“Hor Che’l Ciel e la Terra”, de Monteverdi
Ano: 1638
Claudio Monteverdi (1567-1643) tinha 71 anos – uma idade provecta, para o século XVII – quando, em 1638 publicou em Veneza o seu VIII e derradeiro lívro de madrigais (após a sua morte, um editor reuniria alguns inéditos dispersos num Livro IX). O Livro VIII reúne obras compostas num período alargado e divide-se entre “madrigais guerreiros” e “madrigais amorosos”, uma dicotomia replicada dentro do madrigal “Hor Che’l Ciel e la Terra”, também ele dividido entre os sentimentos “amorosos” e “guerreiros”, e que é não só uma das peças mais preciosas do VIII Livro como de toda a História da Música.
Monteverdi recorreu a um soneto de Petrarca, que, embora falecido mais de dois séculos e meio antes, ainda continuava a ser um dos poetas favoritos dos compositores italianos, e a música de Monteverdi molda-se a ele na perfeição. A placidez domina a primeira estrofe, que traça o retrato de uma noite em que todo o movimento e fragor do mundo se suspendem: “Agora que o céu e a terra e o vento se aquietam/ E o sono as aves e as feras doma/ E a noite faz girar o seu carro estrelado/ E no seu leito o mar sem ondas jaz”.
Esta placidez contrasta com a agitação da segunda estrofe: “Velo, penso, ardo e choro, e aquela que me aniquila/ Está sempre perante mim, para minha doce pena/ Guerra é o meu estado, pleno de ira e dor/ E só nela pensando encontro alguma paz”.
[Pela Capella Mediterranea, com as vozes de Céline Scheen, Mariana Flores, Fabián Schofrin, Jaime Caicompai, Andrés Silva, Matteo Bellotto]