Johann Sebastian Bach
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Sete obras para conhecer a prole de Bach

O génio musical é hereditário? Na família Bach dir-se-ia que sim. Apresentamos os filhos de mestre Johann Sebastian

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Johannes Bach (c.1580-1626) foi o primeiro membro da família Bach a ser músico profissional (após um início de carreira como padeiro, que era também a profissão do pai) e marcou o início de quase século e meio de omnipresença dos Bach na vida musical na Turíngia. A maioria desempenhou cargos modestos e Johann Sebastian (1685-1750) foi o primeiro a alcançar uma fama que transcendia as fronteiras da Turíngia, tendo passado os últimos 27 anos de vida como Kantor em Leipzig, na Saxónia.

Dos seus 22 filhos, quatro abraçaram também a música, com Carl Philipp Emanuel (1714-1788) e Johann Christian (1735-1782) a conseguirem alcançar, na época, fama comparável à do pai, enquanto Johann Christoph Friedrich (1732-1795) e Wilhelm Friedemann (1710-84) tiveram carreiras mais discretas.

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Sete obras para conhecer a prole de Bach

1. Concerto para dois cravos F.46

Autor: Wilhelm Friedemann (1710-1784), o filho mais velho
Ano de composição: c.1733-46

Os filhos de Bach, sobretudo os mais velhos, tiveram o melhor professor de música e de instrumentos de tecla que possa imaginar-se – o pai – pelo que não é de estranhar que W.F. Bach e C.P.E. Bach tenham sido notáveis executantes e compositores de música para tecla.

Em 1733, com 23 anos, W.F. Bach foi nomeado organista na Sophienkirche, em Dresden, a capital da Saxónia, onde ficou até 1746, ano em que se mudou para posto similar em Halle. Deu-se mal aqui, algo a que poderá não ser estranho o “feitio difícil” que lhe é atribuído – alguns maledicentes até insinuaram, sem fundamento, que o músico era um alcoólico incapaz de manter um emprego. Após várias tentativas frustradas para obter outro posto, W.F. Bach acabou por despedir-se de Halle em 1764. Após ter vivido, entre 1771 e 1774, em Brunswick, sobrevivendo como professor de música, mudou-se para Berlim, onde o seu irmão C.P.E. Bach vivera até 1768. Na capital da Prússia, W.F. Bach terá estabelecido vínculos com a princesa Maria Amália, irmã de Frederico II e dotada organista, mas esta relação foi efémera e, sem o patrocínio da corte, foi forçado a voltar a dar aulas. Faleceu em Berlim em 1784, com 73 anos. O Concerto para dois cravos F.46 foi composto durante os anos de Dresden.

[Por Andreas Staier e Robert Hill (cravos) e Musica Antiqua Köln, com direcção de Reinhard Goebel (Archiv)]

2. Sonatas Prussianas Wq.48 (H.25)

Autor: Carl Philipp Emanuel (1714-1788), o 2.º filho mais velho
Ano de publicação: 1742

C.P.E Bach cedo se revelou um exímio cravista e foi nessa qualidade que, em 1738, mal terminou o curso de Direito na Universidade de Leipzig, entrou ao serviço do príncipe Frederico da Prússia, que viria a subir ao trono dois anos depois como Frederico II (ficando conhecido como Frederico, o Grande). C.P.E. Bach ficou na corte de Berlim até 1768, rumando depois para Hamburgo, onde tomou o lugar do seu falecido padrinho, Telemann.

A maior parte da obra de C.P.E. Bach foi consagrada ao cravo, para o qual compôs mais de meia centena de concertos e três centenas de peças a solo (metade das quais sonatas), e um influente tratado intitulado A Verdadeira Arte de Tocar Instrumentos de Tecla (Versuch Über die Wahre Art das Clavier zu Spielen), surgido em 1753. Algumas das peças para cravo solo foram compostas expressamente para músicos “amadores”; entre peças destinadas a “profissionais” distinguem-se as seis Sonatas Prussianas (1742) e as seis Sonatas de Württemberg (1744).

