circulação local durante anos, até o sucesso de Nevermind, dos Nirvana, lhe ter dado curso planetário. O termo tem, à primeira vista, um cunho depreciativo, mas como as bandas de grunge pioneiras se afirmavam em contraposição ao rock polido e tecnicamente imaculado, à música fabricada em série, aos valores burgueses e à sociedade de consumo e comungavam do espírito punk, não é de estranhar a identificação com uma palavra evocativa de desleixo, desordem e desalinhamento. Isto não quer dizer que todas as bandas catalogadas como grunge aceitassem tal designação: por um lado porque, na verdade, o termo é vago e acabou por ser aplicado a bandas com sonoridades muito diversas, por outro porque tendo muitas dessas bandas um posicionamento anti-sistema tenderiam, quanto mais não fosse por pirraça, a rejeitar o rótulo empregue pelos media do sistema para os arrolar colectivamente.
Como é usual no mundo do pop-rock o termo inglês acabou por impor-se a nível global e em Portugal não foi excepção, embora seja legítimo pensar que se as luminárias da Academia das Ciências de Lisboa, acaso estivessem atentos à cultura juvenil, poderiam ter sugerido “bedum” como equivalente português.
Código de vestuário: Embora o grunge tenha herdado algumas das atitudes do punk (o Do It Yourself, a oposição ao sistema), o código de vestuário é muito diferente: em vez da busca deliberada de bizarria e confrontação do punk, o grunge escolheu ser o mais banal e displicente possível, recorrendo a peças baratas, surradas e amarrotadas (o recurso a items comprados em lojas de segunda mão é incentivado), combinadas a esmo, com absoluto desprezo por critérios cromáticos.
A floresta é uma das bases da actividade económica no estado de Washington, o que explica a presença de elementos do guarda-roupa dos lenhadores, com particular destaque para as camisas de flanela aos quadrados. Como a costa de região dos EUA conhecida como Pacífico Noroeste beneficia de um clima sob pronunciada influência marítima, com Verão ameno e húmido, os calções (largueirões) são populares (mesmo que possam parecer incongruentes quando combinados com camisas grossas de flanela e espessas sweatshirts de lenhador) e as calças de ganga devem ser ventiladas através de numerosos rasgões. Mesmo quando o calor aperta, as camisas de flanela continuam a ser imprescindíveis: atam-se à cintura e fazem a vez de kilts. As T-shirts devem ostentar os nomes de bandas ignotas, slogans anti-sistema ou frases desconcertantes e irreverentes que denunciem o absurdo das convenções sociais e da existência e podem ser vestidas umas sobre as outras (três ou quatro é perfeitamente aceitável). Nos pés, botas de lenhador e Doc Martens, que, para reforçar o aspecto de desmazelo, podem ter os atacadores soltos. Toda a roupa deverá ter vários números a mais (é normal que as camisas de flanela desçam até meio da coxa).
O que é irónico é que o tão detestado sistema conseguiu – como sempre – aproveitar-se da rebeldia do grunge: as marcas de luxo Marc Jacobs, Calvin Klein, Armani, Dolce & Gabbana e Versace não tardaram a promover o grunge chic, com réplicas em materiais requintados e dispendiosos das peças compradas por dois chavos nas lojas de segunda mão de Seattle, e o mundo da moda viu surgirem calças de ganga cientificamente surradas e artisticamente rasgadas. Hoje, a tendência grunge chic não esmoreceu completamente, mesmo que já não use um rótulo associado a um género musical fora de voga, e há poucos meses a Nordstrom pôs à venda uns jeans pré-enlameados (fabricados em Portugal) por 425 dólares, para quem não tenha tempo nem disposição para se sujar por si mesmo. Resta saber que parte do preço corresponde ao algodão e que parte corresponde a imundície e se esta última é lama DOP portuguesa ou vem do Pacífico Noroeste.
Cabelo: comprido, desgrenhado e pouco limpo. Os cabelos compridos, associados ao head banging violento, ajudam à dinâmica de palco das bandas e reforçam visualmente a energia da música. Nas partes calmas, o cabelo ajuda, como no shoegaze, a evitar contacto visual com o púbico, pois os rapazes do grunge, mesmo quando exuberantes em palco, são, lá no fundo, sensíveis e ensimesmados. São aceitáveis bonés de baseball desbotados e esfiapados e gorros de lenhador, que deverão ser descartados logo que comece o head banging.