Música, Compositor, George Gershwin (1937)
©Carl Van VechtenGeorge Gershwin (1937)
©Carl Van Vechten

Dez versões clássicas de “Let's Call the Whole Thing Off”

Como uma divergência na pronúncia de algumas palavras foi resolvida sem necessidade de um Acordo Fonológico

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A letra de “Let's Call the Whole Thing Off” dá conta de um romance que está a perder gás, devido a um crescendo de pequenas divergências entre os dois enamorados: “Sabe Deus como irá isto acabar/ Estou completamente desorientado/ Dir-se-ia que nós dois nunca seremos um/ Alguma coisa tem de ser feita”. Mas quando começa a enumeração dos desentendimentos, estes ficam-se pela pronúncia de algumas palavras (uma divergência que, claro, é intraduzível): “You say either and I say either/ You say neither and I say neither/ Either, either neither, neither/ [...] You like potato and I like potahto/ You like tomato and I like tomahto/ Potato, potahto, tomato, tomahto [...]”

A conclusão é que a vida assim é impossível, pelo que “o melhor é acabar com tudo” – mas, se isso acontecer, “teremos de separar-nos/ E se alguma vez nos separarmos, isso partirá o meu coração”. Haverá, pois, que pensar numa forma de reaproximação: “If you like pyjamas and I like pyjahmas,/ I'll wear pyjamas and give up pyjahmas”, pois “sabemos que precisamos um do outro/ E por isso é melhor acabar com isto/ O melhor é acabar com tudo”. E a conciliação estende-se a outras áreas: “You say Havana and I say Havahnah/ You eat banana and I eat banahnah/ Havana, Havahnah, banana, banahnah/ Let's call the whole thing off/ [...] If you say oysters and I say oysters/ I'll eat oysters and give up oysters”.

George & Ira Gershwin compuseram esta canção para o filme Shall We Dance, de 1937. A 9 de Julho de 1937, quando trabalhava nesta banda sonora, George Gershwin, que vinha a queixar-se há algum tempo de dores de cabeça e perda de coordenação motora, sofreu um colapso e foi levado para o hospital, onde lhe foi diagnosticado um tumor cerebral – faleceria dois dias depois.

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Dez versões clássicas de “Let's Call the Whole Thing Off”

1. Fred Astaire & Ginger Rogers

Ano: 1937

A canção foi estreada no grande ecrã por Fred Astaire e Ginger Rogers: o par vai alternando os versos da canção e depois lançam-se numa dança sobre patins que termina numa queda aparatosa.

[Excerto de Shall We Dance]

2. Joe Haymes

Ano: 1937

A primeira gravação foi realizada pela orquestra de Joe Haymes a 11 de Março de 1937, ainda antes da estreia do filme, que teve lugar a 7 de Maio.

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3. Marian McPartland

Ano: 1955
Álbum: Marian McPartland at the Hickory House (Capitol)

Quando, aos 17 anos, Marian McPartland (1918-2013) prestou provas de admissão na prestigiada Guildhall School of Music, em Londres, foi observado que possuía “um perigoso excesso de imaginação”. O sonho dos seus pais em ver Marian tornar-se numa pianista de concerto esfumou-se quando ela começou a mostrar forte inclinação pelo jazz, uma área em que o seu “perigoso excesso de imaginação” veio a revelar-se uma preciosa qualidade. A estreia de McPartland em nome próprio deu-se com Jazz at Storyville (1952) e Marian McPartland at the Hickory House foi o seu 7.º disco, contando com Bill Crow (contrabaixo) e Joe Morello (bateria), reforçados nalgumas faixas por Ruth Negri (harpa) e George Koutzen (violoncelo). O álbum é apresentado como sendo um “live”, mas trata-se na verdade de uma gravação de estúdio com aplausos adicionados, uma “falsificação” usual numa época em que a qualidade sonora dos registos ao vivo costumava deixar muito a desejar.

