“Kissability”, dos Sonic Youth
Ano: 1988
A fama de terroristas sónicos que os nova-iorquinos Sonic Youth tinham na década de 1980 faz por vezes esquecer que por trás das suas guitarras adstringentes e fúria rock’n’roll não estava uma banal banda de garagem imbuída de nihilismo e espírito de rebelião juvenil. O quarteto era “well-read” e tinha aguda consciência social e política, como atesta o seu quinto álbum, Daydream Nation. Além de uma capa com uma pintura de Gerhard Richter e de letras com alusões a romances de William Gibson e James Ellroy e a um filme de Andy Warhol, Daydream Nation contém “Kissability”, cantada pela baixista Kim Gordon, mas a partir de uma perspectiva masculina: “Olha-me nos olhos, não confias em mim?/ És tão macia, dás-me tesão/ Vou pôr-te num filme, não queres?/ Podes tornar-te numa estrela, podes ir longe”. Toda a gente sabia como funcionavam as coisas em Hollywood e, todavia, seria preciso esperar quase 30 anos após esta canção para que Harvey Weinstein fosse denunciado.