“Unknown Pleasures”, Joy Division
Se há músicos que despertam vocações pelo impulso de ascender a um patamar similar de mestria e refinamento, outros, como os Sex Pistols, incentivavam os miúdos que os viam a formar bandas porque pensavam “eh pá, disto também eu sou capaz!”. E foi assim que um concerto dos Sex Pistols em Manchester, em Julho de 1976, deixou no seu rasto várias bandas de garagem, entre as quais estava o embrião da Joy Division. Nos seus primeiros tempos, ainda sob o nome de Warsaw, praticavam uma declinação espartana do punk, mas foram aprendendo a tirar partido da voz solene e lúgubre de Ian Curtis, da guitarra minimal de Bernard Sumner, das linhas de baixo proeminentes de Peter Hook e da bateria robótica de Stephen Morris. Mas seria preciso que o som da banda, ainda muito inexperiente, fosse moldado pelo produtor Martin Hannett para a Joy Division revelar todo o seu potencial: a produção sofisticada, atmosférica e atenta aos detalhes de Hannett em Unknown Pleasures, o primeiro álbum do grupo, contrastava com a crueza típica do punk e o mesmo se passava com a elegância sóbria da capa concebida por Peter Saville.
Estes ingredientes foram incapazes de atrair muitos compradores numa época dominada pela estroinice e desleixo típicos do punk e Unknown Pleasures passou despercebido, só entrando nos tops de vendas quando o suicídio de Ian Curtis, no ano seguinte, conferiu ao grupo uma aura trágica. O reconhecimento poderá ter sido tardio, mas não impediu que Unknown Pleasures se tornasse num dos mais influentes álbuns da história.
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