[I andamento (Vivace) da Sonata n.º 2 das Sonatas Prussianas, por Marie Nishiyama (OMF)]

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3. Magnificat Wq.215 (H.772)

Autor: Carl Philipp Emanuel
Ano de composição: 1749

O Magnificat Wq.215 foi composto em 1749, quando C.P.E. Bach estava em Berlim ao serviço de Frederico II da Prússia e é a sua primeira obra sacra e também a única que compôs nos seus anos berlinenses. Uma vez que as atribuições de C.P.E. Bach na corte de Frederico II tinham a ver com música de câmara, ignora-se para que fim terá sido composto este Magnificat – uma possibilidade é que fosse uma peça de candidatura ao posto de mestre de capela da princesa Amália, irmã de Frederico, outra é que visaria o posto de Kantor em Leipzig, uma vez que, por esta altura, o seu pai já estaria gravemente enfermo. A ser verídica a segunda hipótese, CPE Bach deve ter assumido que o concelho municipal de Leipzig pretenderia uma “evolução na continuidade”, pois o seu Magnificat segue de perto (até na tonalidade de ré maior) o de Johann Sebastian, mas apresenta uma textura menos contrapontística, mais consoante com o estilo então em voga.

[I andamento, pelo coro Accentus e pela Insula Orchestra, em instrumentos de época, com direcção de Laurence Equilbey, ao vivo na Philharmonie de Paris, 2015]

4. Concerto para cravo Wq.43/2 (H.472)

Autor: Carl Philipp Emanuel
Ano de publicação: 1772

C.P.E. Bach deixou-nos meia centena de concertos, a maioria deles para cravo ou instrumento similar. Destes, os 6 Concerti per il Cembalo Concertato que publicou em 1772 em Hamburgo, ganharam popularidade acrescida, por visarem também um público amador (embora o conceito de “amador” do século XVIII implique um nível de proficiência bem acima do entendimento que hoje temos da expressão).

[I andamento (Allegro molto-Andante), por Bob van Asperen (cravo e direcção) e Melante ’81, em instrumentos de época (EMI Reflexe reed. Erato/Warner)]

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5. Sonata para violoncelo

Autor: Johann Christoph Friedrich (1732-1795), 16.º filho de Bach e o 3.º dos músicos
Ano de publicação: 1770

Johann Christoph Friedrich recebeu aulas do pai e do seu primo Johann Elias. Aos 18 anos, pouco depois da morte do pai, foi nomeado cravista do conde Wilhelm de Schaumburg-Lippe, em Bückeburg, sendo, em 1759, promovido a director musical da corte. Passaria toda a sua vida na corte de Bückeburg, com excepção de uma viagem a Londres, em 1778, na companhia do “patrão”, para visitar o irmão Johann Christian. O seu filho Wilhelm Friedrich Ernst (1759-1845) seria mestre de capela de Frederico Guilherme II da Prússia e seria o único neto de Johann Sebastian a distinguir-se na música – foi também o derradeiro músico da dinastia Bach. A Sonata para violoncelo em lá maior foi publicada, com obras do seu irmão C.P.E. Bach, na colecção Musikalisches Vielerley, em 1770.

[I andamento (Larghetto), por Anner Bylsma (violoncelo) e Bob van Asperen (órgão), em instrumentos de época (Sony Vivarte)]

6. Ópera Zanaida

Autor: Johann Christian (1735-1782), o último filho de Bach
Ano de estreia: 1763

Johann Christian tinha 15 anos à data do falecimento do pai, pelo que a influência deste no seu estilo resultou muito esbatida (foi o irmão Carl Philipp quem tomou o lugar do pai na sua instrução musical) e a maioria das obras do benjamim dos Bach prefigura Mozart e o classicismo.

Em 1754, com 19 anos, Johann Christian viajou até Bolonha, onde foi aluno do Padre Martini e se converteu ao catolicismo. Ficou por Itália até 1762, altura em que visitou Londres para apresentar várias óperas suas e onde acabaria por se estabelecer. A ópera Zanaida, com libreto de Giovanni Gualberto, estreou em Londres.

[“Tortorella”, por Sara Hershkowitz (soprano) e o ensemble Opera Fuoco, em instrumentos de época, com direcção de David Stern, ao vivo na Cité de la Musique, Paris, 2011 (Zig Zag Territoires)]

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7. Sinfonia op.6 n.º 4

Autor: Johann Christian
Ano de composição: 1766

Johann Christian compôs uma trintena de sinfonias, uma vintena de sinfonias concertantes (um género que floresceu na transição do Barroco para o Classicismo) e uma trintena de concertos, onde avultam mais de duas dúzias de concertos para cravo.

As seis Sinfonias op.6 foram publicadas em Londres em 1770 e a n.º 4 é a mais concisa do lote.

[Pela Hanover Band, em instrumentos de época, com direcção de Anthony Halstead (CPO)]

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