“Stolen Property”, de The Triffids
A canção abre numa atmosfera desolada (logo no início, o baixo e os teclados lúgubres fazem lembrar Joy Division) e os primeiros versos dizem-nos que “Está alguém lá fora à chuva, como se não tivesse lugar para onde ir/ Talvez esse alguém sejas tu” (nesta canção, o “tu” é o próprio narrador falando consigo mesmo). A marcha fúnebre vai, lentamente, ganhando uma imponência épica, puxada pela voz de David McComb, que tenta enfrentar a dura realidade da perda e da solidão: “Deixa-a fugir/ Deixa-a ir/ Deixa-a fugir/ Ela já não pode magoar-te, já não pode magoar-te/ [...] Estendes o braço na escuridão e ela não está lá/ Estendes o braço – a escuridão adensa-se – e ela não está lá/ Ela já não pertence a este lugar, aprende-o da maneira mais dura/ Ela já não pertence a este lugar/Tropeças, por vezes cais/ Volta a erguer-te! Enfrenta a luz!”.
“Stolen Property” prova (se isso fosse preciso) que a pop pode ser tão intensa, sofisticada e arrepiante como um Lied de Schubert ou uma ária de Puccini. Vale a pena ouvir o resto de Born Sandy Devotional (1986), o segundo álbum dos australianos The Triffids, pois tem lá dentro mais três ou quatro obras-primas em carne viva.