4. Buddy DeFranco

Ano: 1956
Álbum: Wailers (Norgran)

O clarinete foi um dos instrumentos mais proeminentes na Era do Swing, mas teve poucos cultores entre os beboppers. Um deles foi Buddy DeFranco (1923-2014), que se estreou em 1950 no septeto de Count Basie (que dissolvera temporariamente a sua big band) e gravou em nome próprio pela primeira vez em 1952. Quatro anos depois surgiu Wailers, com Harry “Sweets” Edison (trompete), Barney Kessel (guitarra), Jimmy Rowles (piano), Bob Stone (contrabaixo) e Bobby White (bateria).

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5. Ella Fitzgerald & Louis Armstrong

Ano: 1956
Álbum: Ella & Louis (Verve)

Fitzgerald e Armstrong já se tinham cruzado esporadicamente na década de 1940, mas as suas colaborações mais marcantes são os três discos gravados para a Verve em 1956-59, o primeiro dos quais foi este Ella & Louis.

Ella e Louis têm o apoio do quarteto do pianista Oscar Peterson, com Herb Ellis (guitarra), Ray Brown (contrabaixo) e Buddy Rich (bateria).

6. Billie Holiday

Ano: 1957
Álbum: Body and Soul (Verve)

Há quem ouça nos últimos álbuns de Billie Holiday a sombra de uma grande cantora de jazz debilitada pela toxicodependência e pelas desilusões amorosas. Mas se é verdade que, do ponto de vista estritamente técnico, a voz de Holiday já conhecera melhores dias, a sua expressividade estava mais apurada do que nunca e a superior qualidade das gravações tardias, aliada à excelência dos músicos recrutados para a acompanhar, reequilibram a balança. Em Body and Soul, a equipa contou com Harry Edison (trompete), Ben Webster (saxofone), Jimmy Rowles (piano), Barney Kessel (guitarra), Red Mitchell (contrabaixo) e Larry Bunker (bateria).

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7. Sarah Vaughan

Ano: 1957
Álbum: Sings George Gershwin (Verve)

É possível que a aclamação com que foram recebidos os Song Books de Cole Porter (1956) e Rodgers & Hart (1956) por Ella Fitzgerald tenha motivado Vaughan a fazer algo similar. O Song Book de Gershwin teve arranjos de Hal Mooney.

8. Oscar Peterson

Ano: 1959
Álbum: Oscar Peterson Plays the George Gershwin Song Book (Verve)

Oscar Peterson gravou dois álbuns em trio dedicados às composições de Goerge Gershwin: um em 1951, para a Mercury, com Barney Kessel (guitarra) e Ray Brown (contrabaixo); outro em 1959, para a Verve, com Ray Brown (contrabaixo) e Ed Thigpen (bateria). Este “Let’s Call the Whole Thing Off” faz parte do segundo.

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9. Ella Fitzgerald

Ano: 1959
Álbum: Ella Fitzgerald Sings the George & Ira Gershwin Song Book (Verve)

O Song Book dedicado a Gershwin foi o mais imponente da série gravada por Ella, contendo 59 canções, com arranjos de Nelson Riddle, distribuídas por cinco LPs.

10. George Shearing

Ano: 1960
Álbum: Latin Affair (Capitol)

Em 1960, o pianista George Shearing já tinha atrás de si dez anos a gravar como líder e uma vintena de álbuns. Latin Affair não foi um “caso amoroso” isolado com a música latina (sob a forma do tratamento “tropical” de standards): antes já registara Latin Escapade (1956) e Latin Lace (1958). Ainda que a formação seja identificada na capa do discos como “George Shearing Quintet”, as incursões latinas são feitas em sexteto, pela adição à equipa de Armando Peraza (congas); os outros elementos são o guitarrista Toots Thielemans (que se tornaria famoso como tocador de harmónica), o vibrafonista Warren Chiasson, o contrabaixista Carl Pruitt e o baterista Roy Haynes.

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