Destroyer
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Destroyer: “Quanto mais velho fico, mais isolado me sinto”

Os Destroyer acabam de editar um novo disco, "Have We Met". Falámos com o cantor e compositor Dan Bejar

Luís Filipe Rodrigues
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Dan Bejar é um dos autores mais idiossincráticos da cena indie. Ao longo dos últimos 25 anos, o canadiano lançou mais de uma dezena de álbuns enquanto Destroyer, além de ter escrito algumas das melhores canções de bandas como The New Pornographers ou Swan Lake, com quem tocou em tempos. E se as suas letras são facilmente reconhecíveis, a sua música é camaleónica, parecendo mudar de disco para disco.

Mesmo assim, o novo opus de Destroyer tem pontos de contacto com o que está para trás. O som quase atmosférico dos sintetizadores e as linhas de guitarra angulares lembram o magnífico Kaputt (2011) – “o Nicolas Bragg tem uma maneira de tocar muito característica”, sugere o cantor. Porém, enquanto o disco de 2011 foi tocado por quase dez músicos, desta feita Dan Bejar trabalhou apenas com o produtor e instrumentista John Collins, que o acompanha desde a década de 90, e com o guitarrista Nicolas Bragg.

As canções soam intimistas e têm uma qualidade quase artesanal que lembra Your Blues, o álbum de 2004 que por sua vez remetia para os primórdios do projecto, quando era só uma pessoa a fazer tudo. “Essa comparação faz sentido”, concorda o autor. “O Your Blues é talvez o disco mais próximo deste. Apesar de o som ser diferente, o método de trabalho foi parecido. Também o gravei apenas com o John e mais uma pessoa, o David Carswell.”

Ao vivo, no entanto, os novos temas serão interpretados por uma banda completa, pelos mesmos sete ou oito músicos que andam em digressão com o cantor e compositor há cerca de dez anos. “Não vai ser fácil traduzir esta música para o palco, mas não estou muito preocupado”, diz. “Os Destroyer em palco e em disco são duas entidades distintas, com motivações muito diferentes, e vivo bem com isso. Não me importa que as pessoas vão ao concerto e oiçam uma canção muito diferente daquilo que está no disco”.

O que não vai mudar, o que nunca muda, são as letras, inconfundíveis e típicas de Dan Bejar. Há temas e imagens transversais à obra do canadiano que se repetem em Have We Met: os rios e os mares que canta, as mulheres e os artistas que observa, os anos e os lugares onde situa os poemas, as referências e frases roubadas a inúmeras canções (dele e de outros músicos). Tudo isto, segundo ele, são “pequenos truques”, maneiras de “ancorar na realidade letras imagísticas e quase surreais”.

Outra coisa que se repete de disco para disco são as alusões apocalípticas. “É algo que se tem tornado ainda mais prevalente na minha música nos últimos dez anos”, considera. “Quanto mais velho fico mais me sinto isolado do mundo, mais tenho tendência para me esconder. É uma reacção natural, dado o estado das coisas. E não devo ser o único a sentir-me assim, porque as representações de um mundo à beira do abismo são cada vez mais populares na nossa cultura.”

No meio disto tudo, uma das coisas mais singulares do novo Have We Met é o grão e a intensidade da voz. “Foi a primeira coisa que gravei, curvado sobre o computador, na mesa da cozinha, quando já estava toda a gente em minha casa a dormir”, recorda Dan Bejar. “Não era suposto o mundo ter ouvido essas gravações, eram só para o produtor ter uma ideia de como eram as canções. Mas, com o tempo, começámos a afeiçoar-nos àquelas prestações vocais. Têm uma urgência que não dá para replicar em estúdio.” E não tentaram replicá-las.

Crítica: Destroyer

"Have We Met" (Dead Oceans/ Popstock)

★★★★☆

Os melhores discos de Destroyer nascem de uma ideia que Dan Bejar desenvolve até se tornar irreconhecível. Em Have We Met o ponto de partida aparentemente foi a música que Björk e os Massive Attack fizeram na primeira metade dos anos 90, no entanto não é isso que se ouve neste disco. De todo. O resultado final está mais próximo de uma síntese entre o AOR sumptuoso de Kaputt e a pop-rock raquítica, ainda que teatral, do álbum Your Blues.

O canto desleixado do canadiano é, como sempre, o principal elemento e a âncora destas canções, que têm tanto de grandiosas como de minimalistas. Todavia, há muito tempo que ele não soava tão livre e despreocupado. E depois de três álbuns em que assumiu com gosto o papel de líder de uma banda, no novo disco volta a aproximar-se do cantor e poeta desbragado que era dantes. É a sua voz que nos guia por entre uma névoa de sintetizadores, caixas de ritmos e guitarras angulosas, como ele faz questão de deixar claro – e não apenas subentendido – na engenhosa e meta-referencial “Cue Synthetizer”. E quando as canções são tão bem escritas como essa, como “Crimson Tide”, como “It Just Doesn’t Happen”, como “University Hill” ou qualquer outra no disco, é um prazer deixarmo-nos levar.

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