1. La Dafne, de Marco da Gagliano
Ano: 1608
Metamorfose: Náiade em loureiro
Mito: Dafne era uma náiade, uma variedade de ninfa adstrita a fontes, riachos e outros pequenos cursos de água (portanto sem relação com o elenco de Baywatch, que é de água salgada). A sua beleza atraiu a atenção de Apolo, mas Dafne recusou os avanços do deus e pôs-se em fuga (uma situação recorrente nas Metamorfoses). Quando Apolo estava quase a alcançá-la, Dafne invocou o auxílio do seu pai, Ladon, um deus fluvial, que a converteu num loureiro. Apolo ficou desolado por ver Dafne escapar-se assim, mas acabou por conceder-lhe uma grande honra: as suas folhas seriam usadas para coroar os heróis.
Obra: Dafne foi o tema da primeira ópera de que há registo, composta por Jacopo Peri sobre libreto de Ottavio Rinuccini. A ópera estreou no Carnaval de 1598, no Palácio Corsi, em Florença, e o mecenas, Jacopo Corsi, que tinha também dotes musicais, compôs alguns dos números. Infelizmente a música perdeu-se, salvo alguns fragmentos, pelo que a primeira Dafne que chegou aos nossos dias foi a composta por Marco da Gagliano, sobre o mesmo libreto de Rinuccini, que estreou no palácio ducal de Mântua em Fevereiro de 1608. Foi planeada para abrilhantar as bodas de Francesco Gonzaga, príncipe de Mântua, com Margarida de Sabóia, mas a noiva demorou-se tanto no caminho que o espectáculo começou sem ela. Vale a pena notar que Francesco já tinha sido dedicatário, no ano anterior, de L’Orfeo, a primeira ópera de Monteverdi. Com a morte do pai, a 18 de Fevereiro de 1612, Francesco tornou-se duque de Mântua, mas pouco gozou o título, já que faleceu a 22 de Dezembro. As voltas e reviravoltas do destino fizeram com que, em 1635, a viúva (que era neta de Filipe II de Espanha) acabasse por vir parar a Lisboa, na qualidade de vice-rainha, por nomeação de Filipe IV de Espanha, seu primo. Ficou por cá conhecida como “Duquesa de Mântua”, uma vez que manteve o título que obtivera pelo casamento com Francesco Gonzaga.
[“Piangete, O Ninfe”, de La Dafne, ao vivo na Trinity Church de Nova Iorque, 2008, pelo ensemble Fuoco e Cenere (em instrumentos de época), dirigido por Jay Bernfeld, que gravou a ópera para a editora Arion, em 2007]